Publicado em 11/07/2017 às 13h20.

Caso Beatriz: inconformada, mãe envia carta ao Papa Francisco

Na missiva encaminhada a Jorge Mario Bergoglio, Maria Lúcia Mota relata o sentimento de “injustiça” e diz que o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora “omite informações”

Luís Filipe Veloso
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

 

A mãe da garota Beatriz Mota, morta com golpes de faca durante uma festa de formatura em Petrolina (PE), enviou uma carta ao Papa Francisco nesta segunda-feira (10) com um pedido de ajuda ao Pontífice.

Inconformada com a forma como o poder público conduz as apurações do homicídio da menina de 7 anos, Maria Lúcia Mota da Silva resolveu apelar para o comandante mundial da Igreja Católica.

O Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde ocorreu o crime no dia 10 de dezembro de 2015, pertence a uma rede de ensino de cultura Cristã administrada pelas freiras “Filhas de Maria”, a Salesiana de Escolas.

O pai da menina, residente em Juazeiro, no norte baiano, era professor da unidade e acompanhava a esposa e as filhas, no evento que acolheu mais de três mil pessoas. A cerimônia não contava com controle de acesso.

Na missiva encaminhada a Jorge Mario Bergoglio, a genitora relata o sentimento de “injustiça” e diz que o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora “omite informações”.

Os parentes da vítima e voluntários do coletivo “Somos todos Beatriz” descrevem com estranheza o fato de a polícia não ter detido o responsável por apagar as imagens das câmeras de monitoramento do educandário gravadas no dia da tragédia.

Em maio de 2016, o promotor Carlan Carlo da Silva chegou a cogitar motivação religiosa para a execução da criança, fato que foi rechaçado pelos familiares.

Foto: Divulgação/ Polícia Civil de Pernambuco
Foto: Divulgação/ Polícia Civil de Pernambuco

 

Outro aspecto que desperta a revolta da população local é a decisão do Ministério Público de Pernambuco, que optou manter em segredo de Justiça o inquérito que já passou pela gestão de três delegados.

Em linhas de investigações distintas, a polícia já divulgou dois retratos falados diferentes, mas, até agora, não encontrou suspeitos. No último, um homem que teria se passado por flanelinha e foi filmado por câmeras externas é o alvo.

Após 1 ano e 7 meses, com pedidos de intervenção da Polícia Federal no caso, protestos com solicitação de resolução do delito já foram realizados em toda a região, Recife e até em Brasília, durante uma audiência dos familiares com o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Leia a carta na íntegra:

Sua Santidade,
Papa Francisco,
Bispo de Roma e Pastor Supremo da Igreja,
Estado da Cidade do Vaticano
ROMA

Santo Padre,
Com profundo respeito, fé e esperança, entrego em vossas mãos esta carta que relata uma tragédia familiar e a dor de uma mãe em busca de justiça.
Todo povo brasileiro compartilha da preocupação de Vossa Santidade em se solidarizar com as mazelas sociais que afetam profundamente nossas famílias.
Quero compartilhar com Vossa Santidade um acontecimento que destruiu completamente minha família.
No dia 10 de dezembro de 2015, num evento festivo que acontecia numa escola católica administrada pelas freiras “Filhas de Maria” – o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora de Petrolina-Pernambuco, que pertence a Rede Salesiana de Escolas – a minha filha, Beatriz Angélica Mota F. da Silva (7), foi brutal e covardemente assassinada a facadas dentro daquelas dependências.
Esse crime ainda não foi solucionado. QUERO REASPOSTAS. PRECISO DE JUSTIÇA.
Santo Padre,
O Evangelho é a grande mensagem da Vida, plenamente revelada na pessoa e na palavra de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Eu deposito minha fé na crença de que DEUS AMA A JUSTIÇA.
Não consigo continuar vivendo esse sentimento de injustiça. As autoridades policiais não possuem estrutura para atender nosso clamor. A instituição (Escola Católica) NÃO nos ajuda, omite informações, e ainda age como se estivéssemos na idade das trevas. A administração dessa entidade se utiliza de subterfúgios procurando esconder importantes evidências, obstruindo as investigações e procurando descredenciar os trabalhos já realizados pelos investigadores do caso, mesmo porque, alguns de seus funcionários são os principais suspeitos na facilitação dessa atrocidade. E isso contradiz radicalmente o ideal evangélico apoiado pelas instituições religiosas de nosso país.
Existe uma mancha indelével na nossa sociedade e esse estranho comportamento dessa escola católica afasta as famílias do Vale do São Francisco da nossa Santa Igreja.
Papa Francisco,
Vossa venerável pessoa, na qualidade de Pastor Supremo da Igreja, sendo internacionalmente reconhecido como grande líder moral da humanidade exerce um papel profético capaz de atingir as consciências e intervir no auxílio ou mesmo no sentido de sensibilizar as autoridades policiais, Ministério Público e Governador do estado de Pernambuco, como também os administradores do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora de Petrolina a cooperarem com a elucidação desse hediondo crime. E principalmente dar publicidade às imagens do assassino recentemente reveladas pela Polícia Civil de Pernambuco.
Enquanto não forem esclarecidos todos os fatos e os seus reais culpados não forem punidos existirá uma dúvida em nossa comunidade de que algumas instituições católicas trabalham para esconder práticas condenáveis de alguns de seus membros.
Querido Irmão Maior, OUÇA O MEU CLAMOR e venha em meu socorro com sua palavra de ânimo e com seus gestos divinos, capazes de expressar o Evangelho como a grande Mensagem da Alegria, da Esperança, da solidariedade e da compaixão para com todos.
Maria Lúcia Mota da Silva, Mãe de Beatriz Angélica Mota F. da Silva.

Juazeiro, Bahia.
Brasil, 10 de Julho de 2017.

Com informações do blog Preto no Branco.

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