Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.
2016 acabou ontem, 2018 começa hoje. É a indústria das eleições
As urnas de 2016 indicam que os ventos sopram a favor da oposição. O detalhe é que até lá haverá pedras no caminho, no plano federal e na Bahia
Frase da vez
“Quem não luta pelos seus direitos não é digno deles”
Ruy Barbosa, político, jurista, diplomata e escritor (1849-1923)
Veja a campanha nos Estados Unidos: para o mundo, nós brasileiros inclusos, só aparecem como candidatos Hilary Clinton e Donald Trump, mas para a justiça eleitoral, mais de 1.700. Isso mesmo. São os chamados candidatos independentes. Cada um que tenha as condições de cidadania pode chegar lá e se registrar. O detalhe é que lá, cada um paga, não só a campanha, mas também os partidos. E quem não quer ter partido, fica com o direito de se candidatar.
No Brasil, o povo é quem paga tudo. A roubalheira que brotou da Lava Jato acabou o financiamento empresarial, do qual muitos, ao longo da história, tiraram fartos proveitos próprios. Em 2016, ficou só o Fundo Partidário, quase 900 milhões, dinheiro público. Que, aliás, é também quem financia a existência dos partidos.
Um partido que não tem um único vereador, nasceu hoje, já sai ganhando de chá de cozinha R$ 1,2 milhão por ano.
Óbvio, disputas eleitorais no Brasil viraram uma lucrativa indústria de risco zero. E por isso temos 35 partidos.
E tome-lhe eleições, de dois em dois anos, uma. Debates de políticas públicas? Quem está interessado nisso? O que se vê é um festival de agressões, um chamando o outro de ladrão. E pouco se dá de importância a quem leva a política a sério, política como instrumento de transformação.
Estamos longe disso. E é por isso que o desencanto coletivo com o ato de votar só cresce. A abstenção aumenta e as campanhas nessa direção também.
E 2018 como fica?
Amaré antipetista, que invadiu as urnas de 2016, foi confirmada ontem: dos 55 municípios em que houve segundo turno (incluindo 18 capitais), o partido disputou em cinco e perdeu todas.
Na Bahia, perdeu a cereja do bolo, Vitória da Conquista, que governava desde 1996.
Eis a questão. A Bahia tem Rui Costa, um governador bem avaliado, com ACM Neto, que se reelegeu de goleada, no calo: até que ponto 2016 vai influenciar 2018?
As urnas de 2016 indicam que os ventos sopram a favor da oposição. O detalhe é que até lá haverá pedras no caminho, no plano federal e na Bahia, as delações de Eduardo Cunha, Odebrecht e OAS que, se levadas a cabo, prometem sacudir o país.
Importa saber quem é quem no turbilhão que virá e até que ponto isso afetará (se é que) os atores da peleja baiana.
Derrota prevista
O deputado Zé Raimundo sabia que teria muita dificuldade de vencer este ano. Apontava como inimigo principal “a conjuntura”, que vem a ser a onda antipetista. E chegou a dizer a amigos:
— Se eu não fosse do PT, seria outra coisa.
Quase erro
Herzem Gusmão também sabia que as circunstâncias lhe eram favoráveis. E apostava numa vitória no primeiro turno. Quase deu, mas venceu no segundo, o que não conseguiu em 2012.
Violência só cresce
São assustadores os números divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública: 278.839 homicídios, de 2011 a 2015, mais mortos do que a guerra da Síria, iniciada em igual período. Na Bahia, 6.338 homicídios entre 2014 e 2015, um triste recorde nacional; destes, 207 latrocínios (matar para roubar).
A violência cresce a olho nu, deixando a sensação que a escola mais eficaz do Brasil é a do crime.
Mas mais assustador ainda é ver a postura oficial, a do governo: nem um sinalzinho, por mais discreto que seja, no sentido de enfrentamento da questão. Nem com Lula-Dilma e com Temer ainda pior, com o fim da educação física nos colégios e corte de gastos na educação. Ou seja, ao invés de avanço, recuo.
E nossos políticos? Nem tchum.
Em Monte Santo
Recém-eleito prefeito de Monte Santo, onde foi secretário por 35 anos, o deputado Edivan de Almeida, o Vando (PSC), diz que o grande desafio da sua administração será satisfazer o clamor maior de toda a coletividade: segurança. Os problemas vão de assaltos a aposentados a fazendas, na zona rural, na vastidão dos 4 mil Km quadrados do município, com os seus 49 povoados.
— Vou criar a Secretaria da Ordem Pública e uma Guarda Municipal, para tentar auxiliar o trabalho da polícia.
Mau exemplo
Mas, pelo visto,Vando vai ter que cortar na carne. Quinta última, o vereador Ernesto de Santana (SD), de Monte Santo, foi preso na rodovia Fernão Dia, em São Paulo, com um carro roubado.
Ou seja, tal e qual Brasília, quem devia ajudar também está acusado pela polícia.
Grávidas criminosas
No show que realizou sábado, no Teatro Rubi, Armandinho contou uma história de arrepiar. Ele tem um auxiliar chamado Zéu, que estava lá na labuta. De repente, disse:
— O Zéu foi assaltado hoje. E foi assaltado por dois casais, com o detalhe que ambas as mulheres estavam grávidas.
Intriga da oposição
Do senador Otto Alencar (PSD), ao ser indagado sobre o tititi de que ele pensa em disputar o governo baiano em 2018:
— Isso é coisa da oposição, para tentar criar cizânia na base governista. Eu nunca cogitei isso. Eu não sou louco e nem estou na fase infanto-juvenil da política.
Joia clandestina
Produtora de uma das carnes de sol mais festejadas do Brasil, Itororó vive uma situação sui generis. O matadouro foi fechado há quatro anos por falta de condições e, desde então, o município está sem nenhum. Pior, a produção continua, com o abate clandestino.
O deputado Rosemberg Pinto (PT), filho da terra, luta sem sucesso pela construção do novo matadouro, orçado em R$ 2 milhões:
— O matadouro sai, nem que para isso, eu tenha que fazer greve de fome.
Epigrama dos delatores
As prisões de Antônio Palloci e Eduardo Cunha, mais as delações da Odebrecht e da OAS, estão fazendo Brasília tiritar, perder o sono e se esborrachar de medo.
O medo é que eles contem tudo. O Planalto, inclusive, teme uma antiga maldição de Cunha: “Serei conhecido como o homem que derrubou dois presidentes”. Antônio Lins mandou o epigrama:
Do Congresso até a cela
A passagem é entediada,
Pra sair dessa esparrela
Só delação premiada.
Ecos da crise
Festejando, porque o PSD que ele preside na Bahia elegeu 80 prefeitos, o maior número entre todas as agremiações, o senador Otto Alencar diz que as mesmas urnas revelaram outro detalhe preocupante: o partido tinha 72 prefeitos dos quais 36 disputaram a reeleição e apenas nove se reelegeram.
— É o resultado da crise, da queda de arrecadação, muitos tiveram que demitir, não honraram compromissos ou não fizeram as obras que pretendiam.
Nada de Nilo
Candidato à reeleição pela terceira vez, Paulo Câmara (PSDB), presidente da Câmara de Salvador, diz que não há o menor risco dele se tornar uma versão municipal de Marcelo Nilo (PSL), que está no quinto mandato como presidente da Assembleia, caminhando para o sexto, como dizem alguns:
— Por um simples detalhe. O novo regimento proíbe a reeleição. Eu só postulo porque é uma nova legislatura.
Entre amigos
Mas os aliados de Leo Prates (DEM), o principal adversário dele até agora, dizem que justamente por ter acabado a reeleição, Câmara tem o dever moral de não postular novo mandato.
Curioso: Paulo e Léo são aliados de ACM Neto, que ouve os dois e fica calado. Em 2014, a refrega pela presidência da Câmara de Salvador resultou no rompimento do PTN.
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