Antonio Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.
2016: Navegar é preciso…
Pior do que reconhecer que o ano que findou foi uma fatia perdida na vida deste país é pressentir que, em 2016, sentiremos saudades de 2015
Com o fim de ano chegando, é normal termos a sensação de que podemos mudar o rumo de nossas vidas, de nossa história, pois a ideia de fatiar o tempo, dando a cada uma das fatias o nome de ano, como dizia Carlos Drummond de Andrade em um de seus poemas, é realmente muito boa. Cada fatia nova da vida nos dá a esperança de que tudo será diferente, será melhor é claro.
Nesse sentimento, naturalmente todo mundo espera paz, amor, saúde, dinheiro etc. Mas, a grande verdade é que ninguém tem que esperar coisa alguma do ano novo. O ano é só uma forma de contar o tempo, portanto não pode nos oferecer nada do que dele esperamos e, não raro, o que experimentamos é apenas mais um dia que passou, mais um mês que findou, mais uma fatia que acabou.
Infelizmente, com base nos cenários que hoje se desenham, 2016 não terá nada de novo, pois, já que não vivemos no mundo da propaganda governamental, vejo com preocupação as perspectivas para um país que, hoje, se notabiliza pelas crises na segurança pública, na economia, na saúde, na educação, etc., reflexo da maior epidemia de falta de ética e moral vivenciada em toda a história política nacional.
É evidente que uma crise ética de tal magnitude não foi gerada de um momento para o outro, mas é forçoso convir que se agravou ao ponto de, em 2015, as veias abertas da corrupção serem expostas de forma crua e nua pela força-tarefa que conduz a “Operação Lava Jato”, revelando sua organização, ramificações e o envolvimento das empreiteiras, em conluio de compadrio de políticos e governantes com membros importantes do poderoso establishment empresarial.
Queiramos ou não, apesar de ainda faltarem alguns dias para mudarmos o calendário abrindo as páginas para um novo ano, este ano já acabou. Em meio a tudo o que foi sofrido, frustrado e defraudado, nos campos político, econômico e social no nosso país, 2015 se despede melancolicamente sem transmitir nada para o ano novo, além de inflação, desemprego, a morte do Rio Doce, queimadas na Chapada Diamantina e nas florestas amazônicas, enchentes na região Sul e os problemas de governabilidade e governança que, via processo de impeachment, ameaçam o governo da presidente Dilma que, sem promover as necessárias medidas de redução de despesas e a gestão responsável dos recursos públicos, busca promover o ajuste fiscal pela via do aumento de impostos, apostando todas as suas fichas no Poder Judiciário que, com certeza, não deve ser visto como um árbitro externo e desinteressado do jogo.
No oceano da crise de governabilidade em que estamos mergulhados, não existem vislumbres claros de timoneiros confiáveis ou coordenadas marítimas precisas que orientem a travessia deste país para o porto seguro dos melhores dias, mas o fato é que, como dizia o poeta maior, Carlos Drummond de Andrade: “Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.” Nessa lógica, é preciso tentar animar-se, reerguer-se, preparar-se, pois, dentro de poucos dias ele estará aí… 2016, um ano a mais. E haveremos de vivê-lo.
Na realidade, navegar não é preciso, mas viver é preciso. Esperar não é fácil, mas, mais do que nunca, é preciso. Assim, já que nessa nossa travessia pelas águas turbulentas da “Operação Lava Jato”, a passagem pelo Cabo das Tormentas é inevitável, o desafio é esperar como passageiros de uma nau sem rumo navegando no mar da desesperança, pois pior do que reconhecer que o ano que findou foi uma fatia perdida na vida deste país, é pressentir que, em 2016, sentiremos saudades de 2015.
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