Publicado em 23/02/2024 às 07h55.

Carta de militares da ativa pressionava Exército a participar de golpe, diz PF

Nome de dois coronéis constam de metadados de documento apócrifo pró-Bolsonaro publicado em 2022

Redação
Foto: Marcos Corrêa/PR

 

A Polícia Federal identificou o nome de dois militares que teriam ajudado na redação de uma carta de oficiais da ativa que pressionava o comandante do Exército em 2022, general Marco Antônio Freire Gomes, a adotar postura radical diante de pedidos por golpe para manter Jair Bolsonaro (PL) na Presidência.

Reportagem da Folha de S. Paulo informa que a identificação desses militares foi feita a partir da análise de metadados do documento, que foi recebido pelo tenente-coronel Mauro Cid na noite de 28 de novembro de 2022 —véspera da publicação do texto.

O autor foi identificado pela Polícia Federal como o coronel Giovani Pasini. Alexandre Bitencourt teria sido o último a modificar o documento —os investigadores afirmam que trata-se do coronel Alexandre Castilho Bitencourt da Silva.

As informações estão no relatório da Polícia Federal que embasou os pedidos de prisão e buscas, em 8 de fevereiro, contra ex-ministros e militares suspeitos de tramarem um golpe de Estado para manter o ex-presidente no poder após a derrota para Lula (PT). Os documentos foram obtidos pela Folha.

Procurado pela Folha, Pasini não comentou sobre a autoria do manifesto. “Não quero falar sobre esse assunto”, disse antes de desligar o telefone.

Pasini é oficial de artilharia da turma formada na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em 1997. Colegas do coronel afirmam, sob reserva, que ele passou a se dedicar ao ensino da língua portuguesa e, aos poucos, foi deixando o rumo tradicional da artilharia para se tornar professor de colégios militares e autor de livros.

Em 2022, ele pediu licença do Exército para se candidatar a deputado estadual do Rio Grande do Sul pelo partido Patriota. Não foi eleito. De volta à Força, decidiu pedir para ir à reserva, ato concretizado em fevereiro de 2023, após a divulgação da carta.

Alexandre Bitencourt também é oficial formado em 1997, da arma de infantaria. Em fevereiro de 2023, ele chegou a ser condecorado com a medalha militar de ouro com passador de ouro —láurea entregue aos oficiais que completam 30 anos de bons serviços prestados.

O coronel morou no Chile durante cerca de seis meses em 2022, para fazer pós-graduação em condução de políticas estratégicas de defesa. De volta ao Brasil, foi realocado para função no Departamento-Geral de Pessoal.

A reportagem não conseguiu contato com Bitencourt. Em nota, o Exército disse que não poderia se manifestar sobre o assunto porque o inquérito está em “segredo de Justiça”. “Cabe ressaltar que as informações acerca do tema serão prestadas, quando solicitadas, às autoridades competentes”, completou.

Militares são proibidos por leis e regulamentos de se manifestar coletivamente, seja sobre atos de superiores ou em caráter reivindicatório ou político. À época da circulação da carta entre oficiais, o Alto Comando do Exército decidiu comunicar aos militares que haveria consequências àqueles que aderissem ao manifesto.

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