Publicado em 10/12/2016 às 08h39.

Delator aponta ‘pagamentos qualificados’ a Geddel, elo com Temer

Cláudio Melo Filho contou que, apesar de receber com frequência dinheiro da empreteira, o peemedebista sempre reclamava que ganhava pouco

Rodrigo Daniel Silva
Foto: Valter Campanato / Agência Brasil
Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

 

O ex-executivo de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, revelou, no acordo de delação premiada, ter conhecido duas figuras centrais da atual Presidência da República – o chefe da Casa Civil e o próprio presidente – por meio do ex-ministro chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB), cujo codinome nas listas de pagamentos extraoficiais era “Babel”.

“Não tinha, inicialmente, contato com Michel Temer, que só conheci em agosto de 2005, por meio do Geddel Vieira Lima, em um jantar de comemoração de aniversário de meu pai, que já estava com a saúde bastante debilitada. Somente conheci Eliseu Padilha, acredito, no final de 2005”, afirma no documento registrado no Ministério Público Federal.

Ele diz ter participado de 2006 a 2014 dos pagamentos feitos pela empreiteira às campanhas eleitorais do peemedebista baiano. Na campanha de 2006, segundo o delator, a pedido de Geddel “foram realizados pagamentos por meio de contribuições oficiais e também pagamentos não declarados via Caixa 2”, no total de R$ 1 milhão.

De acordo com a planilha da delação, Geddel recebeu via caixa 2, entre 12 de agosto de 2010 e 30 de março de 2010, um valor de R$ 2,5 milhões da Odebrecht. Na campanha daquele ano, recebeu ainda R$ 680 mil oficialmente. Já no pleito de 2014, quando disputou o Senado e perdeu, o peemedebista recebeu R$ 2,7 milhões.

Melo Filho afirmou que conversava com Geddel com “constância, seja para tratar de assuntos da empresa, seja para tratar de assuntos pessoais, pois criamos uma relação muito próxima”. Prova disto, disse o delator, é que “em 2014, eu fiz 117 ligações telefônicas diretamente a ele, desconsiderando as ligações recebidas”.

“A sua dedicação a nossos pleitos sempre era retribuído com pagamentos, especialmente em momentos de campanha eleitoral, mas não apenas nesse momento. A relação criada com Geddel não se resumia a apoios financeiros em períodos eleitorais. Era muito mais forte do que isso. Geddel recebia pagamentos qualificados em períodos eleitorais e em períodos não eleitorais”, ressaltou

O delator relatou que, apesar dos pagamentos frequentes, Geddel sempre dizia que a Odebrecht poderia ser mais “generosa” com ele. “Ele insistentemente alegava que nunca efetivamente demos a ele o que ele acreditava representar. Ele se comparava com outros políticos adversários do Estado, como Jaques Wagner e Paulo Souto, e reclamava por achar que estes recebiam pagamentos mais elevados do que ele”, pontuou.

O delator culpou Geddel pelo fato de a Odebrecht ter perdido a concorrência para o lote na transposição do Rio São Francisco. “Ele poderia ter nos dado mais atenção, pois chegamos a pedir uma reavaliação administrativa. Contudo, apesar de tê-lo avisado e pedido uma atenção especial para o tema, ele preferiu nada fazer”, reclamou.

Presentes – O delator conta que, no aniversário de 50 anos de Geddel, o ex-ministro foi presentado por Odebrecht com um relógio Patek-Philippe, modelo Calatrava. Segundo apurado na internet, o valor estimado hoje do modelo do relógio está em torno de US$ 25 mil. O ex-ministro nega todas as acusações.

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