Publicado em 09/05/2016 às 09h48.

Dilma vai deixar 3.556 obras na Bahia. E Temer, o que fará? Sabe Deus

A presidente, que é aliada do governador Rui Costa, sai de cena e entra Temer, amigo de Geddel

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“No Brasil, empresa privada é aquela que é controlada pelo governo, e empresa pública é aquela que ninguém controla”

Roberto Campos, economista, diplomata e político (1917-2001)

(Foto: Divulgação).

 

Dados do Ministério do Planejamento mostram que a era Dilma, condenada a acabar esta semana, vai deixar 3.556 obras na Bahia, entre as que estão no gatilho, paradas ou em andamento.

Grande parte é de obrinhas, como 1.185 Unidades Básicas de Saúde ou 1.011 quadras. De roldão, também vão 458 creches. Mas no bolo também estão as gigantes já paradas, como o Estaleiro Enseada do Paraguaçu, de R$ 2,2 bilhões, e a Ferrovia Oeste-Leste, custo inicial previsto de R$ 3,6 bilhões.

Entre as que estão engatilhadas, mas não saíram do papel, está o BRT de ACM Neto, pouco mais de R$ 800 milhões.

E das que estão em andamento, há as vias transversais em Salvador, que vão interligar as orlas do oceano Atlântico e da Baía de Todos os Santos, obras de R$ 1,22 bilhão, além do metrô de Salvador, uma PPP com a CCR, que está indo de vendo em popa.

Para os baianos, duas questões, uma política e uma administrativa.

A política: Dilma, que é aliada do governador Rui Costa, sai de cena e entra Temer, amigo de Geddel, que é aliado de ACM Neto. Vai haver retaliação política?

A administrativa: com Dilma ou com Temer, o país está em uma crise que joga toda a nação no mar de incertezas. O pouco que se pode fazer é escolhido a dedo. Como vai ficar, sabe Deus.

Fala João Leão

Diz João Leão, vice-governador e secretário do Planejamento do Estado, que, na semana passada, fez um périplo pela Europa.

Passou na França, Itália, Alemanha, Bélgica, Holanda e Portugal:

– A crise lá também é violenta. Em nenhum desses países há obras novas. Ou seja, é obra nova zero. E é lógico que a situação lá repercute cá. Sinceramente, não sabemos o que vai acontecer. Acho que o metrô vai continuar de vento em popa, porque fizemos uma boa PPP. No mais, o que posso garantir é que tudo farei junto ao meu partido, o PP, para os pleitos da Bahia.

Fala Geddel

Virtual ministro de Temer na Secretaria de Governo, um posto chave na hierarquia da República, Geddel descarta retaliação. Diz que os pleitos da Bahia serão observados com todo carinho, mas ressalva:

– Agora, primeiro temos que observar essas obras de perto, ver se elas têm ralos e também avaliar as condições do governo. Não sabemos como estão de fato as finanças públicas. Só sabemos que o cenário não é bom.

Foto: Ângelo Pontes/Agecom
(Foto: Ângelo Pontes/Agecom).

A hora do BRT

Enganado por Dilma, que prometeu liberar a autorização para a contratação de um empréstimo de R$ 500 milhões que asseguraria o BRT Lapa-Iguatemi, ACM Neto tem a expectativa de que, com Michel Temer, o jogo mude.

Até porque, embora o país esteja em crise, R$ 500 milhões é uma fortuna para os mortais comuns, mas para o governo não é tanto.

Os aliados de Neto dizem que a obra não saiu por retaliação.

Estradas paradas

A Associação Baiana de Empresas de Obras Rodoviárias (Abeor), entidade que congrega 41 construtoras no setor, diz que, desde o ano passado, R$ 2,8 bilhões deixaram de ser investidos na Bahia por causa dos cortes no Ministério dos transportes.

O presidente, Ronald Velame de Azevedo, diz que a crise é sem precedentes.

(Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado).

Efeito Maranhão

Waldir Maranhão (PP-MA), o vice-presidente da Câmara que assumiu no lugar de Eduardo Cunha, está causando furdunço no Planalto.

Na semana passada, ele avisava:

– Vocês vão se surpreender comigo.

E se surpreenderam mesmo. Com a anulação da sessão do impeachment, ele sobe ao topo, para o bem ou para o mal.

Rebu no Morro 1

Mais que em qualquer um dos 417 municípios baianos, a queda de Eduardo Cunha da presidência da Câmara ecoou mais em Morro do Chapéu, na Chapada Diamantina.

O xis da questão: a política lá se enroscou com a briga entre Eduardo Cunha e o deputado José Carlos Araújo (PR), presidente do Conselho de Ética da Câmara.

Na ponga do rebu federal, o prefeito Cleová Barreto (PSD) e o vereador João Humberto Batista (DEM), o Beto, presidente da Câmara, protocolaram na Câmara dos Deputados representação contra Araújo, inimigo deles, acusando-o de fazer uso político da rádio Brilhante FM, maior audiência da Chapada.

Rebu no Morro 2

Mais: os dois contaram a Cunha que, quando jovem, Zé Carlos foi envolvido em roubo de toca fitas.

Na recíproca, Zé Carlos disse que Cleová é denunciado à justiça por falcatruas e Beto, suspeito de crime de mando. Com a queda de Cunha, anteontem o site apócrifo Morro do Chapéu sem censura, pró-Zé Carlos, postou:

Aleluia, aleluia!… O gângster Eduardo Cunha caiu! Que Satã o receba no presídio mais cruel do Brasil, bandido nojento!

O jogo lá é pesado.

Made in Bahia

Alexandre Brust, presidente da Companhia Bahiana de Pesquisas Minerais (CBPM), diz que a célebre frase de Octávio Mangabeira, -‘pense num absurdo, a Bahia tem precedente’ – contaminou o Brasil.

Pontua dois fatos:

1 — Michel Temer foi declarado inelegível pelo TRE de São Paulo, mas está em vias de se tornar presidente da República.

2 — Suzane von Richthofen, condenada a 39 anos de prisão por ter participado do assassinato do pai e da mãe, em 2002, foi liberada para passar o Dia das Mães em casa.

Chorando os royalties

Os 33 municípios baianos que faturam com royalties de petróleo estão à beira de um ataque de nervos com a queda de receita.

Entre Rios, por exemplo, perde R$ 400 mil por mês. E o resultado tem efeito cascata: muitas casas comerciais e hotéis fechando.

(Foto: Facebook).

Isenção na praia

A vereadora Ana Rita Tavares (PM) apresentou indicação a ACM Neto pedindo isenção de abril a agosto para barraqueiros da orla de Salvador.

Francolino Dourado, o presidente da Associação dos Kits Praia da Orla de Salvador (Askiposal), é quem pede.

Ele diz que entre abril e agosto misturam-se o período chuvoso e o inverno e o movimento desaba.

A taxa de licenciamento dá, em média, R$ 231.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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