Publicado em 21/09/2018 às 14h55.

E as queixas contra o Ibope mudaram de lado. Antes era o PT, agora é Neto

Hoje, os aliados de Rui dizem simplesmente que ‘o problema é deles’

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“A dificuldade de toda discussão de relacionamento é que nenhum dos dois aceita o empate”

Fabrício Carpinejar, jornalista e poeta gaúch0 (1972)

Foto: assessoria/prefeitura de Salvador
Foto: assessoria/prefeitura de Salvador

 

A vida é mesmo cheia de ironias. Antigamente quem chiava de pesquisas do Ibope era Jaques Wagner e Rui Costa, agora é ACM Neto.

Surpreende porque a pesquisa foi encomendada pela TV Bahia, que é da família de Neto. E se assim o é, o contratante é insuspeito. Então fica na suspeição da oposição o próprio Ibope, com o seu largo histórico de desacertos na Bahia, do qual Neto também se diz vítima, em 2012.

Hoje, os aliados de Rui dizem simplesmente que ‘o problema é deles’.

Muito de menos

Raimundo Sobreira, ex-deputado e diretor do DNPM na Bahia, diz também ter estranhado muito a pesquisa do Ibope:

— Não discuto que Rui esteja bem posicionado, mas com Zé Ronaldo está muito de menos. 7%? Não é isso.

Mas o senador Otto Alencar (PSD), padrinho de Ângelo Coronel, um dos candidatos ao Senado na chapa de Rui, diz que queixas de pesquisas à parte, o fato é que as circunstâncias políticas são muito desfavoráveis a Zé Ronaldo por um conjunto de fatores.

— Primeiro, Ronaldo chegou atrasado na campanha, porque Neto desistiu em cima da hora. Depois, é pouco conhecido na maior parte da Bahia. Enquanto Rui está bem alinhado com uma candidatura federal. ele está mal resolvido. E por fim, não é um político carismático.

O fato objetivo é que pesquisas em sequência são indicadores mais seguros, e na Bahia não as teremos.

Fala Denivaldo Fernandes:

‘É possível manipular, sim’

Estatístico de formação, especialista em marketing político aplicado, também em estatística aplicada, Denivaldo Fernandes, hoje conselheiro do Conselho Regional de Estatística (da Bahia ao Rio Grande do Norte), diz que questionar pesquisas é uma coisa normal, inclusive de grandes institutos:

— Eu mesmo já questionei o Ibope três vezes.

E no que deu? Em nada. Denivaldo diz que em casos de identificação dos erros encaminhou para a Justiça, e o Ibope entrou no STF, lá por Brasília, e os casos morreram aí.

Denivaldo diz que a manipulação é possível, sim. Cita que no caso de uma auditagem, a primeira coisa a fazer é cruzar os dados do banco de dados com o formulário ou o tablet das entrevistas, para ver se os números conferem. Se sim, ainda há duas outras possibilidades de manipulação.

— Por exemplo, todo mundo sabe que Lula é mais forte no Nordeste e aumenta-se a carga de entrevistas nessa área. Ou também por segmento. Bolsonaro, por exemplo, sabe-se que ele enfrenta resistência das mulheres e entrevista-se mais mulheres. Isso pode ser intencional ou não.

A Bahia tem em média 10 institutos ativos, uns 50 informais (agências de publicidade, construtoras e afins) sem falar nos que só aparecem de 4 em 4 anos. Os pequenos, segundo Denivaldo, têm o mau hábito de copiar os desenhos das amostras dos grandes:

— E aí, se tem um erro lá, erra-se em efeito cascata.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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