Em entrevista, Lula diz que país ‘pariu coisa chamada Bolsonaro’
Petista recebeu a emissora TVT e os jornalistas Juca Kfouri José Trajano na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba
O ex-presidente Lula (PT) fez duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) em entrevista concedida à emissora TVT e aos jornalistas Juca Kfouri, blogueiro do UOL, e José Trajano.
A conversa ocorreu na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde ele está preso desde abril do ano passado.
Na ocasião, Lula disse que, como resultado de sua ausência nas duas últimas eleições, “o país pariu essa coisa chamada Bolsonaro”.
Ele também questionou o ataque a faca que vitimou o então candidato em Juiz de Fora (MG). Após o episódio, Bolsonaro esteve internado e se submeteu a duas cirurgias.
Medo e regulação da mídia
Parafraseando o escritor moçambicano Mia Couto, Lula disse que a sociedade, com medo, se aproximou do “monstro para pegar proteção” e elegeu o que classificou como “o pior dos coronéis”. Ele mencionou que o pesselista tem filhos no Senado, na Câmara de Deputados e na Câmara Municipal do Rio.
“Ele [Bolsonaro] conseguiu se vender para a sociedade enraivecida como antissistema. E a tendência é não dar certo”, disse, criticando a gestão de Bolsonaro,
Lula também diz que deseja voltar a ser presidente para “rever e refazer coisas que eu não tinha consciência de que era preciso fazer” e defendeu mais concorrência entre os meios de comunicação.
“Esse país não pode ter os meios dominados por nove famílias. É preciso regular. A última regulação é de 1962, quando não se tinha nem telefone celular.”
Mensagens de Moro vazadas
Sobre as publicações de conversas vazadas entre o ex-juiz federal Sergio Moro, agora ministro a Justiça, e o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Lula disse que trouxeram “a verdade à sociedade brasileira”, mas que não arriscaria dizer as consequências das revelações.
“Estou ficando feliz com o fato de que o país finalmente vai conhecer a verdade”, disse, ressaltando que sempre disse que “Moro é mentiroso” e estava “condenado a condená-lo” porque “a mentira tinha ido muito longe”. Disse ainda que o procurador Deltan deveria ter sido preso ao dizer que não tinha provas, mas tinha convicção. “Ele deveria ter sido preso ali.”
“Pode pegar a turma da força-tarefa, o Moro, enfiar num liquidificador, e quando for tomar o suco, não dá a honestidade do Lula”.
Lula disse que as apurações contra a corrupção devem continuar, e políticos e empresários corruptos têm de ser presos com base em mecanismos e leis que, segundo ele, foram criadas pelo PT. E voltou a dizer que não sujaria a mão por um apartamento que ele poderia comprar, se referindo ao caso do tríplex de Guarujá (SP), que o colocou na prisão em abril do ano passado.
“Já falei que vou casar”
A respeito de sua situação, preso pela Lava Jato, Lula disse não se considerar “ferrado”, mas sim “acabrunhado”, porque gostaria de estar em liberdade. “Ver o meu Corinthians jogar, ver a minha família. Eu já falei pra todo mundo que, quando eu sair daqui, eu vou casar”, disse.
Disse, no entanto, estar consciente de que existem milhões de brasileiros em pior situação que a dele, que está preso. “Vi [pela televisão] pessoas invadindo caminhão de lixo para catar comida para comer. E nós tínhamos acabado com a fome”, disse.
Caso Neymar
O ex-presidente aproveitou o espaço na entrevista para criticar o comportamento de parte da imprensa no caso em que o jogador Neymar é acusado de um estupro em Paris, capital francesa. Para Lula, a TV Globo teve “pressa” e “voracidade” para defender a inocência de Neymar. “Eu não posso dizer que o Neymar tem culpa, e nem que a moça está mentindo”, disse.
“A moça virou vagabunda antes de qualquer possibilidade”, concluiu.
Indicação de ministros
Questionado acerca das indicações que fez durante os anos na Presidência para as cadeiras no Supremo, Lula disse que nunca pediu contrapartidas para as nomeações. Afirmou, ainda, que apesar de discordar dos votos de alguns ministros (“não indiquei eles para votarem pra mim”), eles foram importantes para vários debates que aconteceram no país nos últimos anos.
“Eles têm um bom currículo. (…) Essas pessoas tiveram papel importante na questão da célula tronco, na reserva indígena, na união civil, nas cotas raciais. Então eu posso não concordar politicamente com algumas coisas”, afirmou o ex-presidente, revelando ainda que, quando indicou Carlos Ayres Britto para o STF, ouviu de interlocutores que ele era “muito vaidoso”. “Se ele fosse escrever um livro, me diziam, ia chamar ‘eu me amo'”, disse.
Assista abaixo à íntegra da entrevista de Lula à TVT:
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