Publicado em 27/08/2019 às 10h21.

‘Estamos cometendo suicídio como país’, diz ex-embaixador Rubens Ricupero

Para o diplomata, crise aberta pelo governo Bolsonaro diante da questão ambiental na Amazônia causa prejuízos sem precedentes

Alexandre Santos
Foto: Reprodução/ONU
Foto: Reprodução/ONU

 

O diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero afirma ser a primeira vez que o Brasil tem um governo anti-diplomático, que insulta nações estrangeiras e, como quem comete um “suicídio”, causa prejuízos sem precedentes à própria imagem diante do mundo.

“É um momento de muita tristeza, muito pesar. O que mais ressalta nisso tudo é o prejuízo que estamos causando a nós mesmos. Porque a destruição da Amazônia é como alguém que coloca fogo na sua casa. Alguém que destrói o seu próprio patrimônio. Eu, um outro dia, estava com a impressão, justamente no dia 24 de agosto, que é o aniversário do suicídio do Getúlio [Vargas], foram 65 anos, que nós estamos agora comentando um suicídio como país. Estamos destruindo o nosso patrimônio. E o pior é que parece que isso causa mais indignação lá fora do que aqui dentro”, declarou Ricupero em entrevista a rádio Metrópole na manhã desta terça-feira (27).

Ricupero refere-se sobretudo aos últimos acontecimentos protagonizados pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seus auxiliares, que abriram uma crise diplomática com países europeus, especialmente a França, devido à questão ambiental na floresta amazônica. Em declarações recentes, Bolsonaro dirigiu uma série de insultos ao presidente francês, Emmanuel Macron, e à sua esposa, a primeira-dama francesa Brigitte Macron. Macron reagiu.

“Hoje é triste ver que temos uma anti-diplomacia. É a primeira vez em toda a nossa história em que nós temos governantes que insultam, que ofendem governos estrangeiros. Não só ao Macron, também a [Angela] Merkel, à primeira ministra [alemã], com ofensas pessoais, ignominiosas, por exemplo, falando de um problema de saúde da Merkel. Ou referências desairosas, deselegantes à senhora do presidente Macron, porque é uma senhora mais idosa”, afirmou Ricupero, que foi embaixador no país norte-americano no início da década de 90. Também ocupou os postos de ministro do Meio Ambiente e de  secretário-geral da Conferência da ONU para o Desenvolvimento e Comércio.

“São coisas de um comportamento que nós, do Brasil, nunca tivemos. Eu fico triste, porque fico pensando: ‘Será que no exterior vão pensar que nós todos somos assim?’ Quando, na verdade, é uma ínfima maioria que se comporta dessa maneira”, observa Ricupero.

Para o diplomata, que morou 14 anos na Suiça, tal comportamento põe em xeque toda uma trajetória construída por pelo menos três décadas.

“Agora causa um prejuízo gigantesco. Nesses países europeus, o consumidor é muito consciente. Tenho três filhas que moram uma na Suiça e duas, na França. Eu vou sempre lá. O consumidor francês é cada vez mais estrito, como na Inglaterra, como na Alemanha, em relação à procedência dos alimentos. Nenhum deles vai comprar um produto se souber que a origem é do Brasil. Todo esse esforço que se fez em 30 anos ou mais para melhorar a nossa imagem […] Estávamos numa fase muito boa, e, de repente, se joga isso tudo fora”, disse.

“É uma coisa realmente triste no momento em que a economia do mundo está ficando mais sombria, porque o crescimento está desacelerando. O nosso comércio exterior também não está lá essas coisas. No mundo inteiro o comércio está caindo. E nós, aparentemente, estamos querendo dar tiros no próprio pé. É uma coisa incompreensível”, acrescentou Ricupero.

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