Publicado em 22/05/2025 às 11h45.

General admite que impediu prisões no QG do Exército em 8 de janeiro

Júlio Cesar de Arruda disse ao STF que ação deveria ser feita de forma “coordenada”; episódio levou à sua saída do comando do Exército

Redação
Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil

 

O general Júlio Cesar de Arruda afirmou nesta quinta-feira (22), em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que não autorizou a entrada da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) na área em frente ao Quartel General do Exército em 8 de janeiro de 2023, com o argumento de que as prisões dos manifestantes deveriam ocorrer de forma “coordenada”.

Ele prestou depoimento como testemunha de defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e delator no inquérito sobre o núcleo “crucial” da tentativa de golpe de Estado que buscava manter o ex-presidente no poder após a derrota nas eleições de 2022.

Ao ser questionado pelo advogado Cezar Bittencourt, que defende Cid, o general afirmou que conhecia o tenente-coronel apenas por contatos esporádicos na carreira militar e disse nunca ter tido conhecimento de qualquer envolvimento dele em um plano golpista.

O general também respondeu a perguntas do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre os acontecimentos em frente ao QG do Exército.

No dia 8 de janeiro, após a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, o ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão em flagrante de todos os acampados em frente ao QG do Exército, que há meses pediam intervenção militar.

Na época, como comandante do Exército, Arruda impediu a entrada da PM no local, usando tropas e veículos blindados. As prisões só ocorreram no dia seguinte, pela manhã, após acordo com autoridades do governo federal. O episódio levou à sua exoneração do cargo, semanas depois, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Eu não neguei [a entrada da PM]”, disse Arruda em sua primeira manifestação pública sobre o episódio. Contudo, confirmou que não autorizou a prisão imediata dos manifestantes por entender que a operação deveria ser conduzida de forma coordenada, e não da maneira como foi determinada pelo ministro Moraes.

“Quando parte dos manifestantes voltou para a Praça dos Cristais [em frente ao QG], o general Dutra me ligou e disse: ‘General, a polícia tá vindo aqui e vai prender todo mundo’. Então, eu falei: ‘Não, isso tem que ser coordenado’”, relatou Arruda.

Segundo ele, houve uma reunião no próprio QG com os ministros José Múcio (Defesa), Flávio Dino (Justiça) e Rui Costa (Casa Civil), além de Ricardo Cappelli, interventor da Segurança Pública do DF. Ficou acordado que as prisões ocorreriam na manhã seguinte. No total, mais de 1.400 pessoas foram detidas e fichadas pela PM.

O ministro Moraes questionou diretamente o general sobre o depoimento do então comandante da PMDF, coronel Fábio Augusto Vieira, que afirmou ter sido impedido de cumprir a ordem judicial por Arruda, que, segundo ele, teria dito, de dedo em riste: “Minha tropa é um pouco maior que a sua”.

“Não me lembro”, respondeu Arruda, ao ser confrontado sobre a fala. “Ali era um clima de muito nervosismo. Minha função era acalmar. Eu só dizia que aquilo precisava ser feito de forma coordenada”, justificou. O general ainda concluiu: “Graças a Deus não houve morte, porque do jeito que estava ali…”.

Além de Arruda, outras quatro testemunhas foram ouvidas nesta quinta-feira, todas militares que não têm relação direta com os fatos, mas que trabalharam com Mauro Cid na Ajudância de Ordens da Presidência da República.

O objetivo da defesa foi destacar os bons antecedentes de Cid, questionando se ele, em algum momento, demonstrou alinhamento político ou envolvimento com movimentos golpistas. Todas as testemunhas descreveram Cid como um militar disciplinado, profissional e reservado, sem manifestação de posicionamento político no ambiente de trabalho.

A Primeira Turma do STF, responsável pelo julgamento, iniciou na última segunda-feira (19) a fase de depoimentos das 82 testemunhas listadas pelas defesas e pela acusação na primeira ação penal sobre os atos golpistas. O processo trata do chamado núcleo central da trama, que inclui como réus o ex-presidente Jair Bolsonaro — apontado pela Procuradoria-Geral da República como líder do grupo —, além de ex-ministros e aliados próximos.

Após as oitivas das testemunhas de defesa de Mauro Cid, os depoimentos continuam nesta sexta-feira (23), a partir das 8h, com as testemunhas de defesa do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres. No período da tarde, será ouvida uma testemunha de defesa do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa.

Por ordem do relator, ministro Alexandre de Moraes, não é permitida qualquer gravação das audiências. Jornalistas acompanham os depoimentos diretamente da sala da Primeira Turma do STF.

Mais notícias

Este site armazena cookies para coletar informações e melhorar sua experiência de navegação. Gerencie seus cookies ou consulte nossa política.