Publicado em 06/09/2016 às 09h16.

Será o caixa 2 que jorra das tumbas uma novidade? Nem tanto

Este ano, com a proibição de doações privadas, criou-se um terreno fértil para escancarar uma prática que era incubada

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“Já tivemos, no passado, mortos que votavam. Agora temos mortos que doam”

Gilmar Mendes, presidente do TSE.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Gilmar Mendes: “Agora temos mortos que doam”. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

Já se sabia que 2016 seria o ano do caixa 2. Aliás, ele sempre imperou com desenvoltura nas campanhas eleitorais, antes e sempre. Mas este ano, pela proibição de doações privadas, criou-se um terreno fértil para escancarar uma prática que era incubada.

Da mesma forma que os fantasmas sempre povoaram o jogo político no Brasil desde a época dos coronéis, quando era comum forjar documentos para habilitar mortos.

Óbvio que nos dias atuais, com tudo digitalizado, a internet a pleno vapor, é fácil o cruzamento de dados e o flagra nos infratores. Mas nem por isso deixam de ser surpreendentes as primeiras revelações do ministro Gilmar Mendes, presidente do TSE.

Mal a campanha começou, já foram detectados 38,9 mil doadores suspeitos e, entre eles, nada menos que 35 CPFs de pessoas declaradas mortas.

Como, na Bahia, todos os absurdos têm precedentes, já dizia Octávio Mangabeira, temos também desse tipo. Em 2008, Maria Maia (PMDB), candidata a prefeita de Candeias, que acabou eleita e cassada, recebeu metade de suas doações, um total de R$ 266 mil, de dona Almerinda Monteiro dos Santos, falecida na Geórgia, Estados Unidos, em 6 de junho de 2004.

Pelo que o TSE e o TCU apuram, até a eleição, tem mais. Do jeito que a coisa vai, novidade mesmo é um morto aparecer eleito.

Olhando o Ibope

A segunda rodada da pesquisa Ibope/TV Bahia ontem divulgada ainda não apresentou sinais de mudança significativos. Alice Portugal (PCdoB) cresceu dois pontos dentro da margem de erro.

O crescimento dela é tão normal quanto esperado, mas ainda tímido.

A campanha mais curta beneficia Neto duplamente pelo fato de ele ter a caneta e ser mais conhecido. Mas manter-se nos 68% é fato que nem ele espera.

Apoio curto

As incursões de Rui Costa pelo interior durante a campanha também vão sofrer com esses tempos de dinheiro curto.

Os partidos já estão avisados de que, caso queiram a presença dele, vão ter que pagar o aluguel do avião ou helicóptero que o levar. Ele já decidiu e avisou que não irá a comícios como se estivesse em missão oficial.

Em suma, haverá menos viagens.

Macho no júri

O policial Davi dos Santos Soares decidiu se candidatar a vereador pelo PTC com o nome de Macho e se deu mal. Ele é acusado de ter matado o juiz Carlos Alessandro Pitágoras em uma briga de trânsito nas imediações do Iguatemi. Ontem, a juíza Andréa Teixeira Sarmento Neto, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, marcou o julgamento dele para o dia 29 de novembro.

Mais: ele é acusado de outro homicídio, de um irmão de uma funcionária do desembargador aposentado Aloísio Baptista.

Em suma, Macho ganhou visibilidade e agravou a situação dele.

Ecumenismo político

O ministro Bruno Araújo (Cidades) botou algumas pitadas de pimenta ontem em Camaçari, onde foi inaugurar mais um conjunto do Minha Casa Minha Vida.

Ele dividiu o palanque com o governador Rui Costa e os deputados Antônio Imbassahy, João Gualberto e Jutahy Júnior, companheiros tucanos, além de Paulo Azi (DEM).

Mas, entre eles, foi tudo light.

Foi Dilma

No seu discurso, em determinado momento, o ministro perguntou:

— Vocês sabem por que o imóvel é registrado em nome da mulher?

Alguém respondeu:

— Porque foi Dilma que mandou!

Entre ex-amigos

Partidários do prefeito Ademar Delgado, que apoia Jailce Andrade (PCdoB) para prefeita, e Luiz Caetano (PT), ex-aliado e hoje inimigo, se engalfinhavam na plateia.

Os aliados de Caetano chamavam Ademar de traidor. E os de Ademar diziam que Caetano foi preso pela PF.

Quase livre

A Justiça Eleitoral deferiu ontem a candidatura a prefeito de Léo Pacheco (PT), o vice-prefeito de Santo Amaro apoiado pelo prefeito Ricardo Machado. Preso no dia 14 de julho na Operação Adsumus, do MP e da polícia baiana, acusado de fraudes em licitações, ele passou 21 dias na cadeia.

Os adversários decidiram não pedir a impugnação dele. Dizem nada ter a ganhar.

Negritude eleitoral

Se em 2012 todas as chapas majoritárias de Salvador tinham um negro, no mínimo como vice, em 2016 a tese ruiu: os únicos negros são Célia Sacramento (PPL) e Fábio Nogueira (PSOL), enquanto o deputado Sargento Isidório (PDT), que é negro de fato, está listado como pardo. Em compensação, o TSE acaba de divulgar ser a Bahia o estado que mais tem candidatos autodeclarados negros: 5.721 (15,66%).

Ainda é pouco, se levado em conta que 17,1% dos 15,2 milhões de baianos se declaram negros, contra 59,2% de pardos (o que também, tal e qual Isidório, é discutível).

Deu deserta

Pedro Dantas, o novo presidente da Codeba, aprovou a contratação de estudo de viabilidade técnica para a para a preparação do edital de nova licitação para cessão de uso onerosa do Moinho de Trigo de Ilhéus. A primeira licitação deu xabu.

Ou na linguagem técnica, deu deserta.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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