Publicado em 14/10/2019 às 11h32.

Valber Carvalho, um livro sobre a história da Santa Dulce que vem aí

'O grande barato é o legado. É as pessoas olharem o exemplo para se melhorar'

Levi Vasconcelos
Foto: Agência Brasil
Foto: Agência Brasil

 

— Amigo, o senhor não está a fim de fazer uma poupancinha no céu?

Era assim, segundo o jornalista Valber Carvalho, que Irmã Dulce costumava abordar potenciais candidatos a colaboradores da obra.

Ângelo Calmon de Sá, um dos investidores na tal poupancinha, se diz impressionado com um fato:

— Depois que ela morreu, o hospital cresceu 40, 50 vezes mais. Como explicar isso?

Se hoje Irmã Dulce faz os seus pedidos para uma plateia mais qualificada, não dá para saber, mas a história dos tempos da poupancinha Valber vai contar bem já, já. Desde 2013, ele mergulhou na ideia de escrever sobre a vida de Irmã, sob encomenda do projeto editorial da Assembleia, ainda num tempo longe da santificação.

Prazo: quatro meses. Botou o pé na estrada, logo depois, avisou: ‘Não dá’. Botaram mais dois meses, desistiu da Assembleia. Mas não do projeto, pelo contrário.

— Era muita coisa. Empolgante, mas na medida em que avançava, a vontade era aprofundar mais.

Diferente

Resultado: seis anos depois, ele fez 513 entrevistas com gente de todos os naipes, tanto que dividiu os entrevistados em 22 categorias, como médicos, auxiliares, beneficiários e financistas, e leu 12 mil documentos, entre jornais e ofícios, até mesmo da Alemanha e dos EUA, de onde é a congregação dela.

Disso resulta um livro, já em fase de finalização, em dois volumes de 400 páginas cada, que deve ser lançado até dezembro. E o que mais o impressionou nesse périplo?

— Todos me disseram que ela era uma pessoa sempre alegre, brincalhona, gostava de beliscar e botar apelidos nas pessoas. Conviver com o sofrimento assim é diferente, não?

Diz Valber que na concepção que temos de santos, Irmã Dulce também é diferenciada:

— Conhecemos santos de igreja. Ela, não. Veio das ruas, da vivência com os mortais comuns.

Até o Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, nasceu em 1739 e morreu em dezembro de 1822, três depois que D. Pedro I declarou a Independência do Brasil. Não compete com a baiana.

Outra energia

Nos depoimentos que Valber Carvalho colheu para falar da vida de Irmã Dulce, emerge um consenso:

— Ela era uma usina de oração. Ao conversar com um empresário pedindo ajuda, estava orando. Era como se ela, que sempre se alimentava muito pouco, se alimentasse dessa energia.

Fraternidade

Nos seus seis anos de mergulho na vida de Irmã, Valber, um jornalista experiente, acostumado a ver muitos se declarando santo, diz que enfim deparou-se com um santo de verdade:

— Muitas pessoas públicas, quando a gente bota a lupa, descobre que são santos com pés de barro. Com Irmã Dulce, não. Quanto mais se aprofunda, mais se impressiona, pela fraternidade.

Todos iguais

Ângelo Calmon de Sá conta que Irmã Dulce nunca aceitou convênios para atendimento no hospital:

— Ela não queria ter leitos diferentes. O que era para um, era para todos.

Legado

Valber conclui que o melhor da santa é o exemplo:

— O grande barato é o legado. É as pessoas olharem o exemplo para se melhorar.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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