Caso Nordeste de Amaralina: Guerra desigual
Após adiar informações sobre conflitos no Nordeste de Amaralina, polícia atribui situação a 'terroristas' das redes sociais
Os acontecimentos desta terça-feira (1º), na região do Nordeste de Amaralina, comprovam a distância abissal entre o que se quer e o que se faz no âmbito da segurança pública na Bahia. Equipado com o que de mais avançado existe em tecnologia da informação, o aparelho policial move-se a passos de cágado em relação ao estado paralelo da criminalidade. Principalmente por sofrer do que parece ser uma patológica “síndrome do avestruz”, a capacidade de esconder a cabeça na areia, enquanto todo o resto do corpo permanece desnudo.
Senão, vejamos. Era por volta das 14h30, quando a Superintendência de Telecomunicações da SSP (Stelecom) registrou uma ocorrência tipificada como “incêndio em automóvel” no Vale das Pedrinhas. De acordo com o atendente que recebeu o chamado, dois ônibus haviam sido incendiados, havia troca de tiros e queima de pneus na entrada do bairro. Mas, naquele momento, não havia maiores detalhes sobre a situação. Seria preciso aguardar informações de unidades policiais enviadas ao local.
Procurada pelo bahia.ba, a Polícia Militar, por meio do Departamento de Comunicação Social, se esquivou. De forma mecânica, a pessoa do outro lado da linha – e cuja identidade não precisa ser divulgada – disse que só poderia responder a qualquer indagação, mediante envio de um e-mail. Não adiantou argumentar que era só para dizer “sim” ou “não”: dois ônibus realmente haviam sido incendiados, conforme o registro da central? Inflexível e já demonstrando impaciência, a atendente decretou: “Só atendemos consulta da imprensa através de e-mail. São muitas as demandas”.
Sem o respaldo da fonte oficial, começava ali a guerra das informações, possivelmente alimentada pela malícia das contrainformações. Enquanto as polícias montavam um discurso que resguardasse a imagem do Estado, pipocavam nas redes sociais versões próximas à realidade dos fatos. Fotos, áudios e vídeos vazavam o que a SSP tentava esconder sob uma peneira totalmente esburacada.
A notícia não pode esperar. Especialmente em tempos de jornalismo online. As informações eram postadas em doses homeopáticas e ao ritmo de espasmos. No meio da tarde, já era fato: tinha ocorrido um confronto armado entre policiais e bandidos, quatro pessoas haviam sido baleadas (uma mulher e três crianças), comércio e escolas fecharam as portas (por ordem de criminosos ou por autoproteção?), o bairro estava sob reforço policial e os rodoviários alteraram o itinerário das linhas que servem à região. Ah, sim, a informação sonegada pela comunicação da PM-BA, horas atrás – a dos ônibus vandalizados – explodia em fotos e vídeos, que circulavam à exaustão no aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp.
Somente no final da tarde, quando confirmada a morte da diarista Lilian de Jesus dos Santos, de 39 (ou 37) anos, é que a SSP retirou a cabeça da areia. Num áudio um tanto indignado, o secretário Maurício Barbosa reconheceu a anormalidade da situação e condenou o que chamou de terrorismo nas redes sociais. E prometeu “investigar e identificar quem são esses terroristas que passam pelas redes sociais falsas informações sobre toque de recolher”.
Ora, se desde o início da tarde, quando a Stelecom registrou o fato, o Estado houvesse se manifestado e assumido o seu papel de guardião da segurança pública, talvez a bandidagem não tivesse encontrado brechas para aterrorizar a população. Então, fica combinado: não basta apenas negar a vigência de toque de recolher, é preciso se antecipar à voz da criminalidade. O primeiro passo pode ser, por exemplo, municiar a mídia de informações precisas. Do contrário, o Estado Democrático de Direito vai estar sempre um passo atrás do poder paralelo. E não apenas no que diz respeito ao aparato bélico, mas também no campo da guerra da informação.
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