Publicado em 12/02/2020 às 22h00.

Quanto mais o povo bebe, mais o governo arrecada

Na cerveja, seja lata ou garrafa, os tributos chegam a 55% do preço total pago pelo consumidor; na caipirinha, 76% do valor final fica com os impostos

Rayllanna Lima
Foto: Valter Pontes/Secom
Foto: Valter Pontes/Secom

 

Os brasileiros já está em contagem regressiva para curtir a maior festa de rua do mundo, o Carnaval. Momento de folia, encontro entre amigos, folgas e muita bebedeira. O que muita gente não para para refletir é que, quanto mais o povo bebe, mais o governo arrecada.

Apesar de serem consideradas como supérfluas na cesta do consumidor, são as bebidas alcoólicas as queridinhas dos foliões. Para se ter uma ideia da cobrança dos tributos, quem compra uma caipirinha paga 76% do valor total em impostos federais, estaduais e municipais.

As informações constam em um levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), encomendado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

Na cerveja, seja lata ou garrafa, os tributos chegam a 55% do preço total pago pelo consumidor. Com o chope, o valor pago em tributos é de 62%. “Costumo dizer que quanto mais o cidadão bebe, maior é o porre do governo em termos de arrecadação.

A ressaca do consumidor também é no bolso”, analisa o economista da ACSP, Marcel Solimeo, que sinaliza as bebidas alcoólicas como produtos de tributação elevadas. Mas não é só o consumidor cachaceiro que acaba gastando mais durante o Carnaval. Quem não bebe também contribui para a folia arrecadatória.

A alíquota do refrigerante em garrafa é de 46%. Em lata, a carga tributária sobre o preço total é de 44%. E outros kits que integram a “cesta do folião” também estão carregados de tributos que pesam no bolso: colar havaiano (45%), spray de espuma (45%), óculos de sol (44%), máscara de plástico (43%), confete/serpentina (43%), biquíni (42%), protetor solar (41%).

Destaque também para outros produtos como fantasia (36%), apito (34%), preservativo (18%), cavaquinho (38), pandeiro (37%) e bateria (38%). Na análise do economista Ivan Gargur, professor da Faculdade 2 de julho, em Salvador, é “justo” que os itens citados acima tenham tributação alta, visto que não fazem parte dos itens básicos necessários para a sobrevivência das pessoas.

“São produtos que as pessoas passam bem se não tiverem. Bebidas alcoólicas e cigarro, por exemplo, geram um gasto grande para a assistência médica pública, devido aos doenças que provocam. Esse dinheiro que o SUS gasta sai do nosso bolso, dos nossos impostos”, afirma.

Para ele, produtos que não podem faltar na mesa do consumidor, como feijão, arroz e carnes, que deveriam ter “redução ou até mesmo isenção de impostos”. “Temos a cobrança direta, a exemplo do imposto de renda, que muitos não gostam de pagar, mas que pelo menos guarda uma proporção à renda da pessoa.

Quem ganha mais acaba pagando mais, então há uma justiça. Já na cobrança indireta, que é quando o imposto está embutido no preço final do produto, não se leva em conta a capacidade financeira da pessoa. Se eu comprar um quilo de feijão e minha empregada o mesmo, não leva em conta a nossa diferença de salário. Aí não há justiça. Para famílias de menor poder aquisitivo, esses produtos deveriam ter redução ou mesmo isenção de impostos”, defende.

350,1 bilhões já foram arrecadados em 2020

A tabela do impostômetro não para de subir nem por um minuto. Conforme apurado pelo bahia.ba junto a plataforma desenvolvida e atualizada em tempo real pela ACSP, os brasileiros já pagaram mais de R$ 350,1 bilhões em impostos somente as 22h dessa quarta-feira, 12 de fevereiro.

Na Bahia, R$ 11,2 bilhões. E, em Salvador, R$ 367,9 milhões. Com tamanha tributação, o economista do instituto faz uma reflexão. Assim como o economista Ivan, ele afirma que os mais pobres são os que mais sofrem com a alíquota sobre os bens de consumo, visto que “gastam todo seu dinheiro nos produtos básicos para a sobrevivência”.

Na outra ponta, ele avalia, está a camada mais rica da sociedade, que gasta maior parte do seu dinheiro em investimentos financeiros, estes que são pouco tributados, quando comparados aos bens de consumo. “Este é um fator que precisa ser trabalhado pelo governo através de uma reforma tributária”, recomenda.

Marcel Solimeo chama ainda a atenção sobre a administração dos governos, uma vez que, quando o governo gasta errado ou mais do que deve, é a sociedade que paga, seja com inflação, altas taxas de juros ou aumento da dívida pública.

Solimeo, contudo, convida os consumidores para pensar sobre o tema depois da festa momesca, dando a resposta nas urnas. “Se você pensar nos impostos e nas contas, acaba não aproveitando o Carnaval. Tudo tem seu tempo e sua hora. Então, depois das festas, a discussão será as eleições municipais. E não só para prefeito, mas também para os vereadores que irão compor a zeladoria das cidades. Eles serão os responsáveis por decidir como os nossos impostos serão gastos”, aconselha.

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