Brasil precisa criar protocolos para tratamento da síndrome pós-coronavírus
Parte dos pacientes recuperados apresenta problemas cardíacos nos meses seguintes à alta hospitalar

Nem sempre a alta hospitalar é o fim dos problemas causados pela Covid-19. No mundo todo, profissionais de saúde observam uma série de complicações decorrentes da doença, que vão de manifestações dermatológicas a distúrbios cardíacos e podem surgir meses após resolvido o quadro agudo da infecção pelo SARS-CoV-2.
Para que a carga da pandemia não se torne ainda maior para o sistema de saúde do país, pesquisadores recomendam a criação de protocolos clínicos e unidades para tratamento de pacientes com a chamada síndrome pós-Covid.
O assunto foi debatido em seminário on-line promovido no dia 08 de abril pela Academia Nacional de Medicina (ANM).
“Temos observado que o doente se cura da Covid-19, sai da UTI [Unidade de Terapia Intensiva], mas permanece no hospital, pois não consegue voltar para casa. Ele precisa de reabilitação. Por isso, temos de pensar num modelo que passei a chamar de unidade pós-Covid, onde teríamos atendimento ambulatorial, hospital-dia e algumas áreas para internação daqueles pacientes que não têm condição [de ter alta]”, disse Fábio Jatene, diretor-geral do Instituto do Coração (InCor) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).
Jatene falou sobre a ocorrência de problemas cardiovasculares decorrentes da doença, que não necessariamente ocorrem apenas em pacientes com histórico prévio de doença cardíaca.
“A literatura tem várias observações a respeito de pessoas absolutamente sem doença cardiovascular e que acabaram desenvolvendo no pós-Covid. Inclusive atletas universitários, pessoas sem risco cardiovascular. Estudos revelaram que 55% dos pacientes no pós-Covid apresentaram alterações no bombeamento cardíaco. Num estudo realizado na Alemanha, 78% dos pacientes diagnosticados com COVID-19 mostraram evidência de alguma lesão cardíaca, causada até semanas depois da recuperação da doença propriamente dita”, explicou o pesquisador, que é apoiado pela Fapesp.
Para o presidente da ANM, Rubens Belfort Jr., a síndrome pós-pandemia é uma amostra do papel das doenças infecciosas no desenvolvimento de outras moléstias. Segundo o médico, a pandemia está trazendo novos conhecimentos sobre essa relação. Um exemplo anterior é a zika que, embora não cause problemas graves em adultos, pode levar à microcefalia nos fetos em desenvolvimento. Outro é a toxoplasmose, recentemente relacionada à ocorrência de esquizofrenia.
“O problema vai muito além da Covid-19. Quem poderia imaginar que tantas alterações aparentemente não relacionadas a doenças infecciosas decorrem delas? Com toda certeza, muitas outras doenças virais podem causar manifestações tardias, mas a medicina ainda as desconhece”, disse Belfort, que é professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp).
Segundo Carlos Alberto Barros Franco, membro da ANM e professor da Escola Médica de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o Brasil ainda está na fase da pandemia em que a preocupação mais urgente é conter a transmissão do vírus, mas os problemas decorrentes da COVID-19 vão persistir por muito tempo.
“Essa é uma preocupação de países europeus e norte-americanos, que vêm se preparando para essa segunda fase, a da síndrome pós-Cpvod ou Covid longa. Isso terá consequências da maior gravidade no Brasil. Haverá pessoas que não vão poder voltar a trabalhar normalmente. Então é fundamental que o Brasil se prepare”, disse o acadêmico.
Câncer e Covid-19
Os palestrantes relataram casos e apresentaram estudos realizados no Brasil e no exterior das mais variadas manifestações ocorridas após a resolução da fase aguda da Covid-19. Alterações gastrointestinais, pulmonares, do fígado e das vias biliares; diferentes manifestações dermatológicas, renais e otorrinolaringológicas; problemas psicológicos e até da retina já foram relatados na literatura médica.
Como um dos efeitos colaterais da pandemia, não necessariamente ligados à doença em si, pesquisadores apontaram uma redução significativa no número de diagnósticos e tratamentos de câncer.
Segundo Paulo Hoff, diretor-geral do Instituto do Câncer (Icesp) e professor da FM-USP apoiado pela FAPESP, a pandemia trouxe queda significativa nos exames preventivos e, consequentemente, no diagnóstico precoce de tumores.
Uma vez que quanto mais cedo ocorre o diagnóstico, maiores são as chances de cura, a pandemia deverá trazer um número maior de ocorrência de câncer e de mortes no futuro. Estudo realizado na Inglaterra estimou quase 18 mil mortes a mais por câncer naquele país por conta da interrupção dos tratamentos ou pela falta de diagnóstico.
“São dados que se repetem ao redor do mundo. Tivemos redução na ordem de 70% a 90% nos exames de rastreamento de tumores importantes como de mama, próstata e colorretais. [Houve ainda] redução significativa nas cirurgias relacionadas ao diagnóstico de câncer e, talvez mais importante, dados originados nos laboratórios de anatomopatologia mostram até 30% de redução nas biópsias de câncer nesse período. Lembrando que esses casos continuam acontecendo, só não estão sendo diagnosticados no seu estágio mais precoce, o que seria desejável”, contou o pesquisador.
O médico afirmou que a incidência da doença é similar entre pessoas com e sem câncer, mas que a mortalidade é maior no primeiro grupo, como deve mostrar um estudo realizado por sua equipe, ainda não publicado. Os pacientes especialmente afetados pela Covid-19 são os imunodeprimidos por conta da doença ou do tratamento, os que têm comprometimento pulmonar prévio ou portadores de neoplasias hematológicas.
O médico oncologista afirmou ser essencial que os pacientes diagnosticados mantenham o tratamento, ainda que seguindo protocolos de segurança contra a doença. Além disso, pessoas saudáveis não devem deixar de fazer exames de rotina que possam detectar tumores. Pacientes em tratamento contra o câncer que tenham sido diagnosticados com Covid-19 devem retomar as terapias para os tumores entre 14 e 21 dias depois da resolução dos sintomas da infecção pelo SARS-CoV-2, alertou. Por André Julião, da Agência Fapesp.
Mais notícias
-
Covid-19
13h18 de 11/03/2024
Ministério da Saúde anuncia criação de memorial para vítimas da covid-19
Doença matou 710 mil brasileiros, segundo informa a pasta
-
Covid-19
13h40 de 19/12/2023
Saúde comprará 14 milhões de vacinas a mais do que em 2023
Ministra da Saúde, Nísia Trindade, fará nesta terça-feira (19) um balanço do Movimento Nacional pela Vacinação
-
Covid-19
07h38 de 11/12/2023
Salvador inicia a aplicação da 2ª dose da vacina bivalente nesta segunda (11)
Neste primeiro momento, o imunizante é destinado aos idosos com 60 anos ou mais e imunocomprometidos acima de 12 anos
-
Covid-19
07h02 de 08/11/2023
Salvador atinge marca de meio milhão de pessoas imunizadas com vacina bivalente
A expansão da utilização da vacina bivalente para a população com mais de 18 anos foi autorizada pelo Ministério da Saúde em 24 de abril
-
Covid-19
07h03 de 16/10/2023
Salvador retoma vacinação contra Covid-19 e gripe nesta segunda (16)
No caso da vacinação contra a Covid-19, serão oferecidas a 1ª e 2ª doses para pessoas com 12 anos ou mais no esquema “Liberou Geral”
-
Covid-19
07h54 de 11/10/2023
Confira os postos de vacinação contra Covid-19 e gripe em Salvador nesta quarta (11)
A bivalente está disponível para a população geral de 12 anos ou mais
-
Covid-19
11h33 de 22/09/2023
Salvador segue com a vacinação contra Covid-19 e gripe nesta sexta-feira (22)
Além do público habilitado para a bivalente, respeitando o aprazamento 4 meses entre as doses, serão ofertados as 1ª e 2ª dose para pessoas com 12 anos
-
Covid-19
11h52 de 20/09/2023
Salvador segue com a vacinação contra Covid-19 e gripe nesta quarta-feira (20)
Além do público habilitado para a bivalente, respeitando o aprazamento 4 meses entre as doses, serão ofertados as 1ª e 2ª dose para pessoas com 12 anos ou mais
-
Covid-19
07h21 de 13/09/2023
Salvador segue com vacinação contra Covid-19 e gripe nesta quarta-feira (13)
A bivalente está disponível para a população geral de 12 anos ou mais
-
Covid-19
07h05 de 12/09/2023
Salvador segue com vacinação contra Covid-19 e gripe em Salvador nesta terça-feira (12)
Além do público habilitado para a bivalente, serão ofertados as 1ª e 2ª dose para pessoas com 12 anos ou mais no esquema “LIBEROU GERAL”