Como a ‘mídia positiva’ pode nos tornar pessoas melhores
Observar personagens fazendo coisas boas nos influencia a adotar ações mais solidárias
Durante muito tempo, pesquisadores de mídia social focaram seus estudos quase que exclusivamente sobre os efeitos nocivos dos meios de comunicação, incluindo o stress, a agressão, a violência, o desrespeito, o racismo, o individualismo e a falta de solidariedade, ou seja, sobre os efeitos antissociais da mídia. ¨Mídia” compreende o conjunto dos meios de comunicação para veiculação de mensagens ou de campanhas publicitárias, que incluem diferentes recursos e técnicas, como: jornal, rádio, televisão, cinema, outdoor etc.
Seja na programação ou nos comerciais, a televisão sempre foi a grande vilã desses efeitos, incentivando comportamentos individualistas e valores sociais de felicidade quase inalcançáveis, em favor de um consumismo exagerado, financiado pelo interesse capitalista ou por uma cultura globalizante que oferece a vantagem de eliminar a angústia, ao criar ilusões identitárias baseadas em modelos uniformizantes e por uma intensa busca do prazer pessoal, em detrimento dos ideais coletivos.
Entretanto, mais recentemente, novos estudos muito animadores nessa área estão começando a olhar para o outro lado dessa história, ou seja, como meios de comunicação de efeitos positivos podem ser edificantes e inspiradores para a sociedade. Nos últimos anos, pesquisas têm demonstrado como alguns filmes, programas de TV e outras mídias com imagens e mensagens positivas podem promover um comportamento prossocial e influenciar os indivíduos a quererem se tornar pessoas melhores. Em vez de simplesmente ver a mídia como uma influência negativa para controlar a sociedade, esse novo movimento propõe começar a entender o potencial da mídia também para espalhar o bem em larga escala.
Um bom exemplo é o mais novo filme da Disney, Zootopia, considerado um dos melhores filmes da Disney dos últimos anos, sucesso com o público de todas as idades, tem sido elogiado por suas mensagens positivas sobre o dano dos estereótipos e dos preconceitos. Zootopia conta a estória de um lugar onde animais de todas as espécies podem viver juntos, onde não interessa quem se é, desde o maior elefante até o menor dos ratos, pois cada um pode ser quem quiser. O filme está cheio de mensagens positivas, que irão dar bons conselhos às crianças como: você pode ser tudo o que quiser, não julgue os outros com base nas aparências e aceite os outros e as suas diferenças.
Para que a ‘mídia positiva’ tenha efeitos duradouros precisamos consumi-la de forma consistente
Como é que o consumo destes tipos de filmes pode nos impactar como indivíduos e como sociedade? Quando um filme traz mensagens intensas e significativas em sua essência, nos faz imergir totalmente na história e nos permite múltiplas reflexões e discussões profundas sobre o tema. Observar personagens empenhando-se em fazer coisas boas pelos outros, nos influencia a encontrar diferentes formas de aumentar as nossas próprias forças e a adotar futuras ações mais saudáveis, éticas e solidárias.
Um estudo recente coordenado pela pesquisadora Mary Beth Oliver da Penn State University, identificou o poder de filmes que provocam “elevação”, sentimento que experimentamos quando vemos alguém realizar atos profundamente morais, como atos de gratidão, generosidade, ou lealdade. Neste estudo, Oliver e seus colegas pediram a 483 alunos para recordarem um filme particularmente agradável que assistiram recentemente e indicar como eles se sentiram: se alegres ou com sentimento de elevação.
Quando os pesquisadores analisaram os conteúdos indicados, concluiram que foram os filmes com significado, muito mais do que os filmes prazerosos, que despertaram nas pessoas valores altruístas como a justiça social e a solidariedade, com mais frequência. Além do mais, esses sentimentos de elevação, por sua vez, foram associados a uma maior motivação para se tornar uma pessoa melhor e fazer coisas boas para os outros; os filmes prazerosos, pelo contrário, motivaram as pessoas a apreciar-se mais e a buscar popularidade.
A felicidade é um vírus do bem que
a ‘mídia positiva’ pode ajudar a espalhar
Um estudo conduzido por Karl Aquino, da Universidade de British Columbia, concluiu que pessoas que foram impactadas ao ler uma história sobre bondade incomum, tornaram-se mais propensas a acreditar que há coisa boa no mundo. Quanto mais as pessoas experimentavam sentimento de elevação, mais elas percebiam generosidade e bondade no mundo. E as pesquisas indicam ainda que existem benefícios concretos para esta mudança mental: estudos indicam que esperar o pior das pessoas é realmente ruim para a saúde, no entanto, ver o lado bom das pessoas nos faz sentir bem, porque experimentamos emoções positivas, que, por sua vez, nos levam a uma espiral ascendente de bem-estar.
Os resultados destacam ainda que o sentimento de elevação que começa a partir de filmes, não só nos faz sentir mais conectados com as pessoas que amamos, mas também nos ajuda a superar nossa tendência egocêntrica e nos inspira a sentir compaixão por pessoas que nem conhecemos.
Claro, fazer essas mudanças positivas não acontece do dia para a noite. Também não é suficiente assistir cenas de boa moral, bondade e generosidade apenas de vez em quando. Para que a “mídia positiva” tenha efeitos fortes e duradouros sobre nós, individualmente ou coletivamente, precisamos consumi-la de forma consistente, ao longo do tempo, assim como comer direito apenas uma vez por semana não nos torna mais saudável.
Mas é encorajador ver que estes efeitos são possíveis, e que os nossos padrões de consumo de mídia podem ser uma força para o bem do mundo, e não apenas uma maneira de enriquecer as empresas desse setor. A pesquisa em mídia positiva ainda está evoluindo, mas o certo é que, quando selecionamos conteúdos inspiradores para assistir na TV, nos filmes, ou através de mídia social, não estamos apenas melhorando a nossa felicidade e o nosso bem-estar, estamos alimentando nossos instintos de compaixão e de bondade, e isso tem efeito em toda a sociedade.
Resumindo, a felicidade é como um “vírus do bem”, que a “mídia positiva” pode ajudar a espalhar por aí…
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