Priscila Almeida é psicóloga clínica especialista em saúde mental, psicanálise e em trânsito. Escritora e editora do Blog Papos de Psico.
Hoje há mestre na escola?
O aluno se identifica com tantas imagens e vídeos das redes sociais que, por vezes, não vê o professor como mediador do campo do saber
Muitos professores tentam entender o que tem acontecido em sala de aula frente ao afastamento do seu alunado. A falta de atenção e de interesse pelas atividades desenvolvidas são questões frequentes para estes. Ora, o que tem ocorrido com o desejo de saber dos alunos nos limites escolares?
A educação submete a criança à ordem simbólica, pois o ato educativo está no campo da linguagem. É uma prática social discursiva que mergulha a criança na linguagem, possibilitando-lhe fazer discurso e assim, laço social. Maria Cristina Kupfer nos diz que antes este era um espaço simboligênico, mas hoje tem perdido o lugar para a proliferação de formações imaginárias. Não podemos perder de vista a multiplicação de objetos consumidos e o apelo ao enquadramento escolar a padrões identificatórios.
Neste mundo, onde a cultura do Narcisismo opera no sistema “goze quanto e como puder”, verificase uma instabilidade, uma incerteza, uma fluidez no pensar e no agir. Compre, consuma, seja feliz, se mostre. A sociedade líquidamoderna, como diz Bauman, não mantém a mesma formatação por muito tempo. A subjetividade é apagada pela completa entrega às pulsões. Diante do discurso capitalista, o sujeito desaparece frente aos objetos que tamponam o furo do outro. Há um brilho sobre o objeto que se move a todo instante.
Desta forma, o aluno se identifica com tantas imagens e vídeos das redes sociais que, por vezes, se fixa nesta forma de consumir conteúdo e não vê no professor a possibilidade de estabelecer uma relação transferencial. Não vê o professor como mediador do campo do saber. O vínculo escolar fica frouxo, apenas imposto por uma sociedade que grita por todos os cantos: “A escola civiliza”. A mesma sociedade que não consegue lidar com nenhum tipo de lei e assim, coloca no outro o lugar da (des)autorização.
O estilo cognitivo de cada sujeito
carrega a marca do seu desejo
E é em meio a este imbricado de questões que a autoridade perde todas as forças em nossa sociedade. Em frangalhos se encontram o pai, o professor, a escola, o policial, a Justiça, a política e a economia.
O professor perdido em meio às suas questões pessoais e os imperativos sociais coloca muitas vezes o aluno no lugar daquele que deve consumir todo conteúdo que ele tem para passar. Assim, entra em sala de aula e pensa falar com um objeto que nada tem a desejar, pois ele deve aprender o que ele está disposto a ensinar.
Quando o professor está diante de um ser que deseja e que tem sua forma de apreender o mundo, ele deve abandonar o adestramento, a tentativa de adaptação, a preocupação excessiva com o conteúdo estrito e inquestionável. Mas não é isso que a sociedade tem exigido dele.
Ao levar em conta o que há na história de cada aluno, o professor saberá que em sua aprendizagem nada está predeterminado. Só assim, conseguirá oferecer experiências singulares que capturem os alunos e os façam desejar saber e aprender cada um com seu estilo. Pois o estilo cognitivo de cada sujeito carrega a marca do seu desejo.
Os saberes precisam ser faltantes para que o desejo seja instalado e seja fonte profícua na relação ensinoaprendizagem. Para conseguir o movimento entre o saber do mestre e aquele que não sabe, o professor deve conseguir ver o encanto da forma única de adquirir conhecimentos. Desta forma, se dirigirá de maneira mais leve e criativa aos seus alunos, pois entenderá que para cada um a transmissão dos objetos culturais chegará com forma e intensidade diferentes.
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