Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.
A quem você daria o troféu de arauto da hipocrisia: a Raquel ou a Cunha?
Os dois apenas tiveram os seus atos escancarados, mas nossa representação política é cheia disso: fingir que defende o interesse público
Frase da vez
“A hipocrisia, suprema perversão moral, é o charco podre e dormente que impregna a atmosfera de miasmas mortíferos”
Alexandre Herculano, jornalista, escritor e historiador português (1810-1877)
— Meu voto é em homenagem às vítimas da BR-251. É para dizer que o Brasil tem jeito, e o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós com sua gestão. Sim, sim, sim!
Lembra-se de quem são estas palavras? É fácil. São da deputada Raquel Muniz (PSD-MG), ditas na hora do voto no impeachment; no dia seguinte, a PF prendeu seu marido, o prefeito de Montes Claros, acusado de boicotar o SUS para induzir clientes a irem a para a clínica dele, o que é um crime hediondo.
Agora, a própria Raquel (e o marido, é claro) é acusada de participar de um esquema que desviou R$ 300 milhões de verbas destinadas à área social, outro crime hediondo.
Noutra vertente, há Eduardo Cunha, apesar de fartamente provado que tinha contas no exterior, jura e bate pé que não era o dono do dinheiro, 2,5 milhões de francos suíços ou R$ 9.6 milhões, mas apenas usufrutuário. Ou seja, ele não era o dono, mas podia usar e abusar enquanto vivesse.
Raquel e Cunha suscitam uma pergunta instigante: quantos na política brasileira se comportam como arautos da hipocrisia?
O hipócrita é aquele que quer fazer parecer uma coisa, mas é outra. Até nisso eles prestam um grande desserviço. Fazem crer que todos são assim.
Na votação da cassação de Cunha veremos mais um exemplo disso. Muito dos que comiam no prato dele vão votar contra. Para parecer aos olhos do povo, como Raquel, que defendem as boas regras de conduta.
Raquel e Cunha apenas tiveram os seus atos escancarados, mas nossa representação política é cheia disso: fingir que defende o interesse público, mas na real defende os seus, em grande parte das vezes, de forma escusa.
Para a eleição do mais hipócrita, vote você.
O fiel baiano
O deputado baiano João Carlos Paolilo Bacelar (PR) está fora disso. Sempre foi aliado de Cunha e permanece fiel.
É a fidelidade na via do mal, mas não deixa de ser uma qualidade, bem melhor que a dos falsários da moral.
Hoje, João Carlos vai tentar uma jogada, apresentar um voto em separado pedindo a suspensão do mandato por 90 dias, ao invés da cassação.
A chance de sucesso é zero, mas assim ele demonstra a sua lealdade. Pena que não tenha o mesmo comportamento com o povo que nele votou.
Placar da província
Mas a grande maioria dos deputados baianos acha que as chances de Cunha escapar da cassação oscilam entre zero e nenhuma. Estima-se que entre os 39 baianos, 37 sejam contra, um ou dois a favor.
O outro João Carlos Bacelar (PTN) corrobora a tese:
— A maioria dos aliados dele já debandou. Cunha é um cadáver insepulto.
Cercando o mosquito
Após a Bahia apresentar ao mundo, via Bahiafarma, o teste que em 20 minutos detecta se a pessoa está com zika ou não, deletando a prática convencional que exigia demorados e caros exames de laboratórios, a aposta agora das autoridades baianas é o desenvolvimento de uma armadilha que trava a reprodução do mosquito do Aedes Aegypt.
A experiência está sendo desenvolvida no Senai/Cimatec a expensas da Secretaria de Saúde e já custou mais de R$ 1 milhão. Segundo o secretário Fábio Vilas Boas, o ganho, em resultado e economia, é incomensurável.
— Cada armadilha desta vai custar R$ 5. Já temos o protótipo em teste. Ela segura os ovos do mosquito e as experiências têm demonstrado que uma armadilha em um quarteirão reduz a incidência em mais de 80%.
Experiências baianíssimas
Tanto o soro como a armadilha, são ‘baianíssimos’, ressalta Fábio Vilas Boas sobre as experiências pilotadas pelo Dr. Raimundo Badaró, subsecretário de Saúde e uma das maiores autoridades em infectologia do país.
Pegar o mosquito, de uma só penada, se tira de cena Zika, Chikungunya e dengue.
Velho Chico, o legado 1
A completa reforma do casarão do Barão de Cajaíba, que aparece como a casa do Coronel Saruê na novela Velho Chico, será a única herança que a aventura global no sertão baiano deixará para São Francisco do Conde.
A novela deve acabar em outubro e, a partir daí, a ideia é transformá-lo em um museu, embora grande parte do acervo tenha sido roubada durante longos anos de abandono.
A Globo vai levar de volta a maioria dos móveis. Deixará alguns, mas pouca coisa.
Velho Chico, o legado 2
Já em Piranhas, Alagoas, também a fictícia cidade global de Brotas do São Francisco, o ganho é imaterial, mas bem melhor e duradouro.
Os canyons do Velho Chico nas cercanias da cidade, tão belos quanto pouco conhecidos, ganharam uma divulgação nunca vista. E o turismo disparou.
Epigrama do Geddel
Geddel Vieira Lima resolveu animar o último chuvoso e modorrento domingo soteropolitano, com acirrada discussão através do twitter. Como não leva desaforo, revidou as críticas e xingamentos. Uma seguidora o chamou de babaca e tascou um “Fora Temer”, o que fez ele a classificar de petista imbecil. Mas no Planalto é um conciliador. E Antônio Lins mandou o epigrama:
Vieira Lima na liça
Bom de briga, bem atesta.
No twitter, ele atiça
No Planalto, faz a festa.
DNA no Ideb
Os méritos do avanço da nota de Salvador estão sendo disputados. Além de ACM Neto, com os secretários Jorge Khoury e Guilherme Belintani, o deputado João Carlos Bacelar (PTN) diz que João Henrique também tem sua fatia de contribuição. E Ney Campelo, que sucedeu Olívia Santana no primeiro governo de João Henrique, também reivindica para o PCdoB uma cota:
— Se tem alguém que pode festejar aí é a nossa companheira Alice Portugal.
O pai entre citados dá para saber. É só fazer o exame de DNA. Mas Alice como mãe, só pode ser barriga de aluguel (e pós-parto).
Plano intermediário
Na falta do que fazer, Jaques Wagner decidiu ajudar na coordenação da campanha de Alice Portugal (PCdoB) à Prefeitura de Salvador.
O que fará da vida no pós-campanha, ainda é incerto, mas já é certo que não será secretário de Rui Costa, como foi cogitado.
Tem dito a amigos que vai tentar alguma coisa na direção nacional do PT. A presidência, por exemplo, é uma possibilidade.
Em Morro do Chapéu
Arqui-inimigo do deputado José Carlos Araújo (PR) na política de Morro do Chapéu, João Humberto Batista, o Beto (PSL), se enroscou. O juiz João Celso Peixoto Targino Filho não aceitou recurso e manteve o indeferimento à sua candidatura, que duela com Leo Dourado (PR).
Beto vai ao TRE, mas é aquele negócio, campanha curta, o candidato gasta muito tempo entre a justiça e a busca de voto.
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