Bianca Pinheiro lança ‘Mônica – Força’ em Salvador; veja entrevista
A menina com tatuagem de orca e sorriso tão meigo como os seus traços, contou para o bahia.ba como é dar vida, novamente, à gorducha dentuça que o Brasil tanto conhece
Bianca Pinheiro nasceu no Rio de Janeiro, mas mora em Curitiba desde criança. E, desde criança, lendo os gibis do Maurício de Souza, sonhava em ser quadrinista. Teve de fazer design antes – por falta de um curso superior em História em Quadrinho. Hoje, ela faz cartoons e diz não entender porque o resto do mundo não os faz. “Se bem que é bom que algumas pessoas façam musicais e sorvete, o mundo seria horrível sem eles”, se corrige.
Autora da websérie “Bear”, das HQ’s de terror-psicológico “Dora” e “Meu Pai é um Homem da Montanha”, Bianca recebeu o desafio de desenhar a personagem que tanto a divertiu na infância: a Mônica. “Mônica – Força”, lançada pelo selo Graphic MSP – que convida artistas nacionais a criarem novas histórias com os personagens da Turma da Mônica, como Piteco, Papa Capim e Chico Bento –, traz a baixinha lidando com um problema que, diferente dos quais estava acostumada, não pode ser resolvido com a força física ou com surra de Sansão.
Em Salvador para uma sessão de autógrafos nesta quarta-feira (12), na loja Katapow, a menina com tatuagem de orca (seu animal preferido) e de um sorriso tão meigo como os seus traços, contou para o bahia.ba como é dar vida, novamente, à gorducha e dentuça que o Brasil tanto conhece. Confira a entrevista completa abaixo:
bahia.ba – As outras graphic MSP se passam em mais de um ambiente. O da Mônica não: é retratado todo na casa dela. Essa foi sua ideia desde o começo? Qual foi a reação do Sidney Gusman (editor da HQ) quando você sugeriu esse modelo?
Bianca Pinheiro – O Sidão não falou nada, então eu acho que ele gostou (risos). Mas sim, eu queria que fosse bem íntimo, justamente por conta do tema. Quis que ficasse tudo dentro da casa, principalmente na cozinha onde todo mundo é obrigado a se encontrar – porque é onde as pessoas comem e aí rola aquele climão. Foi proposital sim e eu acho que o Sidão curtiu.
.ba – A maior parte dos artistas convidados para desenhar no selo, antes, era publicado na internet ou no impresso de maneira independente. Você acha que esse projeto tem servido como um holofote para os quadrinistas brasileiros alcançarem o grande público?
BP – Eu acho que sim, tem muita gente agora que sabe meu nome porque eu fiz a Mônica. Ao mesmo tempo, não sei como isso vai repercutir nas vendas dos meus outros trabalhos, ainda não tenho esses números. Mas eu imagino que ajude. Se for um leitor novo já ajuda! A gente sempre agradece um leitor novo (risos).
.ba – No editorial da edição da “Mônica – Força” o Maurício de Sousa conta que você disse que “desenha por causa dele”. A sua contribuição para o projeto foi justamente a primeira “solo” de um dos quatro personagens principais, e logo o da Mônica, que lidera a turma, e é, talvez, a personagem dos quadrinhos brasileiros mais conhecida. Como você encarou essa responsabilidade?
BP – Pois é! Foi bem doido porque era o meu primeiro ano como autora de quadrinhos publicados, foi muito rápido para mim. Eu tinha acabado de lançar a segunda edição de “Bear”! Foi muito surpreendente e uma responsabilidade enorme. Assim, eu não tive dificuldade de adaptar os personagens porque eu conheço eles desde pequeninha. Minha grande vontade era que a minha ficasse à altura do trabalho dos irmãos Cafaggi, que já haviam adaptado a “Turma da Mônica” na Graphic MSP. Eu só queria garantir que ficasse no nível do deles. Espero ter conseguido.
.ba – Você esteve mês passado na Bienal do Livro, em São Paulo. Esse foi o primeiro evento depois da publicação do “Mônica”? Você acha que serviu como termômetro para a Comic Con de dezembro?
BP – Sim foi o primeiro e, cara, vendeu pra caramba! Foram mil exemplares, eu acho. Para mim, isso é pra caramba. “Dora” levou dois anos para vender mil (risos). Então, as expectativas para a Comic Con são as melhores.
.ba – Na Comic Con do ano passado, a fila dos irmãos Cafaggi e de Fábio Moon e Gabriel Bá, por diversas vezes, ultrapassou, em tamanho, as filas de artistas internacionais. Em que momento você acha que se deu a valorização dos artistas nacionais?
BP – Ano passado a fila dos Caffagi estava na minha frente. Aí eu me beneficiei um pouco porque o pessoal que tava lá esperando pelo autógrafo deles dava uma olhadinha na minha mesa tipo “hmmmmm” e aí comprava meu quadrinho (risos). Pois é, tá rolando um boom muito grande. Como a gente fez coisas com a “Turma da Mônica”, é natural que fizesse o sucesso que está fazendo, e eu gosto que esteja fazendo.
.ba – Uma das coisas que mais surpreendem em seu trabalho é que, ao mesmo tempo que você faz o delicado “Bear, você também tem quadrinhos de suspense e terror como “Dora” e “Meu pai mora na montanha”. Como é que funciona a sua cabeça? (risos)
BP – E no mesmo ano! Eu não sei. Não sei como as pessoas não funcionam assim, na verdade! (risos). Quando eu fiz o Dora, eu não gostava de filme de terror, nada de terror. Aí eu comecei a ler a Emily Carrol – uma quadrinista canadense –, e ela escreve histórias curtas de terror, basicamente. E eu adorei! Foi aí que eu comecei a me interessar pelo terror – não o de susto e tal, mas o psicológico. E o “Bear” é influência de todo o resto: tudo que eu gosto de ver e ler eu vou colocando.
.ba – Todos os seus trabalhos publicados têm protagonistas femininas. Foi coincidência ou você realmente se sente mais à vontade de escrever personagens mulheres?
BP – É coincidência e eu me sinto à vontade (risos). Uma coisa leva à outra. Eu estou pensando e acaba vindo uma mulher normalmente. Mas, assim, tem histórias na minha cabeça que eu quero contar que são de meninos. Mas é um número menor de histórias, com certeza.
.ba – Em uma entrevista sua, você contou que em uma dessas convenções você dividia a mesa com um artista nacional que tinha pôsteres com desenhos de personagens já consagrados como os da Marvel e da DC, enquanto você estava lá com os seus de Bear. Nessa ocasião, os pôsteres dele foram roubados e os seus não (risos). O público brasileiro ainda é refém do que vem do exterior e um pouco relutante em conhecer as obras nacionais?
BP – Com certeza! As pessoas, quando eu falo que eu faço quadrinhos, já vão me perguntando de super-herói. E eu nem leio super-herói! Nem consigo ajudar a pessoa nisso! Mas está mudando devagarinho. O trabalho com a Graphic MSP dá uma ajuda, definitivamente.
.ba – Você assinou com seu marido Gregg o livro “Meu pai é um homem da montanha” e já declarou que está em processo de criação de uma nova história com ele. A Cris Eiko e o Paulo Crumbim também são um “casal de quadrinistas”. Eu queria saber como funciona esse processo de criação, desculpa o trocadilho, A2?
BP – (risos) Então, com eles eu não sei. Eu acho que a Eiko desenha, o roteiro é do Crumbim e depois ele põe o sombreamento dos desenhos no computador. Já comigo e com o Gregg, o desenho é todo meu e a história e o texto são dele. Mas a hora de transformar em quadrinho é basicamente comigo. Resumindo: ele ia falando “ah, vai acontecer tal e tal coisa” e eu fazendo o storyboard ao mesmo tempo. Tanto que a gente diz que nossa história não tem roteiro, porque não teve nenhum momento que a gente sentou e fez. Ele é o criador da história e eu transformei isso em desenho, basicamente.
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