Publicado em 12/10/2025 às 14h00.

Polícia desmonta “empresa familiar” que fraudava concursos há dez anos; confira

Operação “Última Fase” revelou fraudes para garantir aprovações em concursos

Edgar Luz
Foto: Reprodução/ShuttherStock

 

A Polícia Federal deflagrou a operação “Última Fase”, que desarticulou um sofisticado esquema de fraudes em concursos públicos com atuação nas cidades de Patos (PB) e Recife (PE). Segundo as investigações, o grupo funcionava como uma “empresa familiar”, cobrando até R$ 500 mil por vaga e fazendo o uso de pontos eletrônicos implantados cirurgicamente, dublês e comunicação em tempo real para burlar os sistemas de segurança das bancas organizadoras.

A quadrilha, que atuava há pelo menos dez anos, oferecia aprovações “garantidas” em concursos de alto nível, como os da Polícia Federal, Caixa Econômica, Banco do Brasil, Polícias Civil e Militar, Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e o Concurso Nacional Unificado (CNU). Os pagamentos eram feitos em dinheiro, ouro, veículos e até serviços odontológicos, variando conforme o prestígio do cargo.

O grupo era liderado por Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar expulso da corporação em 2021, apontado como o principal articulador das fraudes. Apesar de ter uma longa ficha criminal, com acusações de homicídio, peculato, concussão e uso de documentos falsos, Wanderlan chegou a ser aprovado no CNU 2024 para o cargo de auditor fiscal do trabalho, com salário inicial de R$ 22,9 mil, como forma de “provar” a eficiência do esquema.

A PF descobriu que o esquema envolvia irmãos, cunhada, sobrinha e filho do líder. Larissa, sobrinha de Wanderlan, também aprovada no CNU, era usada como “vitrine” para atrair novos candidatos, enquanto Wanderson, seu filho, era responsável pela parte técnica. Entre os cúmplices externos, estão Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior, policial militar do Rio Grande do Norte e dono de uma clínica odontológica suspeita de lavagem de dinheiro, e Thyago José de Andrade, que controlava os pagamentos.

Entre as provas reunidas pela PF, estão gabaritos idênticos entre os envolvidos, inclusive com os mesmos erros, mensagens codificadas, rádios comunicadores e microtransmissores eletrônicos usados para repassar respostas durante as provas. Segundo os peritos, a coincidência dos gabaritos seria estatisticamente improvável, comparável a acertar a Mega-Sena quase 20 vezes seguidas.

Foram cumpridos mandados de prisão preventiva, busca e apreensão, além de afastamento de funções públicas. O Coaf identificou movimentações milionárias incompatíveis com a renda dos suspeitos, incluindo depósitos em espécie e transações imobiliárias fictícias.

De acordo com a PF, o grupo já havia beneficiado dezenas de candidatos desde 2015, incluindo dez aprovados no CNU 2024. O resultado de alguns certames, como o do TCE-PE, foi suspenso após a descoberta das fraudes.

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