Publicado em 19/05/2020 às 10h49.

Médicos prescrevem cloroquina por WhatsApp e em caravanas sem prontuário

Mesmo sem comprovação de eficácia, profissionais alinhados ao presidente Jair Bolsonaro estão receitando o remédio em algumas regiões do país

Redação
Jair Bolsonaro tem defendido uso da cloroquina mesmo sem comprovação de sua eficácia (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
Bolsonaro defende uso da cloroquina mesmo sem comprovação de sua eficácia (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

 

Apesar da falta de estudos completos que corroborem a eficácia da cloroquina e minimizem seus efeitos colaterais, como arritmias que já levaram pacientes à morte, médicos em todo o país vêm se unindo a favor do uso precoce do medicamento para tratamento do novo coronavírus, informa reportagem do jornal Folha de S. Paulo.

Segundo a publicação, centenas de profissionais já aderiram a manifestos como o “Médicos pela Vida na Covid-19”, uma plataforma que permite e estimula o apoio à prescrição da droga via grupos de WhatsApp.

No Recife, um grupo de médicos autodenominado “Doutores de Verdade”, por exemplo, passou a ser investigado em sigilo pelo Conselho Regional de Medicina de Pernambuco por distribuir cloroquina em comunidades pobres.

Segundo uma médica ouvida pela Folha, eles chegaram a promover “caravanas de doações” do medicamento em atendimentos sem prontuários médicos. “Isso se espalhou também para Caruaru e Petrolina [no interior] sob a alegação do sucesso da experiência no Recife”, relatou ela ao jornal.

Médicos pressionados

A pressão pelo uso do medicamento aumentou após a demissão de Nelson Teich do Ministério da Saúde. Substituto de Luiz Henrique Mandetta, que entregou o cargo menos de um mês antes, Teich deixou a pasta por discordar do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) quanto à indicação da cloroquina.

A reportagem da Folha revela que os médicos da rede pública em algumas regiões do país se dizem pressionados pela crescente recomendação para que prescrevam a droga a pacientes infectados pela Covid-19.

Na rede privada, a indicação pelo uso da droga também aumenta e já faz parte de protocolos de alguns planos de saúde.

Em resposta à influência crescente de médicos alinhados às opiniões do presidente, a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) divulgou documento afirmando que a cloroquina não tem eficácia comprovada contra o coronavírus e reforçou com seus profissionais o fato de que eles não são obrigados a prescrever a droga.

A SBMFC representa os médicos que atuam em 47,7 mil equipes de atenção básica no Brasil, 80% delas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

O conflito entre médicos pró e contra o uso da cloroquina se acirrou principalmente nos estados onde os leitos de UTIs na rede pública estão chegando ao fim, deixando a utilização do medicamento como uma das poucas opções.

Mais notícias

Este site armazena cookies para coletar informações e melhorar sua experiência de navegação. Gerencie seus cookies ou consulte nossa política.