Publicado em 30/08/2016 às 17h15.

‘Café Society’, de Woody Allen, homenageia Era de Ouro de Hollywood

Como toda boa história do nova-iorquino, o filme nada mais é do que um relato sobre a vida e seus jogos de coincidência

Clara Rellstab
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

 

“Café Society” (2016), classificado pela maior parte dos críticos como a redenção de Woody Allen após os insossos “Magia ao Luar” (2014) e “O Homem Irracional” (2015),  ainda não conseguiu trazer o velho nova-iorquino às suas obras mestras.

Uma declaração de amor à Era de Ouro de Hollywood – menos inspirada que a homenagem à França dos anos 20, de “Meia-noite em Paris” –,  o filme consegue com êxito retratar  a história de Bobby (Jesse Eisenberg), um jovem judeu que se muda para Los Angeles nos anos 1930, com a esperança de trabalhar no estúdio de cinema do seu tio (Steve Carell). No novo emprego, Bobby conhece as maravilhas da alta-sociedade hollywoodiana e se apaixona por Vonnie (Kristen Stewart), sem suspeitar que, na verdade, ela é amante do seu tio.

Entre encontros e desencontros, registrados pela magistral câmera do gênio Vittorio Storaro, o grande destaque do filme fica por conta da interpretação de Eisenberg (A Rede Social), que consegue dar pele a um Woody Allen muito mais convincente do que os demais alter egos do diretor interpretados por ele mesmo. Roteirista promissor, judeu e aficionado do jazz, neste, conseguimos captar a empatia da mocinha pelo “galã”, diferentemente do que acontecia com os pares românticos dos longas estrelados pelo ator-diretor em seus primeiros anos –  que nos remetiam a um Renato Aragão conquistando a mulher mais bonita dos seus filmes de “Didi Mocó”.

Kristen Stewart (Saga Crepúsculo, The Runways) dispensa sua atuação preguiçosa e esboça um leque de emoções. Coisa rara. Mas a escolha da atriz principal é questionada com a aparição da estonteante Blake Lively, que, em 20 minutos ou menos de tela, consegue se mostrar mais interessante que a primeira, com uma personagem bem resolvida e rica em carisma. Outro ponto alto é a interpretação de Steve Carell, que depois do seu papel “creep” em “Foxcatcher” (2014), parece mais seguro em aceitar papéis que não se debruçam na comédia.

Apesar de ser um deleite ter a voz do próprio Allen contando a história, “Café Society” peca ao tentar estabelecer uma gama generosa de núcleos, em seus curtos 85 min de duração, atropelando a trama principal. As questões que envolvem a máfia nova-iorquina, por exemplo, tornam o filme menos interessante, embora existam diálogos afiados nesta – principalmente as tiradas sobre o judaísmo. Incomoda, mas não é nada muito drástico: com um roteiro bem redondo, o longa entrega o que propõe sem muitos rodeios e com uma fotografia deslumbrante.

“A vida é uma comédia escrita por um humorista sádico”, diz Vonnie em uma das suas primeiras aparições. Como toda boa história de Woody Allen, o filme nada mais é do que um relato sobre a vida e seus jogos de coincidência. Vale o ingresso.

Nota.ba - criticas

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