Nelson Cerqueira será empossado na Academia de Letras da Bahia
O escritor e professor ocupará a Cadeira n° 4, no lugar do engenheiro Geraldo Machado, falecido em 2016. Neste ano, a ALB comemora 100 anos de fundação
O professor e escritor Nelson Cerqueira, novo ocupante da Cadeira n° 4 da Academia de Letras da Bahia, será empossado nesta quinta-feira (11), às 20h, no salão nobre do Solar Góes Calmon, sede da instituição, no bairro de Nazaré. Graduado em Língua e Literatura Alemã pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Nelson é professor/colaborador do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Direito da Ufba e autor de livros como “A estética da recepção da poesia de Agostinho Neto”, “Pêndulo” e “Uma Visita a Jorge Amado”. Ele ocupa o lugar antes pertencente ao engenheiro Geraldo Machado, falecido em 2016.
Sobre a honra de tornar-se “imortal”, em entrevista exclusiva ao bahia.ba, o professor coloca as coisas em perspectiva cultural: “Para mim, a imortalidade é uma coisa intangível. Mas, o registro como memória, considero relevante. É essa situação que me permite falar e uma audiência tomar conhecimento dos escritos ou contribuição cultural de meus antecessores, na cadeira IV: desde Sebastião da Rocha Pita, autor da famosa ‘História da América Portuguesa’, 1730, até meu antecessor Geraldo Machado”.
A menção ao patrono do assento, Sebastião da Rocha Pita, lembra que em 2017 a ALB comemora 100 anos de existência. A instituição foi fundada no dia 7 de março de 1917, seguindo o modelo da Académie Française e da Academia Brasileira de Letras – com 40 cadeiras numeradas, cada uma com o respectivo patrono permanente e imutável, 40 membros efetivos e 20 correspondentes, todos vitalícios. “Minha identificação de estilo ou biográfica com ele [Sebastião] é, meramente, simbólica. O ponto de encontro era falar mais de três línguas”, diz Nelson Cerqueira.
Na solenidade, que é aberta ao público, o novo imortal será saudado pelo confrade Joaci Góes. A partir de então ele fará parte de um time que tem nomes tão diversos quanto Mãe Stella e Paulo Costa Lima, Gerana Damulakis e Samuel Celestino. “O convívio, tenho certeza, será rico. Até porque defendo a diversidade como forma de relacionamento e produção intelectual. Nada como ouvir cientistas do conhecimento escrito e oral para abrir fronteiras e novas inspirações”, alegra-se.
Nelson, que foi eleito para a cadeira no dia 14 de dezembro do ano passado, reflete ainda sobre as mudanças que a ALB sofreu neste século de vida. “Nesses 100 anos de Academia, pelas leituras já efetuadas, a instituição é muito mais plural e seus membros participam muito mais das atividades regulares. O ponto mais alto de mudança é essa pluralidade de ideias e de produção intelectual, que vai desde a literatura infantil até o romance, poesia, ensaio, história, geografia, direito e uma gama ampla de assuntos e temas”, diz.
Questionado pela reportagem sobre possíveis estratégias para aproximar mais a ALB dos jovens, em uma sociedade com tantos déficits educacionais e onde se lê cada vez menos, ele arrisca: “A academia já possui cursos e programas que atraem estudantes. No entanto, sempre haverá espaço para maior alcance. Talvez, algum programa ou projeto com internet e rede sociais possa divulgar melhor e ampliar novas alternativas de encontro entre jovens e imortais”.
E por falar em internet: “A internet sacudiu o mundo literário e criou espaço para novos formatos de produção artística e sobremodo de recepção estética. O mundo da leitura e da pesquisa é radicalmente diverso em 100 anos. A acessibilidade a um livro teórico para pesquisa, hoje, possui dezenas de sites com os mais variados pdfs para baixar, anotar e citar. Um avanço inacreditável. No âmbito da leitura, então, nem se fala: praticamente tudo está disponível online e o próprio meio com Kindle e eBook, por exemplo, facilita crianças e idosos à leitura, a qualquer momento, em qualquer espaço. Não se precisa do livro físico para ler um romance ou um livro de história, enquanto se visita a selva amazônica, por exemplo; nem se precisa levar o livro na bagagem para continuar a leitura durante a viagem a Tanzânia ou a Paris”.
A respeito de Jorge Amado, a quem dedica um livro já citado, lançado em 2014, o escritor destaca a abordagem acadêmica, internacional, que fez da obra do talvez mais conhecido autor baiano. “Minha relação com Jorge Amado sempre foi próxima, até por que fomos vizinhos desde que mudei para a Rua Alagoinhas. O ponto alto de nossa relação começa em 1981, quando ensinei um curso na Indiana University intitulado ‘Jorge Amado: A Portrait of Brazil’, em inglês, e trocamos correspondência acerca da temática e modelo que eu adotaria. Ele, sempre muito gentil, deu-me os caminhos das pedras. […] Acabei da fazer uma conferência nos Estados Unidos, em inglês, dia 27 de abril, para um público especializado sobre a recepção e leitura da obra de Jorge pela mídia americana, focando também em seus editores”.
Aproveitamos para perguntar também, a Nelson Cerqueira, o que é necessário para o estado revelar outros nomes em âmbito pop, nacional, como o foram João Ubaldo Ribeiro e o próprio Jorge. Ele diz: “A Bahia possui talentos, muitos não lapidados ainda, e a possibilidade de autores tão populares quanto Jorge e Ubaldo pode acontecer a qualquer época. Precisamos estimular mais leitura e mais profundidade na temática. Certamente, não basta publicar: é necessário densidade, editor e estratégia de alcance nacional para ser pop em todo Brasil. A Bahia possui várias editoras, mas a distribuição em nível nacional, em massa, não está nessas paragens. Talvez uma editora ousada, com ramificações em todo país, sobretudo São Paulo, Rio e Minas, pudesse abrir caminho para os emergentes e, porque não, consolidados autores baianos”.
Serviço:
O QUÊ: Posse de Nelson Cerqueira na ALB
ONDE: Academia de Letras da Bahia (Nazaré)
QUANDO: Quinta-feira (11), às 20h
QUANTO: Grátis!
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