Publicado em 20/11/2019 às 07h46.

Ópera baiana Lídia de Oxum ganha releitura após 25 anos

Espetáculo será apresentado de 21 a 23 de novembro no palco principal do Teatro Castro Alves

Matheus Morais
Foto: Divulgação/ Ascom Lídia de Oxum
Foto: Divulgação/ Ascom Lídia de Oxum

 

“Quem sai aos seus não degenera”. O ditado popular cabe perfeitamente na história de vida do produtor cultural Ildazio Junior, filho do escritor, poeta, romancista e novelista, Ildásio Tavares, um dos maiores intelectuais da história da Bahia.

Inquieto, irreverente, desbocado e sincero ao extremo, o produtor colocou na cabeça que iria homenagear o pai remontando “Lídia de Oxum”, a primeira ópera brasileira em português. De tanto insistir, o sonho saiu do papel e vai ganhar uma releitura entre os dias 21 e 23 de novembro, no palco do Teatro Castro Alves.

“Era um sonho meu, mas era principalmente um sonho de meu pai remontar a ópera. Eu prometi isso a ele no dia de seu velório e vou cumprir. Ildásio Tavares foi um dos grandes da Bahia, é preciso que ele seja sempre lembrado. Vamos comemorar os 80 anos dele com essa releitura”, disse Junior ao bahia.ba.

Além da ópera – escrita pelo compositor Lindembergue Cardoso em parceria com Ildásio Tavares – dirigida por Gil Vicente Tavares, irmão de Ildázio, as 8 décadas do poeta baiano serão comemoradas com mais três produções e a reedição de quatro livros da coleção Ildásio Tavares.

Ildásio, o “gênio”

Ao todo, 164 artistas estarão divididos no palco entre oito solistas, 75 músicos da Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA), 60 coristas, 20 bailarinos, cinco percussionistas e um violeiro-repentista.

A soprano Irma Ferreira Santos (Lídia de Oxum), a também soprano Izadora França (Gracinha), o tenor Carlos Eduardo dos Santos (no papel de Romão), o baixo Josehr Santos (Bonfim) e o barítono Miguel Nador (Tomás de Ogum) fazem parte do elenco.

Para Ildazio Junior, seu pai foi um dos maiores gênios da Bahia, mas é ainda é pouco valorizado na própria terra.

“Só falam de Jorge Amado, Carybé, João Ubaldo Ribeiro, amo todos eles, mas as pessoas precisam conhecer o gênio que era Ildásio Tavares. A Bahia é ingrata com gente como ele, Miriam Fraga, Sante Scaldaferri, Carlos Bastos, Milton Santos. Ninguém hoje fala mais deles. A memória é curta. Também quero resgatar o nome dessa gente toda”, explicou.

 

Foto: Lindembergue Cardoso
Foto: Lindembergue Cardoso

 

“Em tempos de caretice”, ópera é atual

Apresentado pela primeira vez em 1994, no Palco Principal do Teatro Castro Alves, o espetáculo narra a relação entre brancos e negros em uma fazenda de Santo Amaro durante o período de escravidão.

“Meu pai adorava esse trabalho e acho que fiz certo em convidar Gil para dirigir a parte artística da ópera. Ele tem bagagem, é sério e competente. Ele não se mete na minha área e eu não me meto na área dele. Por isso, nosso trabalho tem harmonia e flui bem”, ressaltou Ildázio. “Se meu pai estivesse aqui, estaria fazendo do jeito dele, perfeccionista, dando esporro em todo mundo”, completou.

Dono de um currículo respeitado na cena cultural baiana, Ildazio Junior ainda criticou o momento vivido pelo país. “Em tempos de caretice, a ópera continua muito atual. Obras como ela nunca deixam de ser modernas porque trata de temas históricos, pertinentes e necessários. Falamos sobre feminismo, machismo, reparação e continuamos na resistência. A Bahia é a resistência”, pontuou.

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