ACM Neto tentou aumentar o espaço político ao acenar para Arthur Lira, avalia cientista político
Cláudio André também fez uma análise de como as eleições na Câmara dos Deputados e no Senado devem interferir na disputa de 2022
Desde os primeiros dias do ano parecia estar tudo certo entre o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o Democratas para montar a plataforma de apoio de Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. No entanto, a água começou a entrar no barco quando Maia não conseguiu articular dentro do próprio partido uma unidade de apoio ao emedebista, e assim, fazer seu sucessor na presidência da Casa.
A gota d’água para o barco afundar foi a reunião no dia 25 de janeiro, em Salvador, entre Arthur Lira (PP-AL) e o presidente do DEM, ACM Neto. Alfinetadas de Maia para Neto começaram a ser lançadas, e o ex-prefeito de Salvador resolveu acenar para o progressista ao retirar o Democratas do bloco de Baleia Rossi já nos acréscimos do segundo tempo, balançando, inclusive, o PSDB poucas horas antes da votação.
A partir daí, muitas especulações começaram a ser feitas e que partiam desde uma possível saída de Rodrigo Maia do partido a cargos para o DEM no governo federal, e até mesmo o cenário de 2022 para ACM Neto, que deve concorrer ao governo da Bahia. Para o cientista político Cláudio André, o ex-prefeito de Salvador buscou ampliar o espaço político no Planalto ao acenar com apoio à candidatura de Arthur Lira, aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
“Tanto que o nome de João Roma ganhou força nos últimos dias nos bastidores para assumir um ministério, também por conta dessa relação com ele [ACM Neto], com uma perspectiva de ocupar espaços, o que impacta diretamente no cenário baiano. Caso ACM Neto tenha nomes no primeiro escalão do governo federal, há uma grande possibilidade dessa ocupação de espaços se refletir em uma liberação de recursos para prefeitos alinhados, que possam até mesmo mudar para o lado dele em uma eventual candidatura para governador”, afirmou o cientista político.
Em relação à saída de Maia do DEM, Cláudio André acredita que o parlamentar deve ser convencido a permanecer no partido, apesar do mal estar entre ele e ACM Neto, devido à grande derrota sofrida nas eleições da Câmara, que resultou em enfraquecimento de sua representatividade política.
“Rodrigo Maia não teve a capacidade de unir o partido em torno da sua estratégia, e, sobretudo, também não se viu capaz de agregar uma articulação que fosse capaz de tirar votos do centrão. Ou seja: que rachasse o centrão. Eu acredito que aí foi o principal ponto de incapacidade do ex-presidente da Câmara. Diante dessa situação, Rodrigo Maia sai como grande derrotado.”
Cládio André avalia que mais importante para o DEM na construção de uma plataforma política para as eleições de 2022 é ver como será a relação do partido com o Palácio do Planalto a partir de agora. Segundo o cientista político, o Democratas tentava viabilizar uma alternativa de centro-direita, dentro de um campo liberal, para o pleito contra o presidente Jair Bolsonaro, mas que a derrota de Baleia Rossi (MDB-SP) enfraquece os planos da legenda.
“É uma situação muito complicada de como o partido vai, a partir de agora, construir um projeto. O que se falava nos bastidores era uma filiação de Luciano Huck ao DEM, uma possível candidatura que estava animando não só o partido, mas vários players da política”, analisa.
Possibilidade de PSDB, DEM e MDB unirem forças nas eleições de 2022
Na manhã de segunda-feira (1), horas antes do início da votação na Câmara Federal, o governador de São Paulo, João Doria, o ex-presidente FHC e o deputado federal Aécio Neves tentaram convencer os parlamentares do partido a não seguirem o mesmo caminho do DEM de deixar o bloco de Baleia Rossi, o que já estava praticamente certo desde a noite de sábado (31). A aliança com o MDB era altamente estratégica para Doria, que tenta construir uma plataforma que viabilize a sua candidatura à presidência na próxima eleição. O aceno de ACM Neto a Lira demonstra então a falta de unidade entre as legendas e convicção em torno do nome do governador para enfrentar Bolsonaro nas urnas. Cláudio André, no entanto, não vê a aliança como estremecida entre as siglas e aposta no fisiologismo político.
“Tudo é possível porque o centrão é muito fisiológico. Então, a grande questão, independente de impeachment, é que Bolsonaro vai precisar atravessar um vale das sombras para conseguir chegar em 2022 com força política e capacidade de ganhar a eleição”, afirmou.
De acordo com ele, a tese de Bolsonaro mais moderado até a eleição é “muito frágil”. “A gente já teve várias provas de que ele não entende a democracia como compartilhamento de poder”.
Na análise de Cláudio André, isso facilita a construção de uma candidatura do centrão em torno de Doria, que deve ser um presidenciável competitivo, se posicionando como uma alternativa moderada de centro-direita. Porém, Cláudio reconhece que a relação histórica entre DEM e PSDB vive um mal estar.
“Ficou uma relação muito complicada até porque a expectativa de Rodrigo Maia era que a sua estratégia fosse minimamente aceita e construída pelos partidos mais próximos a ele. […] Mas é interessante perceber que os partidos caminham juntos e podem lamber as feridas e caminharem novamente”, avalia.
Independência da Câmara dos Deputados e do Senado
Um dos principais questionamentos em torno das candidaturas de Rodrigo Pacheco e Arthur Lira, no Senado e na Câmara, respectivamente, estava ligada a independência do Poder Legislativo, já que ambos os candidatos são aliados do presidente Jair Bolsonaro que não poupou esforços para eleger eles. E agora, a conta deve chegar na mesa deles? Segundo Cláudio André, o centrão sai fortalecido, mas não necessariamente será subserviente ao governo federal. Porém, caso Bolsonaro avance com a ideia de uma reforma ministerial, entregando cargos do primeiro escalão aos partidos mais tradicionais, e dependo da agenda do Planalto, podemos ver um Congresso mais alinhado com o presidente.
“A relação mostrada até aqui é de uma relação direta com a liberação de emendas, de recursos e orçamento. Então, os deputados foram muito pragmáticos em apoiar Arthur Lira, entendendo que há uma capacidade de barganha muito maior comparado com Baleia Rossi”, explica.
ACM Neto x Eleições 2022
Após ACM Neto retirar o Democratas do bloco de apoio a Baleia Rossi, as redes sociais do ex-prefeito de Salvador recebeu diversos comentários criticando a decisão do democrata de se alinhar com um grande aliado de Bolsonaro. Em Brasília, Neto também foi alvo de ofensas, mas dessa vez por parte dos bolsonaristas. Sem conseguir o apreço dos apoiadores de Bolsonaro e recebendo duras críticas de eleitores, estaria ACM Neto adotando uma estratégia suicida para as suas pretensões na disputa pelo governo da Bahia em 2022? Cláudio André acredita que o aceno a Arthur Lira não deve causar uma grande dor de cabeça ao presidente do DEM.
“A movimentação de ACM Neto tem sido de manter uma imagem relativamente solta e descolada de Bolsonaro. […] Uma estratégia ancorada nessa autonomia porque entende-se que ao não compor o governo, o partido fica desobrigado a dar apoio, e assim, manter uma relação mais estratégica com o presidente. […] Mas eu vejo que a estratégia de ACM Neto na Bahia é de olhar mais para o centro, até porque o bolsonarismo na Bahia não é tão forte como em outros lugares, então isso gera uma situação de conforto para ele”, analisa.
É possível que o centrão se alinhe em torno de Bolsonaro em 2022?
Para o cientista político, a tarefa é bastante difícil e depende da reforma ministerial. Ao mesmo tempo que o centrão é fisiológico, ele é pragmático na perspectiva de construir as plataformas estaduais. Cláudio André explica que geralmente os partidos do centrão não replicam as alianças da esfera nacional nos palanques estaduais, e que, portanto, um eventual apoio a Bolsonaro tem um custo muito grande.
“Por exemplo, quase todo o centrão no Maranhão está no governo de Flávio Dino. Na Bahia, parte do centrão dialoga com DEM e com o PT. O PSD e PL, até pouco tempo PR, compunham o governo de Rui Costa. É interessante pensar até aí que o que foi oferecido em todos os governos até hoje é essa travessia de governabilidade pontual sem necessariamente dar um partido por inteiro ou uma aliança mais sólida no âmbito presidencial”, conclui.
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