Candidatura de Wagner não fica ‘inviabilizada’ após operação da PF
Ao bahia.ba, Alberto Carlos Almeida sugeriu que ACM Neto fique na prefeitura e não dispute governo, apostou no potencial de Wagner e disse que Rui Costa poderia concorrer ao Planalto “teoricamente”
O cientista político Alberto Carlos Almeida disse, em entrevista ao bahia.ba, que a operação da Polícia Federal contra o ex-governador da Bahia e secretário estadual de Desenvolvimento Econômico (SDE), Jaques Wagner, não é suficiente para “inviabilizar” a candidatura do petista ao Palácio do Planalto.
“É muito cedo para dizer isso. Até postei no Twitter, que, em abril do ano passado, teve um escândalo grande contra Geraldo Alckmin. De fato, se aquilo evoluísse, o [João] Doria poderia vir a ser o candidato [do PSDB]. Mas, passou quase um ano e o escândalo não foi suficiente para inviabilizar a candidatura de Alckmin”, afirmou.
Autor das obras “A Cabeça do Eleitor” e “A Cabeça do Brasileiro”, Alberto Carlos Almeida sugeriu que o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), fique no cargo diante de uma eleição incerta. Se perder, o chefe do Thomé de Souza pode ficar quase cinco anos sem mandato. “Político sem mandato é um empresário sem empresa”, pontuou.
O sociólogo ressaltou, no entanto, que o democrata soteropolitano pode disputar o Palácio de Ondina, mesmo sabendo que pode perder, por causa de acordos políticos. Para ele, se Rui vencer a eleição de 2018, a Bahia pode virar um “estado petista”, como São Paulo é um “estado tucano”.
O cientista político discorda da tese do governador Rui Costa (PT) de que os aliados do presidente Michel Temer (MDB), como ACM Neto, sofrerá no pleito estadual por ter apoiado o emedebista. “A eleição vai lidar com temas estaduais. É mais importante do que temas federais. É claro que tem o desgaste. Em toda região Nordeste, aqueles muito associados ao governo Temer têm um desagaste forte”, ponderou.
Para Alberto Carlos Almeida, Rui poderia ser candidato a presidente, já que tem bom desempenho no governo da Bahia, mas ressalta que a “tradição” é que o político seja “reeleito para o cargo que ocupa”.
Confira a entrevista na íntegra:
bahia.ba – O prefeito de Salvador, ACM Neto, vive hoje um dilema sobre renunciar ou não ao cargo para ser candidato ao governo da Bahia. Ele não admite publicamente, mas tem receio de a renúncia trazer desgaste político no futuro, como trouxe para José Serra quando deixou a prefeitura de São Paulo. Ele tem motivos para temer a renúncia?
Alberto Carlos Almeida – O José Serra renunciou no primeiro mandato. Ele não disputou a reeleição. O prefeito [ACM Neto] já foi reeleito.
.ba – Então, são circunstâncias diferentes?
ACA – Por essa razão, são. O José Serra foi eleito uma vez e saiu, ao passo que, o prefeito [ACM Neto] foi reeleito. Ele não pode ser mais reeleito.
.ba – Mas a oposição na Bahia avalia que o eleitor enxerga uma renúncia como “fome de poder”. O senhor concorda?
ACA – Não. A dificuldade dele é outra. A dificuldade é como ele consegue se tornar competitivo fora da capital. É o grande problema dele. Então, não sair da prefeitura tem a ver com as avaliações que ele tem feito, por meio de pesquisas. As pesquisas devem mostrar que é possível ganhar na capital, mas não o estado. A capital tem poucos eleitores comparando com o interior da Bahia, onde o governo estadual é muito forte. Acho, então, que o prefeito deve ter uma avaliação que ele não é o favorito. Quem decide eleição é região metropolitana mais interior.
.ba – O senhor, se fosse ACM Neto, renunciaria a prefeitura para ser candidato ao governo?
ACA – Essa pergunta é capciosa. É difícil responder. Respondo como analista. Ele tem pressões políticas que só um político é submetido. Pode haver algum tipo de acordo para ele ser candidato, para ter um palanque estadual para o Geraldo Alckmin. Do ponto de vista do certo e incerto, é melhor ficar na prefeitura. Ele comanda uma máquina política. Ele pode ficar sem mandato. E isso não é bom. Ele pode ficar quatro anos e seis meses sem mandato.
.ba – O que não é bom para nenhum político?
ACA – Político sem mandato é um empresário sem empresa.
.ba – A base do prefeito comenta que, se Neto não for candidato, pode criar na Bahia uma “hegemonia petista”. Também fala que pode haver uma “implosão” da base porque prefeitos podem migrar para o grupo de Rui Costa. O senhor concorda?
ACA – Ele pode tomar uma decisão de ser candidato mesmo não sendo favorito, mesmo tendo grande chance de perder, por causa destes fatores. São fatores que pesam na decisão. Pode ser que a Bahia se torne para o PT o que São Paulo se tornou para o PSDB. Uma cidadela bem guardada. Nas últimas seis eleições para o governador de São Paulo, o vitorioso foi o PSDB. Se Rui Costa vencer a próxima, serão quatro. A Bahia pode vir a se tornar, de fato, um estado petista. Isso pode acontecer sim.
.ba – Isso é positivo ou negativo?
ACA – Procuro não julgar. É uma decisão do eleitor.
.ba – O governador Rui Costa, ao provocar o seu provável adversário ACM Neto, apostou que os aliados do presidente Michel Temer (MDB) serão derrotados na eleição deste ano. O senhor acha que os aliados de Temer podem sofrer na eleição deste ano por causa da alta rejeição do presidente?
ACA – A eleição vai lidar com temas estaduais. É mais importante do que temas federais. É claro que tem o desgaste. Em toda região Nordeste, aqueles muito associados ao governo Temer têm um desagaste forte. Mas, acho que o grande problema dele [ACM Neto] é de fato local. O governador é muito popular no interior. O governador é favorito. Então, ele [ACM Neto] não quer deixar a prefeitura, com a máquina na mão. É uma coisa arriscada. É melhor uma andorinha na mão do que duas voando.
.ba – Por que o senhor pensa que o ex-governador Jaques Wagner é melhor do que o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para ser o candidato do PT a presidente? A operação Cartão Vermelho contra Wagner muda a sua análise?
ACA – Não muda não. É muito cedo para dizer isso. Até postei no Twitter, que, em abril do ano passado, teve um escândalo grande contra Geraldo Alckmin. De fato, se aquilo evoluísse, o [João] Doria poderia vir a ser o candidato [do PSDB]. Mas, passou quase um ano e o escândalo não foi suficiente para inviabilizar a candidatura de Alckmin.
.ba – Então, não se pode dizer agora que a candidatura de Wagner a presidente da República está inviabilizada?
ACA – Depende de outros capítulos. Isso entrou na mídia agora. Foi forte hoje, amanhã, mas depois pode cair. Aí, tem que ver se entra outra coisa, se tem medida judiciária concreta. Não é uma coisa [para inviabilização] que ocorra por conta de uma mídia fortemente negativa.
.ba – Wagner, então, continua sendo um bom candidato do PT para presidente? Muito se comenta que ele não quer postular o Planalto para não ser alvo da Justiça por causa das investigações contra ele.
ACA – Se ele não quiser disputar, é porque não tem condições realmente de ser presidente. Agora, fora isso, ele é alguém inteiramente habilitado para disputar o cargo e ser um candidato competitivo. É um grande negociador. Tem uma carreira política densa e longa. Ele é um político respeitado. Ele tem condições. Mas não acho que é uma coisa de querer individual, porque ele está diante de um partido político.
.ba – Muito se fala que o cenário presidencial será parecido com o 1989. Neste sentido, se comentou aqui na Bahia sobre a hipótese de o DEM lançar ACM Neto candidato a presidente. O senhor acha que ele teria chance se disputasse o Palácio do Planalto?
ACA – Não. Se ele não tem chance no estado dele, muito dificilmente teria como presidente. Se ele não é favorito para governador, muito dificilmente seria para presidente. E [o cenário] não é parecido com o de 1989, porque não foi casada.
.ba – Pareceria porque teria muitos candidatos.
ACA – Isso não está claro. O Huck já saiu. Não está claro isso.
.ba – O senhor disse que ACM Neto não teria potencial como candidato a presidente, porque não é favorito sequer para o governo da Bahia. Rui Costa então teria potencial?
ACA – A princípio, sim. Teoricamente, sim. Mas a tradição é que você seja reeleito no cargo que ocupa para depois dar um passo seguinte. Em 2010, o Wagner iria para reeleição. Ele poderia ser o candidato a presidente naquele momento? Poderia, mas ninguém nunca pensou porque primeiro tem que ser testado na reeleição.
.ba – ACM Neto tem apoiado o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), para o Planalto. A candidatura de Maia tem algum potencial?
ACA – Não acho que o Rodrigo Maia será candidato a presidente. Eu acho que é candidato a deputado pelo Rio de Janeiro.
.ba – E o DEM apoiar na chapa de Alckmin?
ACA – Isso está distante. Ninguém sabe. Talvez, outros partidos tenham mais a oferecer [a Alckmin] do que o DEM. Não sei se o DEM tenha mais oferecer para o Alckmin.
.ba – O senhor acredita que o fato de o prefeito ACM Neto ter sido aliado do ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (MDB), pode desgastar a imagem dele na disputa pelo governo da Bahia? Geddel também foi aliado de Wagner, mas no período em que foi preso era correligionário de ACM Neto.
ACA – Traz um desgaste para ele. A classe política está toda desgastada. E o Geddel tem um problema que é o aspecto simbólico do que aconteceu com ele. A mala de dinheiro. O impacto é muito grande de olhar uma mala de dinheiro. É muito complicado.
.ba – O irmão do ex-ministro Geddel, o deputado federal Lúcio Vieira Lima, continua no grupo. O senhor acha que o prefeito deveria romper com Lúcio e com o MDB na Bahia?
ACA – Do ponto de vista da imagem, para o prefeito, não é bom. Não é bom. Agora, por que não há o rompimento? Tem a política. É difícil romper.
.ba – Lula vai continuar a ter um peso relevante na eleição da Bahia, apesar das condenações?
ACA – Sim, na Bahia e no Nordeste como um todo.
.ba – Qual a sua análise do cenário presidencial?
ACA – A minha previsão básica é que haverá um segundo turno entre o candidato do PT e o candidato do PSDB, que será o Geraldo Alckmin. Em algum momento, o Bolsonaro cai em beneficio de Geraldo Alckmin. O candidato do PT apoiado pelo Lula tende a ir para o segundo turno, graças aos votos do Nordeste.
.ba – E Ciro Gomes?
ACA – Não tem estrutura política. Ele, Marina e Bolsonaro tendem a cair. É uma previsão básica, que pode mudar por causa dos acontecimentos.
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