Publicado em 10/09/2025 às 05h00.

Há 50 anos, Kiss explodia as paradas com o eletrizante álbum ao vivo Alive!

Lançado em 1975, o disco transformou a banda em fenômeno do rock e consolidou seu legado cultural no mundo todo

João Lucas Dantas
Foto: Fin Costello/ Casablanca Records

 

“Vocês queriam o melhor, e conseguiram! A banda mais quente do país, Kiss!”. Imediatamente após essa frase de introdução, Paul Stanley, na guitarra rítmica e vocais, Gene Simmons, no baixo e vocais, Ace Frehley, na guitarra solo, e Peter Criss, na bateria, colocam o pé na porta e, com uma explosão musical, apresentam um dos discos ao vivo mais ensandecidos da história do rock, ganhando de vez a fama mundial com o lançamento de Alive!, que chegou às lojas no dia 10 de setembro, há 50 anos.

Em 1975, o Kiss ainda era apenas uma banda promissora, com três álbuns de estúdio nas costas, mas sem um grande sucesso nas paradas. O grupo ainda não havia chegado ao top das paradas americanas e vivia às custas do cartão de crédito do empresário Bill Aucoin. A gravadora Casablanca Records estava praticamente quebrada e precisava de algum hit para sobreviver.

Conhecido pelo visual teatral, com maquiagens inspiradas nas pinturas faciais usadas no Kabuki (tipo de teatro do Japão), roupas de couro e sapatos plataforma, o quarteto apresentava shows extremamente pirotécnicos, com direito a Gene Simmons cuspindo fogo e sangue falso no palco, e Peter Criss com sua bateria elevada a 10 pés no ar. Já havia um público fiel nos shows, porém a banda carecia de sucesso comercial.

O álbum Alive! tornaria-se, enfim, o divisor de águas da carreira da banda, sendo considerado o “álbum que salvou o Kiss” e um marco nos registros ao vivo do rock. O título foi escolhido em homenagem ao álbum Slade Alive! (1972), da banda glam rock inglesa Slade, um dos ídolos do grupo.

Gravação e produção

O disco foi gravado ao vivo em quatro cidades durante uma série de shows da turnê do álbum Dressed to Kill de 1975, especificamente em Detroit (16 de maio), Cleveland (21 de junho), Davenport/IA (20 de julho) e Wildwood/NJ (23 de julho).

Após as gravações, o material foi levado ao estúdio Electric Lady, em Nova York, para mixagem e overdubs. O produtor Eddie Kramer reconheceu que precisou “criar o álbum a partir dos shows ao vivo com guitarras sobregravadas, porque o Kiss faz um grande espetáculo saltitante – as guitarras não ficam afinadas no palco”.

De fato, apenas as faixas de bateria de Peter Criss ficaram praticamente intactas; quase tudo o mais (vocais, guitarras e até o som da plateia) foi corrigido em estúdio, o que levanta o questionamento sobre se o trabalho pode ser considerado, de fato, uma gravação ao vivo, após ter contado com intensa pós-produção para equilibrar a energia crua dos shows com a qualidade sonora.

Com o tempo, Kramer e os integrantes admitiram que Alive! passou por extensos overdubs em estúdio – inclusive o barulho da plateia foi “ajustado” depois das gravações ao vivo.

Foto: Fin Costello/ Casablanca Records

 

Recepção crítica

Na época do lançamento, o primeiro ao vivo da banda recebeu críticas mistas a negativas. A revista Rolling Stone de 1975 criticou a música do Kiss como “criminosamente repetitiva” e monótona, enquanto Robert Christgau (no Village Voice) demonstrou uma “curiosidade zombeteira”, notando apenas que milhões de jovens continuavam comprando o disco.

Em contrapartida, a visão retrospectiva é amplamente elogiosa: o AllMusic considerou Alive! “o maior álbum do Kiss” de todos os tempos, e críticos modernos apontam-no como registro que melhor captura a energia da banda no palco. O guia Pitchfork deu nota 10 e chamou o álbum de “prova sonora total” do auge do Kiss, e o crítico Martin Popoff destacou que o álbum “transformou o Kiss num fenômeno insano do rock’n’roll”, elevando às alturas canções antes simples.

Em 2015, a revista Rolling Stone colocou a produção no sexto lugar entre os 50 maiores discos ao vivo de todos os tempos.

Vendas e certificações

Surpreendentemente, Alive! foi um grande sucesso comercial. Nos EUA, o disco atingiu o 9º lugar na Billboard 200 e permaneceu impressionantes 110 semanas nas paradas – o maior tempo de carreira da banda. Foi certificado Disco de Ouro (500 mil cópias) pela RIAA em 4 de dezembro de 1975.

Por ser álbum duplo, cada venda conta dobrada nas certificações. Apesar de não ter recebido novas certificações oficiais, estima-se que as vendas mundiais do álbum já tenham passado de cerca de 22 milhões de cópias, tornando-o um dos LPs de maior vendagem do Kiss.

O disco mudou radicalmente a trajetória do Kiss. O sucesso “resgatou” a banda e a gravadora. Nos anos seguintes, todos os três álbuns lançados foram certificados platina, e em 1977 o grupo chegou a liderar pesquisas de popularidade entre adolescentes nos EUA, impulsionado por uma enxurrada de merchandising.

Além disso, o disco teve grande influência no rock ao vivo como um todo: pouco depois, praticamente todas as bandas de hard rock lançaram seus próprios álbuns duplos ao vivo – exemplos incluem Live and Dangerous (Thin Lizzy), It’s Alive! (Ramones), Live Killers (Queen), além de aventuras ao vivo de Led Zeppelin, Cheap Trick etc.

Em suma, a obra consolidou o Kiss como fenômeno cultural e ajudou a estabelecer o padrão de sucesso comercial para discos ao vivo na década de 1970.

Foto: Fin Costello/ Casablanca Records

 

Faixas marcantes do álbum duplo

Com um repertório considerável, após os três discos anteriores, os shows da turnê ajudaram a eternizar de vez alguns clássicos da banda, como “Rock and Roll All Nite”, “Deuce”, “Strutter” e “C’mon and Love Me”. Com 16 faixas, o álbum soma 1 hora e 16 minutos com versões turbinadas dos que vieram a ser os grandes hits do grupo.

Outras faixas muito aclamadas incluem “Black Diamond”, “Hotter Than Hell” e “Parasite”, destacando-se pela energia e peso do hard rock. Em especial, “Parasite” é apontada pela Apple Music como “a canção mais pesada” dos três primeiros álbuns do Kiss.

Também é memorável o humor de Paul Stanley nos vocais. Essas gravações ao vivo trazem riffs explosivos e a empolgação dos shows, elementos que fazem de Alive! um álbum emblemático do repertório da banda.

Curiosidades

Apenas cinco dias após chegar às lojas, o empresário Bill Aucoin (que gerenciava a banda) enviou carta de demissão à gravadora, tentando deixar o Kiss por insatisfação com o contrato. Neil Bogart, então dono da Casablanca, interveio oferecendo US$ 2 milhões para manter o grupo na gravadora – pouco antes de o álbum se tornar um grande sucesso.

A capa do álbum foi fotografada por Fin Costello durante uma sessão realizada em 15 de maio de 1975 no Michigan Palace, em Detroit. Esse local, um antigo teatro vitoriano, estava sendo usado pela banda para ensaios antes de sua apresentação na Cobo Arena, onde o álbum ao vivo seria gravado no dia seguinte.

Durante a sessão, Costello capturou imagens da banda em poses teatrais, incluindo a famosa pose que acabou sendo escolhida para a capa do álbum.

Além da capa, Costello também registrou imagens para vídeos promocionais das músicas “Rock And Roll All Nite” e “C’mon and Love Me”, que foram filmados durante a mesma sessão.

O álbum não apenas consolidou o Kiss como fenômeno do rock, mas também estabeleceu novos padrões para registros ao vivo, unindo teatralidade, energia e impacto comercial, garantindo à banda um legado duradouro que continua a influenciar artistas e fãs até hoje.

 

João Lucas Dantas
Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA

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