Publicado em 06/09/2025 às 08h30.

Cinco músicas que falam sobre sexo e você não sabia

Um dos temas centrais da humanidade, o sexo está presente de forma subliminar em clássicos do cancioneiro nacional

Lula Bonfim
Foto: Reprodução / VEVO

 

Todo mundo sabe o quanto o sexo está banalizado em diversos gêneros musicais. No pagodão, no funk, no trap e no pop, esse tema é recorrente e, muitas vezes, explícito. Mas, quando se fala da marca MPB, consolidada em torno de tropicalistas e amigos que se lançaram nos anos 1960, a nossa música aparenta ser mais puritana.

Só aparenta. Por trás de letras elegantes, há alguns pensamentos nada ingênuos. O sexo guiou e continua guiando boa parte do cancioneiro nacional mais refinado, escondido na beleza de versos elaborados com maestria.

O bahia.ba selecionou cinco múscias brasileiras que falam sobre sexo e muita gente jamais percebeu. Na lista abaixo, você verá citações de letras, as explicações sobre elas e vídeos em que elas são tocadas. Confira:

Em 1976, o carioca Chico Buarque de Hollanda foi convidado para compor a trilha sonora do filme “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, baseado no romance homônimo do escritor baiano Jorge Amado.

O enredo, tanto no livro quanto no filme, é extremamente sensual, com a protagonista Dona Flor se deliciando nos braços do fantasma de seu ex-marido, Vadinho. Tudo isso motivou Chico a escrever a canção “O Que Será”, com suas três versões: “Abertura”, “À Flor da Pele” e “A Flor da Terra”.

A última versão, destacada aqui pelo bahia.ba, foi muito confundida, no passar dos anos, com uma crítica à ditadura militar, mas entrega seu tema real na maioria dos seus versos. Afinal, o que vive na ideia de amantes 

“O que será que será
Que vive nas ideias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia a dia das meretrizes
[…]
E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno, vai abençoar

Afinal, o que é que vive na ideia de amantes, que está no dia a dia de prostitutas e que o Padre Eterno nem pode chegar perto? O sexo.

O medo é comum no início da vida sexual. Muita gente resiste a se entregar ao parceiro ou parceira, por receio moral ou mesmo por temer uma possível dor.

Tudo isso está presente na letra de “Se”, canção de Djavan em que o eu lírico tenta convencer seu interlocutor, indeciso sobre se relacionar sexualmente, a arriscar.

“Você tem que largar a mão do não
Soltar essa louca, arder de paixão
Não há como doer pra decidir
Só dizer sim ou não
Mas você adora um se”

No refrão, Djavan abusa de subjetividade, mas, para bom entendedor, também deixa claro o tema que está sendo abordado. A imagem do eu lírico exposto ao frio indica alguém sem roupa, sem ninguém para se esquentar. Ele quer “um a um”, enquanto a outra pessoa o mantém no “zero a zero”.

No fim, o eu lírico praticamente desiste e declara que é mais fácil alguém aprender um idioma bem complexo do que o interlocutor decidir se vai ou não fazer sexo.

“Eu levo a sério, mas você disfarça
Você me diz à beça e eu nessa de horror
E me remete ao frio que vem lá do sul
Insiste em zero a zero e eu quero um a um
Sei lá o que te dá, não quer meu calor
São Jorge por favor me empresta o dragão
Mais fácil aprender japonês em braile
Do que você decidir se dá ou não

São muitas as canções do baiano Caetano Veloso que têm a sexualidade como enredo. “Quando o Galo Cantou” aborda o momento de contemplação pós-sexo, enquanto “Eclipse Oculto” naturaliza um caso de impotência sexual.

Mas, em “Vinco”, tudo deu e continua dando certo. O eu lírico usa figuras de linguagem para falar indiretamente de penetração, de sexo oral, de orgasmo e da simbiose corporal entre dois parceiros.

“Eu que me posto exato entre teus lados
Determino teu centro, sou teu vinco
Finco o estandarte em teu terreno tenro
[…]
Terra que sente o próprio gosto, terra
Vermelha e rosa de pétala íntima
Mas terra onde eu hasteio uma nação
De desfazer-me eu meu, eu, eu, eu, eu”

Nada é muito direto na obra de Caetano Veloso. Mas o eu lírico finca um estandarte no centro de seu interlocutor e se coloca como divisor exato dessa pessoa. Depois, ele relata que esse terreno é capaz de sentir o próprio gosto. Ao mesmo tempo, é nesta mesma terra — vermelha e rosa, de pétala íntima — que o eu lírico se desfaz, se esvazia de si mesmo. A interpretação é livre, mas sempre quente.

A ousadia do jovem Cazuza está na sua carreira e na sua vida pessoal, já relatada inclusive nas telinhas do cinema. O astro brasileiro morreu jovem, mas deixou uma obra para a eternidade.

Em algumas das suas canções, Cazuza aborda suas aventuras sexuais. Uma delas é “Pro Dia Nascer Feliz”, em que o eu lírico passa a madrugada em claro, fazendo amor com seu parceiro, indo dormir apenas ao raiar do Sol, quando o mundo começa a acordar.

“Todo dia tem a hora da sessão Coruja
Hum, só entende quem namora
Agora, vambora
Estamos, meu bem, por um triz
Pro dia nascer feliz
[…]
O mundo acordar
E a gente dormir”

As referências ficam mais claras quando o compositor fala do típico movimento do corpo durante o ato sexual e de como os músculos se comportam na hora H.

Todo dia é dia e tudo em nome do amor
Ah, essa é a vida que eu quis
Procurando vaga, uma hora aqui, a outra ali
No vai-e-vem dos teus quadris
Nadando contra a corrente
Só pra exercitar
Todo o músculo que sente
Me dê de presente o teu bis
Pro dia nascer feliz”

O duo Anavitória, formado pelas tocantinenses Ana Clara Caetano e Vitória Falcão, atraiu um grande público jovem nos últimos anos, com suas canções que abordam, sobretudo, o amor romântico.

Mas, como amor sem sexo é amizade (alô, Rita Lee), a questão sexual não passa ao largo das composições de Ana Caetano. A sensualidade e o tesão de um relacionamento entre jovens está presente nas canções da dupla, sempre de forma delicada e refinada.

Em “Cor de Marte”, a compositora fala dos arrepios e da impossibilidade de não emitir sons ao sentir o toque da pessoa amada. Em outro momento, ela exalta a textura e o gosto do parceiro, que se encaixa perfeitamente com ela.

“Me passeia, que eu gosto de arrepiar
Sob suas digitais, é impossível calar
É feito sorte, me abraça forte
Tateia todo meu caminho
Me prova, me enxerga, me sinta, me cheira
E se deixa em mim
Me escuta no pé do ouvido
Todos teus sentidos
Que afetam os meus
Que querem te ter
Que tu me escreveu
E mais uma vez
Me beija, que eu gosto da tua textura
Do teu gosto frutado, sorriso colado
O compasso acertado, o ritmo acelerado
Encaixado no meu

Lula Bonfim

Editor do bahia.ba. Jornalista com experiência na cobertura de política, com passagens pelo Bahia Notícias, BNews e A Tarde. Apaixonado por futebol, por cultura e pela Bahia.

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