Procurador pede que MP-RJ continue investigando morte de Marielle
Em seu último dia na PGR, Raquel Dodge pediu na terça-feira (17), ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), a federalização da investigação aberta no Rio
Por Douglas Corrêa
O procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, encaminhou, nesta quarta-feira (18), ofício ao procurador-geral da República interino, Alcides Martins, pedindo que os procedimentos para as investigações das mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes continuem com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
Em seu último dia na PGR, a procuradora-geral Raquel Dodge pediu na terça-feira (17), ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), a federalização da investigação aberta no Rio de Janeiro para apurar supostas irregularidades na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. Caso o pedido de federalização seja aceito pelo STJ, caberá à Justiça Federal, e não mais ao Judiciário local, o julgamento do caso.
Dodge apresentou denúncia no STJ contra o conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) Domingos Brazão, o delegado da Polícia Federal (PF) Hélio Kristian e mais quatro pessoas por obstrução às investigações.
No texto, Gussem explica a Martins que o pedido de federalização refere-se à identificação dos mandantes dos crimes. A atitude é reincidente, uma vez que tentativa semelhante foi executada no ano passado, menos de 24 horas depois das execuções.
No ofício, Gussem destacou o trabalho integrado e colaborativo que vem sendo realizado entre os diversos órgãos encarregados da persecução penal, “bem como sublinha o desacerto da pretensão de federalização diante da postura efetiva e independente dos órgãos estaduais para levar a cabo, em toda a sua extensão, a investigação criminal”.
Apoio da família de Marielle
Gussem citou encontros realizados com os familiares e advogados de Marielle e Anderson. O último ocorreu na sede do MPRJ, na segunda-feira (16), oportunidade em que o procurador-geral de Justiça do Rio reafirmou que a elucidação das mortes de Marielle e Anderson Gomes é prioridade para o Ministério Público do Rio de Janeiro e “que as investigações estão sendo acompanhadas, não apenas pela comissão de promotores formada para o caso, mas por todas as instâncias superiores da instituição, principalmente pela Procuradoria-Geral de Justiça”.
Durante o encontro de segunda-feira, o pai de Marielle, Antônio Francisco, disse ter confiança nos promotores que cuidam do caso. “Me sinto plenamente representado por elas. Se continuarmos aqui, com o processo no Rio, acredito que chegaremos ao final dessa empreitada com êxito. Não faz sentido federalizar a investigação, o que faria com que voltássemos ao início de tudo”, disse.
A viúva de Marielle Franco, Mônica Benício disse estar de pleno acordo com o posicionamento do pai da vereadora. “Até o momento, o deslocamento não interessa a ninguém. Seria um atraso e parece fazer parte de um jogo político. Queremos, sim, chegar às respostas e, dentro dessa busca, a confiança dos familiares está depositada no Ministério Público e nas suas estruturas”.
A viúva do motorista Anderson Gomes, Agatha Reis, disse reconhecer o empenho de todos os envolvidos nas investigações. “O processo correndo aqui fez com que nós ficássemos muito cientes do seu andamento, graças à grande interação com as promotoras que cuidam do caso”, disse.
Witzel é contra federalização
O governador Wilson Witzel disse ser contrário à federalização do caso. Ele disse que tem respeito pelos delegados de Polícia Federal e que eles sabem investigar lavagem de dinheiro, tráfico internacional, corrupção, mas não têm expertise na investigação de crimes de homicídio.
“Será que a Polícia Federal tem mais capacidade técnica do que as polícias para investigar? A PF não tem departamento de homicídios”, disse.
O diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegado Antônio Ricardo Nunes, disse que a Polícia Civil do Rio chegará aos mandantes do crime. “O objetivo é descobrir se houve um mandante e, se houve, a polícia chegará até ele”, disse Nunes.
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