Publicado em 15/04/2016 às 11h20.

Garota de 11 anos reuniu quatro mil livros sobre meninas negras

Marley Dias não se via nos livros que lia; para ela, os materiais didáticos da escola sempre eram sobre "garotos brancos e seus cachorros"

Redação
Marley Dias. Foto: Divulgação
Marley Dias. Foto: Divulgação

 

Uma garotinha de 11 anos se desafiou a reunir mil livros cujas personagens principais fossem meninas negras. O estímulo dela foi a escassa presença de materiais didáticos na escola em que ela pudesse se ver nas histórias e nas personagens.

Em entrevista à Folha, Marley Dias diz que contou com a ajuda da mãe, Janice, para começar a campanha na internet. “Eu estava na quinta série e fiquei frustrada porque só líamos livros sobre garotos brancos e seus cachorros. Daí, eu falei com a minha mãe e ela me disse: ‘ok, mas o que você vai fazer sobre isso?’ E eu decidi que ia colecionar mil livros”, disse.

A garota, que vive em New Jersey, nos Estados Unidos, começou a campanha em novembro do ano passado com a hashtag #1000blackgirlbooks (1 mil livros de garotas negras). A mãe Janice conta que foi difícil. No início elas receberam algumas doações, mas somente depois de aparecerem em um jornal, as obras começaram a chegar em maior quantidade – o projeto já reuniu mais de 4 mil livros (confira o índice on-line com 700 títulos).

Marley explicou à Folha como para ela era importante se ver em uma personagem, de forma que a ajudasse a entender e a lembrar melhor as mensagens dos textos. “Não me entenda mal, eu gostava daquelas histórias, eu só queria algo com que eu pudesse me relacionar”, explicou.

Os milhares de livros reunidos por Marley e pela organização social de sua mãe, a GrassROOTS Community Foundation – que participou ativamente da campanha e da organização dos livros –, foram doados para a antiga escola da garota, além de outros colégios nos Estados Unidos e na Jamaica, onde Janice nasceu.

O projeto não parou aí. Marley e sua mãe esperam continuar a receber doações. “Acho que nós não tínhamos noção do dilema internacional que é essa questão da falta de diversidade e a Marley teve a chance de dar voz a um desafio que muitas pessoas preferem não falar”, disse Janice, em entrevista.

Marley Dias. Foto: Divulgação
Marley Dias. Foto: Divulgação

 

Entre os favoritos de sua grande coleção, Marley destaca o livro Brown Girl Dreaming (não há traduções em português), que conta, em poemas, a história de uma garota afro-americana criada no sul dos Estados Unidos durante os anos 1960 e 1970, em um contexto de segregação racial.

“Eu gostei, porque foi um desafio ler esse livro, já que era poesia”, conta. “Foi bom para eu desenvolver minhas habilidades de leitura e foi muito divertido. Poesia é mais misterioso, porque os autores não tentam te contar o significado direto, você pode ir lendo e fazer o seu caminho”, completa.

Agora, Marley já tem planos de formar um clube de leitura de livros sobre garotas negras. A ideia é que os participantes leiam o volume escolhido durante o verão e depois discutam por Skype ou na internet.

“São livros sobre garotas negras, mas, na verdade, os livros são para todas as pessoas que quiserem ler e você pode aprender muito neles sobre racismo e cultura”, pontuou.

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