Publicado em 21/03/2016 às 06h00.

A Bahia paga caro com os estragos da Lava Jato

Seja qual for o desfecho da Lava Jato, a Bahia sai perdendo. O estaleiro Enseada do Paraguaçu é o exemplo mais visível

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo.”

Eça de Queiroz – Escritor português (1845-1900)

Foto: Carla Ornelas/ GOVBA
Foto: Carla Ornelas/ GOVBA

 

Bahia não será a mesma

Seja qual for o desfecho da Lava Jato, a Bahia sai perdendo. Aliás, já perdeu, e muito. O estaleiro Enseada do Paraguaçu é o exemplo mais visível. Os investimentos somam R$ 2,3 bilhões da Odebrecht, OAS, UTC e o grupo japonês Kawasaki.

As três brasileiras estão enfiadas até o pescoço na Lava Jato. Entre novembro de 2014 e janeiro de 2015, encerraram as atividades sem previsão de volta.

Para além disso, o pior: Odebrecht e OAS, por si, duas das grandes empresas baianas, jamais serão as mesmas. A Odebrecht já demitiu mais de 40 mil funcionários e fala até em tirar o time do Brasil. E a OAS está quase parando, até mesmo projetos imobiliários quase prontos.

De quebra, a Petrobras, que sempre atuou firme no Recôncavo e Nordeste brasileiro, diz que em janeiro encerra suas atividades em terra. Além de mais de sete mil empregos, vai levar também o dinheiro dos royalties que irrigam uma dezena de prefeituras.

Um empresário de alto coturno admite: “Jamais a Bahia será a mesma. A pretexto de pegar os envolvidos na corrupção, pegaram as empresas”.

Collor e Dilma

Algumas aves, tidas pelos petistas como agourentas e pelos oposicionistas como portadoras dos dons da vidência preconizam que Dilma cai até o fim do ano, tal o potencial de agravamento da crise.

Vaticinam elas que Fernando Collor viveu seu último grande momento com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, a Eco-92 ou Rio 92.

A Eco 92 foi em junho. Em dezembro, Collor caiu. A Eco de Dilma seriam os Jogos Olímpicos do Rio, em agosto.

Esperando Marcelo

A tese é adubada pela expectativa de uma possível delação premiada de Marcelo Odebrecht.

Ele reluta, mas já admite. Investigadores da Lava Jato têm Marcelo como um dos maiores arquivos vivos do país. A questão é saber como entrará na delação.

Alguns dizem que seria uma delação seletiva, pegando apenas a dupla Lula-Dilma.

Outros, que seria explosiva, tipo ampla, geral e irrestrita. Em ambas, o governo se dá mal.

Perdas fiscais

Uma reportagem feita pela revista Conjuntura Econômica, editada pela Fundação Getúlio Vargas e Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), sob o título “Estados – A difícil travessia da crise fiscal”, mostra o tamanho do estrago que a crise fez até agora nas finanças estaduais.

Todos apanharam feio, mas se serve de consolo, na comparação de quem mais perdeu, a Bahia fica lá pelo 16º com 2,1% a menos.

Ranking maldito

É uma perda considerável, algo que vai perto de R$ 1 bi, mas bem menos que os 6,90% de Minas (o terceiro), os 5,85% do Rio (o quarto) e até mesmo os 4,08% de Pernambuco (o oitavo), o oitavo do ranking maldito.

Os campeões em perdas são Amapá (11,64%) e Amazonas (9.63%).

Dívidas

A dívida consolidada da Bahia é de R$ 13,39 bilhões. Foi o segundo Estado que mais contraiu empréstimos entre 2008 e 2014, em torno de R$ 1,6 bilhão, só atrás do Rio de Janeiro (R$ 3,6 bilhões).

Mas entre os grandes, é o menos endividado, bem abaixo dos R$ 212 bilhões de São Paulo, dos R$ 93,5 bilhões do Rio, dos R$ 92,4 bilhões de Minas, dos R$ 64,4 bilhões do Rio Grande do Sul e mesmo dos R$ 15,5 bilhões de Goíás e dos R$ 15,4 do Paraná.

Foto: Reprodução/ Professora Coruja
Foto: Reprodução/ Professora Coruja

 

DE LEVE

Itamar Oliveira, médico e ex-prefeito de Ruy Barbosa (duas vezes), é quem conta essa.

Início dos anos de 1960, Itabuna. O prefeito José Almeida Alcântara, o Alcântara (que tornaria a se eleger em 1966 e um ano após, no mandato, morreu de infarto fulminante), enfrentava brigas homéricas com a Câmara, os vereadores começaram a falar em cassá-lo, o bizu tomou conta da cidade.

Em cada casa, em cada esquina, era só que o que se falava, a Câmara queria promover o impeachment do prefeito:

A Câmara lotou no dia em que o processo seria iniciado. Alcântara chamou um assessor, entregou papel e caneta e ordenou:

– Vá lá na Câmara e diga que se tiver um só vereador, um único, que souber escrever a palavra impeachment, eu renuncio hoje.

O impeachment (impedimento, em português) parou aí.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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