Publicado em 04/05/2016 às 08h34.

A Lava Jato tem dois Brasis: o dos políticos e o do resto

Na longa lista de Janot, na banda política, 100% se diz inocente

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“A justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”

Ruy Barbosa, jurista, político e escritor baiano (1849-1923)

 

O ex-governador e, ainda ministro, foi citado por Janot (Foto: Carol Garcia GOV/BA)

 

Na lista de Rodrigo Janot como suspeito na Lava Jato, Jaques Wagner , ex-governador baiano, ainda ministro, deu a resposta padrão: tem a vida limpa, é inocente, está à disposição.

Faça uma busca rapidinha no Google e constate: na longa lista de Janot, na banda política, 100% se diz inocente. Nesse time, está Aécio Neves, que bateu na mesma tecla.

Ninguém nega que o país sofreu uma roubalheira desenfreada. E se assim o é, cabe perguntar: só tem culpado empresário e a arraia miúda da política? E os peixões?

Se vê empresários de alto coturno presos, políticos sem mandato do baixo clero (67 ao todo) também, mas político com mandato, necas.

Ora, nesse caso, é óbvio constatar que empresários e políticos estão no mesmo balaio. E só um paga?

(Foto: Flickr/André Muzell)

Lula na mira

Há quem diga que a intenção da lista ontem divulgada é pegar Lula. Seria alguém do alto clero.

Se o é, que o seja. Se ele tem culpa, pague por isso.

Mas pelos mesmos caminhos, Aécio e outros senadores podem dormir tranquilos. Juram inocência e isso basta.

Por tais práticas, havemos de concluir que o sonho de qualquer brasileiro deve ser tornar-se político.

De deputado federal em diante, ressalte-se.

Cunha, o impune

Aliás, o Brasil da Lava Jato está expondo um câncer institucional ao país, o direito da impunidade para detentores de mandato.

O caso mais emblemático é o de Eduardo Cunha. É presidente da Câmara, comanda o impeachment de Dilma e é eventual substituto de Michel Temer, quando ele assumir.

Ou seja, Cunha é um figurão no alto escalão da República, com tantas e tão robustas acusações, que até parece um acinte vê-lo exercitar o poder com a desenvoltura de quem pode cassar um presidente da República e nada lhe atinge.

É a institucionalização da impunidade.

Desvio de finalidade

Isso suscita outra questão: quando Lula foi cogitado para assumir o ministério de Dilma, não faltou quem recorresse ao STF arguindo desvio de finalidade. Ou seja, ao invés de ministro, ele estaria buscando a imunidade que vira impunidade.

E o STF prontamente acatou os argumentos.

E você quer um desvio de finalidade maior do que escudar-se no mandato para assegurar o direito à impunidade?

 

(Foto: João Brandão/ bahia.ba)

Made in Morro do Chapéu

Acusado por Eduardo Cunha, que disse em uma entrevista a jornais do sul, que ‘ele tem histórico de roubo de toca-fitas na adolescência’, o deputado José Carlos Araújo, presidente do Conselho de Ética da Câmara, onde corre o processo contra Cunha por falta de decoro, atribui o fato ao prefeito de Morro do Chapéu, Cleová Barreto, e ao presidente da Câmara, João Humberto Batista, o Beto, ex-amigos, hoje inimigos na política de lá.

Diz Araújo que o prefeito é acusado pelo Ministério Público de desviar dinheiro da merenda escolar e Beto, de coagir pequenos produtores para vender suas terras.

— Cunha lá e eles em Morro do Chapéu são iguais. Por isso se juntaram.

Catando inimigos

Segundo Zé Carlos, Cunha tudo faz para tentar atingi-lo por sua determinação em levar adiante o processo contra ele no Conselho de Ética.

E nesse mister, anda catando inimigos dele nos quatro cantos do Brasil. Chegou a Morro do Chapéu.

Questão de gênero

O debate sobre o Plano Estadual de Educação, em uma reunião conjunta de quatro comissões, agitou a Assembleia ontem pela manhã. Chegou a ser hilário, embora o assunto seja sério.

O pomo da discórdia: a inclusão da expressão gênero e sexualidade como objeto de tratamento didático-pedagógico na formação de professores.

A deputada Fabíola Mansur (PSB), defensora da causa LGBT, levou uma claque a favor e o deputado Sargento Isidório levou evangélicos e católicos para gritarem contra.

Fabíola Mansur e Sargento Isidório
Montagem bahia.ba (Foto: Amanda Oliveira/GOVBA e Alberto Coutinho/GOVBA)

Duelo na torcida

Com cartazes tipo ‘O estado não pode ser machista. O corpo é nosso e não da bancada moralista’, partidários de Fabíola gritavam: – Já passou da hora! Sexo livre na escola.

Os de Isidório, com faixas tipo ‘Deputado com moral não vota em bacanal’, bradavam:

– Homem com homem vira lobisomem, mulher com mulher vira jacaré.

Intolerância e jacarés

A professora Alda Pepe, da Faculdade de Educação da Ufba, em sua fala, manifestou-se contra a intolerância. E disse que o que se pretendia era uma tolerância respeitosa.

Depois, ressaltou que essa de dizer que ‘mulher com mulher dá jacaré, é até um desrespeito aos jacarés.

Aí aconteceu algo curioso: a galera de Isidório se manifestou contra. Mas dessa vez, tirou os jacarés de cena.

Bola cheia

Amigo pessoal de Michel Temer, o virtual próximo presidente, ex-deputado Genebaldo Correia, está com a bola toda, pelo menos em Santo Amaro da Purificação, onde foi prefeito duas vezes. Lá, todo mundo diz que ele será pilha forte na República.

O próprio Genebaldo admite a amizade com Temer, mas diz que não está atrás desse bonde.

Mas com certeza, estando ou não, se cacifou para falar mais forte na sucessão municipal de Santo Amaro.

Lá, a oposição está entre Flaviano Rohrs e o vereador Justino Oliveira.

Segregação espacial

A Comissão de Direitos Humanos da OAB-Ba realiza sexta na sede da entidade, na Piedade, a audiência pública ‘A questão urbana em Salvador: segregação espacial, direito a moradia e especulação imobiliária’.

O PDDU, motivo de polêmica para alguns segmentos, está em pauta.

No Palacete

O Palacete das Artes diz que não abriu no último domingo porque era feriado de 1º de maio e obedeceu a decreto presidencial.

Mas nos demais domingos, tudo joia.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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