Publicado em 01/08/2016 às 00h00.

Alice e Cia tentam ‘federalizar’ debate em Salvador. Vai colar?

A tática, a rigor, é a mesma adotada na era petista na Bahia. Se agora vai colar, são outros 500; confira o histórico de estratégias de anos anteriores

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“Para a política o homem é um meio; para a moral é um fim. A revolução do futuro será o triunfo da moral sobre a política”

Ernest Renan, filósofo, teólogo e historiador francês (1823-1892).

Foto: Roberto Viana/ Ag. Haack/ bahia.ba
Foto: Roberto Viana/ Ag. Haack/ bahia.ba

 

Alice Portugal, agora sacramentada como principal candidata da banda governista, tenta qualificar ACM Neto como “artífice do golpe”. Jaques Wagner foi na mesma batida.

Não dá para acreditar que eles querem fazer crer que, daqui da capital baiana, Neto tramou e articulou a queda de Dilma, não é? O propósito é outro.

Ponderando que da Bahia, na Câmara e no Senado, saiu a maior bancada contra o impeachment, a pretensão é demarcar os campos, colando Neto com Temer e jogando para aglutinar o campo que hoje governa o Estado.

Noutras palavras, Alice e Cia querem traçar como estratégia a federalização do debate da campanha 2016 em Salvador.

Federalizar, só para clarear, é colocar a questão federal como fato principal. A tática, a rigor, é a mesma adotada na era petista na Bahia. Se agora vai colar, são outros 500.

Vejamos um breve histórico  dos outros embates.

2006

Jaques Wagner, enfrentando Paulo Souto no governo e bem avaliado, grudou no “Time de Lula” e ACM mordeu a isca. Passou a detonar Lula e perdeu. Ou melhor, surpreendentemente Wagner ganhou no primeiro turno, o que ninguém imaginava.

2010

Wagner repetiu a fórmula e foi mangaba. Era tudo a favor, Lula bem avaliado, ele também. E Dilma, então novidade, candidata de Lula, com Geddel tentando voo solo, nem deu para a oposição ameaçar.

2012

Com uma longa greve na rede estadual de ensino e duas greves na PM, não deu para federalizar. O ponto forte foi local mesmo. E Neto faturou.

2014

Mais uma vez o Time de Lula entrou em campo. Dilma nunca teve menos de 63% nas pesquisas e Wagner nunca menos de 54%, como bom, ótimo e regular, contra uma Paulo Souto que pontuava bem nas pesquisas, mas não tinha referências federais (quando Aécio subiu já era tarde demais).

A oposição até jogou o jogo certo, tentando fazer carga nas questões estaduais, como o suposto escândalo de Dalva Sele. O Time de Lula triunfou.

2016

O cenário é outro. Dilma caiu, Temer é o presidente, Geddel se cacifou no poder, Neto é um prefeito bem avaliado e os governistas, com dificuldades para encontrar nomes, tiveram que engolir Alice Portugal, que mais foi imposta pelo PCdoB do que candidata natural.

O Time de Lula conta com Rui Costa, um governador bem avaliado. E tenta colar em Neto essa de “artífice do golpe”.
Vai dar? Sabe-se lá, mas é muito difícil.

Foto: Alberto Coutinho/GOVBA
Foto: Alberto Coutinho/GOVBA

Contra os ricos

Rui Costa começa a articular a partir desta semana encontros com os governadores do Nordeste, e também do Norte, para dar um recado básico: a proposta de Michel Temer para socorrer os estados, com o alongamento da dívida com o Tesouro por 20 anos, a possibilidade de refinanciamento das dívidas com o BNDES e desconto de 40% nas prestações da dívida por dois anos, só interessa aos ricos, especialmente São Paulo, Rio, Minas, Rio Grande do Sul e Paraná.

Os demais, como a Bahia, só têm a perder.

O xis da questão

É simples entender. A Bahia deve R$ 4 bilhões, São Paulo R$ 200 bilhões, simplesmente 50 vezes mais. Ocorre que a Bahia tem capacidade de endividamento de US$ 4 bilhões. E, pelo acordo, ninguém toma empréstimo e ainda tem que suspender concursos públicos por dois anos e vetar reajuste dos servidores por igual período.

— Aí nós vamos pagar pelos pecados que eles cometeram. A Bahia, como os demais, fizeram o dever de casa. Eles não. Só na PM se aposentam de 800 a mil policiais por ano. Como nós vamos fazer segurança assim?

Para completar, os mais pobres pediram uma compensação para as perdas do FPE, que neles pesam mais. Não tiveram.

Cadeia democrática

Ricardo Machado (PT), prefeito de Santo Amaro, reuniu aliados para dizer que o candidato dele continua sendo o vice, Leo Pacheco (PT), que está preso. Disse mais: que mesmo se ele ficar na cadeia, vai elegê-lo.

Há precedentes. Em 2000, Irajuba, na região de Jequié, elegeu Humberto Sólon Sarmento, que passou toda a campanha preso acusado de receptar carga roubada.

A diferença: Santo Amaro não é Irajuba.

Foto: Camila Souza/ GOVBA
Foto: Camila Souza/ GOVBA

 

Estratégia turística

Zé Alves, o novo secretário de Turismo, teve o seu primeiro dia de trabalho ontem já sabendo o que fazer. Foi a São Joaquim e ao Centro de Convenções ver como estão as obras nos dois locais para “dar marcação”.

Ele vai atacar três pontos: tocar os projetos em andamento, correr atrás das demandas atuais, como promoção da Bahia em nível nacional, e reunir todo o trade para juntos projetar os passos futuros com um plano diretor para os próximos 30 anos.

Sem futricas

Zé Alves diz que está para executar os projetos do governo e fazer políticas de Estado, não de governo. Muito menos para alimentar as intrigas e futricas que marcam as divergências no trade:

— Eu e o governador Rui Costa conversamos longamente e estamos harmonizados. Formaremos comissões de cada setor do trade turístico para ouvir todos. É a partir daí que construiremos nossos caminhos.

Caso Rielson

Completou dois anos ontem do assassinato do prefeito de Itagimirim, Rielson Lima, e a polícia encaminhou para a Justiça a conclusão do inquérito. Aponta como mandante Sandro Andrade, irmão do atual prefeito, Rogério Andrade, que era o vice da vítima.

Ou seja, quem mandou matar não foi o vice e sim o irmão, um caso inédito.

A professora Eliade Lima, irmã de Rielson, diz que a sensação é de alívio:

— Não só nós, mas toda a sociedade espera por essa resposta.

Ontem, amigos e familiares de Rielson fizeram passeata em Itagimirim.

Fala Bebeto

Sobre nota aqui publicada dizendo que o deputado Bebeto Galvão (PSB) está se candidatando a prefeito de Ilhéus com apoio de aliados de ACM Neto ele diz o seguinte:

— Minha candidatura é a serviço da formatação de uma política para tirar Ilhéus do estado de calamidade em que está. E aí, todos que apoiam a ideia são bem vindos. E sobre doadores de minha campanha em 2014, todos foram declarados à Justiça conforme a lei. Nada tenho a temer porque nada devo.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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