Bolsonaro recua e cancela entrevista autorizada pelo STF com bilhete à mão

Mesmo com o aval do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desistiu de conceder a entrevista ao portal Metrópoles, que estava agendada para esta terça-feira (23). A decisão foi comunicada de forma manuscrita, através de um bilhete enviado à coluna de Paulo Cappelli. “Informo que não concederei entrevista nesta data, por questões de saúde”, escreveu Bolsonaro.

Ele segue detido na Superintendência da Polícia Federal desde o dia 22 de novembro, após descumprimento de medidas cautelares envolvendo o uso de sua tornozeleira eletrônica. A expectativa para este depoimento público era alta, sendo a primeira manifestação oficial desde sua prisão.

Pressão familiar

Segundo informações apuradas pela Folha de S. Paulo, o recuo não foi motivado apenas pelo quadro clínico, mas por um diálogo familiar interno liderado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e pelo corpo jurídico. Michelle visitou o marido na manhã de hoje, permanecendo no local por cerca de 40 minutos, saindo pouco antes do anúncio do cancelamento.

O entrave principal seria político e familiar. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) era o maior entusiasta da entrevista, esperando um apoio público e explícito do pai à sua eventual candidatura ao Executivo em 2026.

Já a ex-primeira-dama é contra a candidatura do enteado e teme que uma fala de Bolsonaro torne o projeto de Flávio “irreversível”.

Estratégia jurídica

Além do imbróglio familiar, a defesa técnica, reforçada pelo advogado Fábio Wajngarten, avaliou que a exposição seria um “tiro no pé”. Os advogados tentam converter a prisão preventiva em domiciliar alegando justamente a saúde fragilizada do ex-presidente.

A leitura jurídica reforça que se Bolsonaro apresenta condições de conceder uma entrevista jornalística de fôlego, o argumento de que ele está debilitado demais para permanecer na prisão perde força perante o STF. No momento, o foco total da defesa é a alteração do regime prisional, evitando qualquer palanque que possa gerar novos ruídos jurídicos.