Publicado em 21/01/2020 às 14h53.

Denúncia do MPF é ‘ataque à imprensa livre’, diz Glenn Greenwald

"Não seremos intimidados por essas tentativas tirânicas de silenciar jornalistas", afirmou fundador do site The Intercept

Redação
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

 

Denunciado nesta terça-feira (21) pelo Ministério Público Federal (MPF) de ter participado do hackeamento de contas de Telegram de autoridades como o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), o jornalista Glenn Greenwald afirmou à Folha de S.Paulo que a imputação “é uma tentativa óbvia de atacar a imprensa livre em retaliação pelas revelações que relatamos sobre o ministro Moro e o governo Bolsonaro”.

O site produziu reportagens, algumas delas em parceria com outros veículos brasileiros, a partir de diálogos de integrantes da força tarefa Lava Jato. A série de textos, chamada de ‘Vaza Jato’ denunciou diversas irregularidades na condução da operação.

Greenwald não foi investigado nem indiciado pela Polícia Federal, mas o procurador Wellington Oliveira entendeu – a partir de um áudio encontrado em um computador apreendido – que o jornalista orientou o grupo de hackers a apagar mensagens. Segundo o procurador, tal ação caracterizou “clara conduta de participação auxiliar no delito, buscando subverter a ideia de proteção a fonte jornalística em uma imunidade para orientação de criminosos”.

Em vídeo postado em seu perfil pessoal no Twitter, o jornalista acusa Oliveira de “abusar de seu cargo político para atacar inimigos políticos”.


Apesar de ter explicitado uma conduta antiética do então juiz de primeira instância da Lava Jato Sergio Moro – como quando, por exemplo, direcionou ações da Polícia Federal sem pedido do Ministério Público -, a série de reportagens foi minimizada pelo agora minitro do governo federal. Nesta segunda-feira, em entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura, Moro chamou a ‘Vaja Jato’ de “um monte de bobojarada”.

Desde junho de 2019, foram publicadas 95 reportagens pelos veículos The Intercept Brasil, Band, UOL, Folha de S.Paulo, Veja, El País Brasil, Buzzfeed News e Agência Pública.

Procurado pela jornalista Mônica Bergamo para se pronunciar após a denúncia do MPF, Greenwald emitiu um comunicado:

“O governo Bolsonaro e o movimento que o apoia deixaram repetidamente claro que não acreditam em liberdades de imprensa —as ameaças de Bolsonaro à Folha, os ataques aos jornalistas incitando violência, as insinuações de Sergio Moro desde o início da nossas reportagens para nos classificar como ‘aliados dos hackers’ por revelar sua corrupção em vez de ‘jornalistas’.

Há menos de dois meses, a Polícia Federal, examinando todas as mesmas evidências citadas pelo Ministério Público, declarou explicitamente que não apenas nunca cometi nenhum crime, mas também exerci extrema cautela como jornalista, nem cheguei de qualquer participação. Até a Polícia Federal, sob o comando do ministro Moro, disse o que está claro para qualquer pessoa: eu não fiz nada além do meu trabalho como jornalista —eticamente e dentro da lei.

Essa denúncia —levada pelo mesmo procurador que tentou (mas fracassou) processar criminalmente Felipe Santa Cruz por criticar ministro Moro— é uma tentativa óbvia de atacar a imprensa livre em retaliação pelas revelações que relatamos sobre o ministro Moro e o governo Bolsonaro. É também um ataque direito ao STF, que determinou que temos o direito de ter nossa liberdade de imprensa protegida em resposta a outros ataques do ministro Moro, e até mesmo às conclusões da Polícia Federal.

Não seremos intimidados por essas tentativas tirânicas de silenciar jornalistas. Estou trabalhando agora com novos relatórios e continuarei a fazer meu trabalho jornalístico. Muitos brasileiros corajosos sacrificaram sua liberdade e até a sua vida pela democracia brasileira, e sinto a obrigação de continuar esse nobre trabalho.”

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