Publicado em 11/02/2019 às 10h12.

‘Ela deveria colocar negras na capa da Vogue’, diz Olívia Santana sobre polêmica

Primeira deputada estadual negra do estado, a parlamentar afirmou que 'a época da escravidão se tornou fetiche da elite'

Milena Teixeira
Foto: Felipe Iruatã / bahia.ba
Foto: Felipe Iruatã / bahia.ba

 

Primeira negra deputada estadual da Bahia, a parlamentar Olivia Santana (PCdoB) comentou sobre a polêmica festa que a diretora da Vogue, Donata Meirelles, fez na última sexta-feira (8), no Palácio da Aclamação, em Salvador. A baiana afirmou que a socialite deveria homenagear mulheres negras de outra maneira, inserindo elas na revista onde trabalha.

“Ela deveria colocar negras na capa da Vogue. Ela deveria colocar milhares dessas mulheres lá. Isso sim seria homenagem”, afirmou Olívia ao bahia.ba.

Olívia ainda disse que a polêmica foto, que repercutiu nas redes sociais no final de semana,  faz referência ao período da escravidão. “Como mulher e negra, me senti extremamente incomodada com aquela imagem, porque uma foto fala e aquela fotografia da festa transmite a mensagem de senhoras mulheres brancas numa relação cordial com mulheres negras postas em subalternidade colonial. Basta olhar isso em um livro. A questão é que estamos no século XXI […] Aquilo era uma festa de gente branca e rica”, disse a parlamentar.

Veja o pronunciamento de Olívia no Instagram:


Visualizar esta foto no Instagram.

A escravidão se transformou em um fetiche para nossas elites. Em vez de se libertar deste imaginário de senzalas e mucamas, ainda há quem recrie tais estereótipos como ornamentação de festas. Tal prática é recorrente, porque o grau de consciência de uma larga parcela da nossa sociedade ainda está no século 19. As reações nas redes sociais sobre a festa da diretora da Vogue, certamente causou extremo desconforto a ela e espanto aos que não conseguiram ver o que deveria ser óbvio na situação posta. Mas diz o ditado, quem não aprende pelo amor, aprende pela dor. A imagem que ficou das fotografias da festa transmite a velha mensagem de senhoras mulheres brancas numa relação cordial com mulheres negras postas em subalternidade colonial. Não há retórica de apreço que resolva essa assimetria. Claro que baianas fazem parte do nosso universo cultural e são inclusive contratadas para eventos. Mas, convenhamos, numa festa onde quase todos os convidados são brancos e ricos, mulheres negras, com “trajes típicos”, contratadas como enfeites para compor um cenário folclorizado, que remonta de forma romantizada a relação senhoras e mucamas, não deveria ser constrangedor apenas para nós negros, mas para todas as pessoas de bom senso. A situação é lamentável, mas a repercussão é pedagógica. #DescolonizarAsMentes #EducarParaLibertar

Uma publicação compartilhada por Olívia Santana (@oliviasantana_oficial) em

Mais notícias

Este site armazena cookies para coletar informações e melhorar sua experiência de navegação. Gerencie seus cookies ou consulte nossa política.