Publicado em 03/07/2020 às 10h37.

Fernando Gomes sujou na saída. Se desculpou, mas a merda já está feita

"Dia 6 eu vou abrir, morra quem morrer!" Frase do prefeito de Itabuna sobre o comércio de lá

Levi Vasconcelos
Foto: Reprodução/ Políticos do Sul da Bahia
Foto: Reprodução/ Políticos do Sul da Bahia

 

Desde 1976, quando elegeu-se prefeito de Itabuna pela primeira vez, 44 anos atrás, Fernando Gomes de Oliveira já esbanjava o jeitão tipo destrambelhado, sem papas na língua. Chamavam ele de Fernando Cuma. E explicavam: lá um dia, alguém perto dele o chamou: ‘Fernando?’. E ele respondeu: ‘Cuma?’.

Falavam isso para exaltar a rudeza com tempero de pouco estudo do prefeito. Nem por isso ele fracassou. Agora, aos 81 anos, no quinto mandato, vira notícia nacional com um vídeo de péssima qualidade, de imagem e áudio bombásticos.

— Dia 6 eu vou abrir, morra quem morrer!

Merda feita

Ora, Fernando já disse que não será mais candidato, e daqui a seis meses pendura as chuteiras. O futuro é o pijama. Por que na despedida deu uma resposta tão cavernosa, confessando explicitamente que iria praticar um ato que mata gente?

É a contramão plena da lógica. Cientistas debruçados em laboratórios, religiosos rogando a quem eles acreditam, muriçocas fugindo dos nossos tapas e baratas das nossas pisadas estão todos celebrando a vida como bem maior. E governos são estruturados para melhorar a qualidade dela.

O caso expõe um problema do Brasil, a falta de uma coordenação permitiu que cada um faça como bem quer, e a pandemia está virando pandemônio. Outro: foco de governante deve ser sempre o interesse público. Na disputa entre salvar vidas e CNPJs, Fernando ficou com os CNPJs. Claro que ele recebe intensas pressões do comércio, também gritando pela sobrevivência. Aí a questão é de opção.

Na outra ponta está ACM Neto. Ao ser abordado sobre manifestações em sua porta pedindo a abertura do comércio, deixou claro o que vem fazendo, seguir a ciência:

— Eu tenho espírito público e não espírito de porco.

Se Fernando vestir a carapuça, problema dele. Ele se desculpou. Mas como diria o povão, sem relambórios: a merda já está feita.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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