Publicado em 20/11/2019 às 11h45.

Operação Faroeste decreta o dia mais triste na moral da Justiça baiana

É algo nunca visto, ainda mais com o tempero de dois assassinatos. Em nota, o TJ disse que se ‘surpreendeu’

Levi Vasconcelos
Foto: Marcus Murillo/Bahia.ba
Foto: Marcus Murillo/Bahia.ba

 

O 19 de novembro de 2019 virou data histórica na Justiça da Bahia. O fato: na véspera da eleição para a presidência do TJ-BA, a Polícia Federal deflagrou a ‘Operação Faroeste’, que afastou o atual presidente da corte, Gesivaldo Brito; a antecessora, Maria do Socorro Santiago; e os dois candidatos que polarizavam a disputa, Olegário Caldas e Graça Osório; todos acusados de venda de sentenças.

É algo nunca visto, ainda mais com o tempero de dois assassinatos. Em nota, o TJ disse que se ‘surpreendeu’. Óbvio, talvez pelo momento, o da eleição, e pelo desfecho de uma denúncia da qual muito se falava, mas ninguém, nem no âmbito da justiça e nem do político, arriscava a carimbar.

Socorro conterrâneo

Há mais de 20 anos que produtores de Formosa do Rio Preto, um longínquo município lá na divisa com o Piauí e o Tocantins, batia nas portas de políticos e meios de comunicação se dizendo vítimas de grilagem.

Falavam que eram donos das terras, e, de repente, apareceu um novo dono, o borracheiro José Walter Dias, com o aval da Justiça. Ao todo, os que se dizem vítimas, 340 produtores. Alguns eram do Paraná. Como os políticos baianos se esquivaram da briga, recorreram aos conterrâneos que toparam a briga e levaram o caso para a Comissão de Agricultura da Câmara, fato que deflagrou a ação do MPF e da PF. No oeste, não houve festa ontem. Os produtores que pagavam as propinas se dizem vítimas duas vezes. Agora também estão sendo investigados porque pagaram propinas.

Coronel e o acordo

Uma rádio de Barreiras anunciou ontem que no bojo da questão em Formosa ‘tinha um senador envolvido’.

O caso: em maio de 2017, então presidente da Assembleia, Ângelo Coronel (PSD), hoje senador, em nome da ‘pacificação do oeste’, celebrou o acordo em que os produtores que se diziam vítimas de grilagem pagassem 23 sacas por hectares ao borracheiro José Valter Dias. O pagamento é citado na sentença como fruto da ação criminosa.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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