Publicado em 16/12/2016 às 13h19.

Para Dieese, projeto de reforma da Previdência desconsidera desigualdades

Se não fosse a inclusão previdenciária, teríamos 11 pontos porcentuais de pobres a mais no Brasil", citou coordenadora do Dieese

Rebeca Bastos
Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil
Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

 

A reforma da Previdência, como está sendo colocada, não considera as desigualdades pertinentes ao mercado de trabalho existente no país, disse nesta sexta-feira (16)  a coordenadora de Pesquisas e Tecnologia do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sociais (Dieese), Patrícia Polatieri, durante o Debate sobre a Reforma da Previdência organizado pelo Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP.

“Coloco aqui uma preocupação que está sempre presente nas reuniões das centrais sindicais, que é o processo que vai se estabelecer nos debates de reformas e de estabelecimento de um novo país”, disse a técnica do Dieese. Segundo Patrícia, o que os trabalhadores esperam é que seja feita uma reforma da Previdência que caiba os 200 milhões de brasileiros e que todos tenham uma velhice digna. “Esperamos que seja um amplo debate para que a sociedade saiba o que está escolhendo”, disse a representante do Dieese.

De acordo com Patrícia, as conquistas no campo trabalhista são frutos de muitas lutas e não se pode permitir que a reforma da Previdência coloque tudo a perder. “Estudos mostram que a inclusão previdenciária foi importante na redução da pobreza. Se não fosse a inclusão previdenciária, teríamos 11 pontos porcentuais de pobres a mais no Brasil”, citou a coordenadora do Dieese.

É importante, na visão de Patrícia, que se tenha isso em vista nos debates sobre a reforma. Ninguém pode ser contra uma reforma que vai garantir que todos sejam beneficiados. “Mas há um mercado de trabalho que não é igual para todos. Se olharmos bem, o filho de pais da classe média que vai para uma universidade tem condições que não são as mesmas para o filho de um agricultor que começa a trabalhar aos 12 anos e idade”, disse

As mulheres por ,exemplo, lembra Patrícia, trabalham cinco horas a mais por dia que os homens. “As mulheres ainda ficam com as vagas mais vulneráveis e ficam muito menos tempo no mercado formal. Isso precisa ser considerado na reforma da Previdência”, afirmou a técnica do Dieese.

“Não dá para ignorar o mercado de trabalho que temos hoje. Será que regras iguais num mercado de trabalho tão desigual será benéfico igualmente para todos?”, questiona a pesquisadora. De acordo com ela, 60% das mulheres no país se aposenta por idade.E 70% dos trabalhadores rurais se aposenta por idade. As pessoas já se aposentam por idade hoje até por não conseguirem comprovar contribuição à Previdência. Não é verdade que a sociedade se aposenta precocemente”, defende Patrícia.

A coordenadora do Dieese lembra também que a Previdência tem hoje 2,4 milhões e aposentados e beneficiários de pensão. Destes, 90% deles ganham dois salários mínimos. “Estamos falando de R$ 1,7 mil por mês. Juntando os demais, 40% ganham menos que o teto da Previdência. É claro que os acúmulos têm que ser revistos. Mas uma pessoa que perde um companheiro ou companheira não terá, necessariamente, seus gastos reduzidos necessariamente em 50%”, afirmou a representante do Dieese no debate da FecomercioSP.

Ela ressalta que em nenhum momento se foi contra uma Previdência que garantirá uma vida digna às pessoas na velhice. “Mas não podemos cometer mais injustiças contra mulheres e trabalhadores rurais. Os estudiosos precisam pensar sobre que país queremos. Não é bom para ninguém que um país seja rico e seu povo pobre. Não é bom para os empresários. E verdade que as mulheres vivem mais que os homens e que elas são mais pesadas para a Previdência, mas é verdade que elas convivem mais com doenças crônicas”, avalia Patrícia.

Ainda de acordo com a coordenadora do Dieese, quando se fala em expectativa de vida se fala em uma média. Para ela, quem trabalha no Maranhão não é igual a quem trabalha no Sudeste. Quem trabalha na zona rural não é a mesma coisa de quem trabalha na região urbana. “O peso maior do desajuste fiscal tem mais a ver com essa derrocada econômica do que com os gastos públicos. Precisamos rediscutir como vamos retomar o desenvolvimento produtivo no Brasil porque estamos indo para o terceiro ano seguido de recessão. Não é possível fazermos discussões partidas porque assim não teremos a visão do todo”, receitou Patrícia.

A coordenadora do Dieese disse que os trabalhadores estão mobilizados e que a partir da segunda quinzena de fevereiro vão fazer uma jornada de debates com os trabalhadores brasileiros nos seus locais de trabalho. “O Brasil precisa que toda as suas forças se juntem para construir o país que gostaríamos de ter.

 

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