Presidente da Assembleia Legislativa de SP vai barrar homenagem a Pinochet
Ato solene foi solicitado pelo deputado estadual Frederico D'Ávila (PSL-SP), diretor da Sociedade Rural Brasileira
O ato solene em memória do ditador chileno Augusto Pinochet, proposto pelo deputado estadual Frederico D’Avila (PSL) para ser realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo no dia 10 de dezembro, não será mais realizado.
Horas depois da sugestão da homenagem, cujo evento chegou a ser registrado no calendário do Legislativo paulista, o presidente da Casa, Cauê Macris (PSDB), afirmou que vai barrar a iniciativa. Em postagem no Twitter, o tucano afirmou que assinará um ato nesta quinta (21) impedindo que o evento aconteça.
➡️Assino nesta quinta um ato da Presidência impedindo que aconteça o evento em homenagem ao ditador Augusto Pinochet dentro da @AssembleiaSP . O ato será publicado no Diário Oficial do Estado na sexta-feira (22).
— Cauê Macris (@cauemacris) November 21, 2019
À Folha, D’Avila justificou a homenagem afirmando que “o presidente Augusto Pinochet foi sem dúvida, o maior estadista sul-americano do século 20, haja visto o respeito que figuras como Margareth Thatcher e Ronald Reagan tinham por ele”, completando que “não é à toa que chilenos e muitos brasileiros que moraram no país concordam comigo”.
Frederico D’Ávila (PSL-SP) é diretor da Sociedade Rural Brasileira e elaborou o programa de governo do presidente Jair Bolsonaro para o setor.
Ao tomar ciência da proposta, o embaixador do Chile no Brasil, Fernando Schmidt, havia classificado como “lamentável” a realização do ato. “Para nós é lamentável que algo desse tipo ocorra, ainda mais quando os esforços do governo do Chile estão postos em unir o país. Isso só produz rejeição”, disse Schmidt à Folha.
Schmidt lembrou que o Chile passa por uma convulsão social justamente para enterrar as heranças do ditador no país – haverá um plebiscito no país para que a população decida sobre a elaboração de uma nova Constituição, substituindo a que vigora atualmente, que remonta aos tempos da ditadura.
A deputada Beth Sahão (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa, também repudiou a proposta do parlamentar do PSL. “Fico abismada por saber que um deputado deseja utilizar a Assembleia Legislativa para adular um homem como Pinochet, reconhecido mundialmente como assassino, torturador, sequestrador e corrupto, que escondia uma fortuna milionária em 125 contas abertas em paraísos fiscais”, afirmou.
“Se esse deputado insiste tanto nessa homenagem pública, deveria organizá-la lá no Chile, onde milhões de pessoas estão saindo às ruas, quase que diariamente, para protestar contra a herança maldita desse ditador sanguinário, que já foi inclusive condenado à prisão por tribunais internacionais, pelos inúmeros crimes que cometeu contra a humanidade”, completou.
Ativistas de defesa dos direitos humanos e representantes de entidades da área também reagiram à proposta de D’Avila. Para o diretor-executivo do Instituto Vladimir Herzog, Rogério Sottili, “é um despropósito homenagear alguém assim”.
Já o Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Estado de São Paulo), em nota, qualificou a sessão sobre Pinochet como “uma afronta ao Estado democrático de Direito, aos princípios constitucionais do pluralismo político e da dignidade da pessoa humana, além de constituir apologia dos crimes praticados pela ditadura no Chile”.ocialista estaria a léguas de distância”, escreveu.
A Justiça chilena estima que cerca de 3.000 pessoas tenham desaparecido durante a ditadura e que mais de 30 mil tenham sido torturadas.
Outras acusações estão relacionadas à Caravana da Morte – operação criada para eliminar adversários do regime militar chileno -, ao sequestro e tortura de presos políticos em um centro de detenção secreto em Villa Grimaldi, e ao desaparecimento de dissidentes em 1975, na chamada Operação Colombo.
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