Publicado em 26/12/2015 às 06h00.

2016: Dom Murilo aconselha não cometer dois erros no novo ano

Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger diz que para o ano que chega ser melhor do que o que passou é preciso melhorar o próprio coração

Juliana Dias
Foto: Elza Fiuza /Agência Brasil)
Foto: Elza Fiuza /Agência Brasil)

É na passagem do dia 31 de dezembro para o 1º de janeiro que as pessoas encontram a oportunidade para reconsiderar as atitudes do ano que termina e renovar as esperanças, sonhos e planos para o ano que começa. O ritual de expectativas e reinícios não muda ano trás ano, embora, o resultado de um ano melhor do que o que passou dependerá quase que exclusivamente das ações e da maneira como o ser humano encara e vive a vida. Para o Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger é na passagem do ano que as pessoas cometem dois erros crucias para que o novo ano de fato seja melhor do que o que passou.

O primeiro deles é pensar que a melhora vem, involuntariamente, dos outros, sejam eles pessoas,grupos, país etc. “Ora, nossos políticos serão os mesmos, nossos parentes e conhecidos, também. Devemos, sim, assumir o propósito de acender nossa luzinha, para iluminar o mundo e o novo ano – isto é,começar a mudar e melhorar o nosso próprio coração”, diz. O segundo erro apontado pelo Arcebispo é o fato das pessoas fazerem tantos bons planos e no final não cumprirem nenhum. “Assumamos, pois, um só propósito, e propósito que seja possível de ser executado. Assim, diariamente deveremos nos perguntar que passos foram dados naquele dia para conseguir colocá-lo em prática o que prometemos alcançar”, explica.

De acordo com o religioso, o catolicismo está no Ano da Misericórdia, iniciado no último dia 8 de dezembro, e por isso é importante, neste final de ano, rever os relacionamentos, especialmente aqueles onde ainda residem sentimentos de rancor, ódio ou mágoa. “Infelizmente, há pessoas que fazem de seu coração ‘um freezer’, onde guardam, cuidadosamente, toda e qualquer lembrança negativa que têm dos outros e, inclusive, de pessoas próximas a si. Isso faz um mal imenso. Nossa libertação começa quando perdoamos os outros”, assegura Dom Murilo.

Globalização da Indiferença – Com relação ao aumento da violência no país e no Estado, o Arcebispo é sucinto: “é fruto de uma cultura, de uma mentalidade”. E faz referência ao que o Papa Bento XVI chama de “globalização da indiferença”, ou seja, quando o individualismo é tido como valor, também conhecida como Lei de Gérson. Para ele, o aproveitamento de todas as situações em benefício próprio, sem se importar com questões éticas ou morais, é a responsável pelas relações cada vez mais indiferentes frente aos mais frágeis e frascos. “Tudo isso sem falar no desvio de verbas e na busca de meios (o tal de ‘jeitinho brasileiro’) para não se pagar impostos ou cumprir nossos deveres. Com tudo isso, faltam recursos para a educação, para o saneamento básico, para a saúde etc. Deseja-se, então, mais investimentos na segurança”.

Segundo Dom Murilo, para a preservação da ordem pública é necessária uma mudança mais profunda nas atuais lógicas do que é e como deve ser tratada a segurança pública e uma delas não está relacionada com o policiamento ostensivo. “Ora, não será possível termos policiais em cada esquina, em cada ônibus, em cada situação onde as pessoas vivem, passeiam ou trabalham. Portanto, ou mudamos os fundamentos de nossa sociedade, ou nosso mundo será cada vez mais violento e sem esperança”, conclui.

 

Sem dúvida, a ganância humana é uma das responsáveis pela criação de um círculo vicioso que impede o respeito e o diálogo mútuo, especialmente quando a intolerância está presente no campo religioso. Para Dom Murilo, é inacreditável que os preconceitos religiosos ainda persistam em pleno século 21 e condena com firmeza o fundamentalismo por trás dos conflitos. “Precisamos aprender a conviver com quem pensa de maneira diferente ou, mesmo, contrária à nossa. O diálogo nos obriga a nos colocarmos no lugar do outro, para vermos as pessoas e os acontecimentos sob o seu ponto de vista. A partir daí, ficamos mais humildes, pois começamos a compreender melhor seus pontos de vista (‘Um ponto de vista é a vista de um ponto’). A paz é, pois, fruto do respeito ao outro e do diálogo. É incrível que, mesmo depois de duas guerras mundiais, ainda não tenhamos aprendido isso”.

 

 

Mais notícias

Este site armazena cookies para coletar informações e melhorar sua experiência de navegação. Gerencie seus cookies ou consulte nossa política.