Fim do arrastão da quarta de cinzas divide opiniões entre moradores e ambulantes na Barra
O projeto de lei deve ser avaliado pelo prefeito ACM Neto nos próximos dias
Um projeto de lei que foi aprovado pela Câmara dos Vereadores na quarta-feira (11) tem gerado polêmica nas ruas de Salvador. Foliões, ambulantes, trabalhadores e moradores do bairro da Barra dividem opiniões entre ser contra ou a favor do arrastão.
O Projeto de Lei 45/16, de autoria do vereador Henrique Carballal (PV), proíbe a realização de eventos profanos na Quarta-feira de Cinzas em Salvador, dia que marca o início da quaresma, tempo de penitência e oração mais intensa para os religiosos, principalmente católicos.
O bahia.ba foi às ruas para ouvir as opiniões relacionadas à proibição da festa profana. A maioria dos entrevistados é a favor, com a justificativa de que esse é o único dia em que pessoas que trabalharam durante os seis dias de festa têm para se divertir.
Genilson Silva é gari há dois anos. Ele disse que todos os anos trabalha durante todos os dias de festa e que na quarta-feira é o dia em que ele tira para poder curtir o restinho da folia. “O arrastão é ótimo! Principalmente para a gente que trabalhou durante todos os dias de festa. Independente de que comece a quaresma ou não, eu sou contra essa proibição. Aquela galera que trabalhou os seis dias de carnaval também tem o direito de se divertir”, afirma Genilson.
Lucivaldo Santos é ambulante no Farol da Barra há mais de 20 anos e também discorda da declaração do vereador. “Como ele pode tirar a atração que é do carnaval? Nós ambulantes já sofremos tanto. O carnaval é a época que mais vendemos. Tirar um dia no final da festa para se divertir é o mínimo depois de ter trabalhado tanto”, contesta o ambulante.
Já o guardador de carros Florisberto França concorda com a proibição da festa na quarta de cinzas. Para ele, a folia deveria ter apenas quatro dias: começar no sábado e terminar terça, como era antigamente. “Eu já gostei muito de carnaval. Hoje eu prefiro ir pro interior. É muita violência! Esse arrastão mesmo é um exemplo. Só incita mais ainda a violência. Acho que essa quantidade de dias de festas que a prefeitura tem colocado só prejudica a população”.
Entre os moradores as opiniões estão dividias. O engenheiro Aurélio Oliveira disse ao bahia.ba que é contra a lei, e que o arrastão é uma tradição que não deve ser quebrada. “É um momento onde uma parte população que não teve oportunidade de curtir vai aproveitar. Além do mais, gera renda e fomenta o comércio local”.
Mas para Antenor Fonseca, que mora há 20 anos no bairro, o arrastão e o carnaval em si só fazem atrapalhar a vida do morador. “Eu já fui multado pela prefeitura. Para entrar e sair de casa é muito ruim. Por mim, quatro dias de carnaval já são suficientes. É desconfortável para o morador conviver com tanto barulho e sujeira por quase duas semanas”, reclamou.
O bahia.ba entrou em contato também com a Associação de Moradores da Barra (Amabarra). Eles enviaram uma nota referente ao tema, e disseram que não são contra o arrastão, mas ponderam que sim precisam que ‘a prefeitura olhe com mais carinho para o bairro’, principalmente em relação a fiscalização nos dias de festa.
“O evento por si só não é o problema. Os vereadores perderam uma grande oportunidade de chamar os bairros envolvidos para discutir o modelo de Carnaval em áreas residenciais. Os moradores sofrem com a imobilidade, poluição sonora, sujeira, restrição no trânsito, com a restrição de mercadorias no comércio da região, com os ambulantes que acampam nas portas das garagens e bloqueiam ruas e calçadas e com a insegurança.”, disse Waltson Campos, presidente da Amabarra.
Eles reclamaram também da poluição no mar, que, infelizmente, não há fiscalização que fique em cima dos foliões. “O bairro sofre com a ocupação do espaço público por empresas privadas. Os sítios históricos sofrem com a depredação. As praias e o Parque Marinho da Barra, com o despejo de lixo, muito lixo. Os ambulantes sofrem com a falta de higiene, dormem nas calçadas sujas nesta época do ano. Não possui segurança. Crianças trabalham e dormem ao relento, expostos aos perigos”, enfatizou Waltson.
O projeto de lei deve ser avaliado pelo prefeito ACM Neto nos próximos dias.
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