Santa Bárbara e Iansã alimentam esperanças no seu dia

É de se esperar que, no dia 04 de dezembro, milhares de devotos de Santa Bárbara e filhos da Orixá Iansã se reúnam no Centro Histórico de Salvador para saudar a soberana dos raios e das tempestades em ambas as religiões, catolicismo e candomblé. A espera também faz parte da vida dos comerciantes dos Mercados de Santa Bárbara e São Miguel para continuar subsistindo nos outros 364 dias do ano.

A esperança de Derivaldo Santana, também conhecido como Deco de Omolu, e de Maria Isabel Batista é revitalizada a cada ano com as bençãos da padroeira dos mercados, Santa Bárbara. O senhor de 80 anos, que leva no nome o orixá da renovação dos espíritos, é um dos permissionários do Mercado de São Miguel (Baixa dos Sapateiros) e defensor convicto do velho ditado: a esperança é a última que morre. “Nesta dia 04, eu e os 25 permissionários daqui ganhamos uma dose de auto-estima, tanto com a celebração à santa e à orixá, quanto com o único diazinho (sic) do ano que podemos chamar de o melhor”, conta Deco de Omolu.

O fio que conduz a crença de tempos melhores de Deco de Omolu é o mesmo que também ilumina o dia 04 de dezembro no Mercado de Santa Bárbara. Para a presidente da associação do espaço, Maria Isabel Batista, as dificuldades continuam e elas estão, especialmente, na precariedade dos telhados e das instalações elétricas. “A gente mantém a tradição para que elas, Santa Bárbara e Iansã, continuem iluminando a nossa existência aqui, por mais que o que arrecadamos no dia 04 não pague os custos que tivemos para realizar a festa”, explica. Anualmente a associação oferece o tradicional caruru para cerca de 10 mil pessoas.

Tombado pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade, o Mercado de São Miguel e seus 25 comerciantes esperam por uma nova reforma, prometida tanto pelo Governo do Estado quanto pela Prefeitura de Salvador. “Isso aqui virou canteiro de obras das intervenções que estão sendo feitas na Baixa dos Sapateiros”, conta Deco de Omolu, apontando para os boxes abandonados e para os tapumes que tentam “tapar o sol com a peneira”, ou seja, esconder o abandono.

Fiéis e filhos de Santo – Em tempos de guerras e violências, frutos de intolerância religiosa, um grupo de 35 amigos de São Paulo mostrou que a fé é o que os une, independente de religião. Ao todo são 15 anos de idas e vindas no dia 04 de dezembro para saudar Santa Bárbara e Iansã. Formada por devotos da Santa e filhos da Orixá, o grupo vem a Salvador anualmente para agradecer e celebrar. “Ela é uma santa que dá força para a gente, seja nas tempestades internas e externas”, diz a funcionária pública federal, Célia Moura. O mesmo estímulo recebe a assistente jurídica Márcia Santos: “Foi Iansã que ajudou meu filho mais velho a conseguir um transplante de rim e sou muito grata a ela”.

Minutos antes de começar a missa que iniciou os festejos em homenagem a Santa Bárbara e Iansã, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, não havia uma pessoa que não reparasse em uma senhora vestida de baiana e um rapaz ao seu lado que levava nos braços uma bebê. O trio veio diretamente de Santos, litoral de São Paulo, para pagar uma promessa que envolvia o nascimento da pequena Celina, com apenas 35 dias de vida. “Já tem seis anos que eu venho pra festa, mas esse ano é especial porque trouxe meu filho e minha neta. Nós pedimos muito que Celina chegasse e hoje ela é nossa grande alegria”, conta a avó e baiana de acarajé Tereza Ourides Ramos, que além de ser devota de Santa Bárbara, é iniciada no Candomblé e filha de Xangô e Iansã.

Procissão – Andor de Santa Bárbara sai da igreja acompanhado pelos andores de Cosme e Damião, São Jorge, São Sebastião, São Miguel Arcanjo, São Lázaro e São Gerônimo.