Antonio Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.
Um domingo bombástico
Passado o transitório desassossego, ficaram as lições do sentimento geral de insegurança e medo gerado que, alimentado e acentuado pelas redes sociais, não podia ser desprezado
Não é sem sentido que o jurista espanhol Jesús-María Silva Sánchez, um dos mais respeitados penalistas da atualidade, define a sociedade em que vivemos como a “sociedade do medo” ou a “sociedade da insegurança”, pois, a cada dia, aumentam as formas que os nossos temores podem assumir neste mundo globalizado.
Nesse contexto, por mais que a segurança pública seja a preocupação de governantes, autoridades policiais e da sociedade em geral, a insegurança e o medo são um dos problemas que mais afligem o cidadão brasileiro nos dias de hoje. Afinal, novos perigos são descobertos e anunciados a todo o tempo e a todo lugar, a ponto de não sabermos bem quando, como, onde e o que nos ameaça e se nos vitimará ou não.
Vivenciando a atmosfera dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, não podíamos deixar de ser impactados com os efeitos devastadores dos atentados recentes ocorridos na Europa, particularmente em Paris, Nice e Munique que, ao exporem as vulnerabilidades dos serviços de contraterrorismo europeus, potencializaram nossas preocupações com a segurança dos grandes eventos, ao acrescentar nessa complexa equação um elemento que parecia muito distante de nós: o terrorismo.
É obvio que, no planejamento da segurança do maior evento esportivo do planeta, esse fator estava considerado, assim como foi levado em consideração na preparação da Copa do Mundo, em 2014, todavia, como está mais do que comprovado que o ataque surge sempre sem aviso prévio, no lugar e no momento em que menos esperamos, a preocupação principal que, no passado, estava centrada nos black blocs, hoje, com certeza foca o Estado Islâmico e os chamados “lobos solitários”, simpatizantes que agem de forma independente.
Queiramos ou não, ao sediar um evento que reúne mais de 10 mil atletas de 200 países, muitos dos quais envolvidos em confrontos bélicos e inimigos de grupos fanáticos, o nosso país, também, se transformou em um alvo de terroristas. Assim, é natural que os nossos cotidianos sentimentos de insegurança e medo ganhem novos contornos e novas dimensões a cada dia, influenciados que são pelas preocupações das agências de inteligência e pelas medidas conjuntas adotadas com o governo brasileiro para tentar se antecipar a qualquer ataque, a exemplo da “Operação Hashtag”, a primeira a ser deflagrada pela Polícia Federal após a sanção em março da Lei 13.260 de 2016, a Lei Antiterrorismo, em meio a muitas controvérsias.
Considerado apto a prover segurança para a Olimpíada, o país não consegue impedir ataques a caixas eletrônicos
Nessa lógica, mais do que nunca, a figura onipresente e indissociável do medo, a fomentar uma terrível e indisfarçável sensação geral de insegurança está em toda a parte, pois o risco de contágio das ações dos terroristas a outros radicais de diversos matizes e a portadores de distúrbios psiquiátricos que possam ser influenciados a cometerem atos semelhantes é real e o vírus pode manifestar-se no Rio de Janeiro e em outras cidades que vão sediar eventos dos jogos olímpicos.
Foi isto o que ocorreu ontem, domingo, nas instalações de uma grande instituição de ensino superior da nossa capital, onde as ameaças de um homem, supostamente vestido com um colete com explosivos, causaram pânico e um grande tumulto, quando cerca de 3 mil candidatos se preparavam para realizar a prova da primeira fase do Exame da OAB.
Depois de uma grande mobilização policial, com a atuação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da PMBA, o acompanhamento de equipes especializadas do Centro Integrado de Comando e Controle do recém-inaugurado Centro de Operações e Inteligência de Segurança e a providencial intervenção de um juiz federal, o causador da crise, que apresentava sintomas de transtornos mentais, se entregou. Não foram encontrados em seu poder explosivos ou armas, mas apenas inofensivos simulacros, nem tivemos mortos ou feridos a lamentar.
Passado o transitório desassossego, ficaram as lições do sentimento geral de insegurança e medo gerado por um domingo bombástico que, alimentado e acentuado pelas redes sociais, apesar de desproporcional em relação à existência concreta do risco, não podia ser desprezado, nem minimizado.
Não devemos nos enganar, pois, os resultados poderiam ser outros, caso o perpetrador fosse um lunático ou um fanático portando explosivos e disposto a detoná-los. Afinal, estamos diante de uma hipótese perfeitamente possível, já que não faltam motivos para a ação e estamos tratando de um país e de um estado que, à semelhança das demais unidades da federação, apesar de considerado apto para sediar e prover a segurança para os eventos dos jogos olímpicos, não se mostra capaz de sequer antecipar e impedir que ataques a caixas eletrônicos, com dinamite, sejam ocorrências relativamente comuns, tanto em sua capital como em diversas cidades do interior.
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