2024 foi o ano mais letal da aviação brasileira em uma década, aponta pesquisa
163 pessoas morreram em acidentes aéreos no país. O número é superior às 104 mortes de 2016, até então, o ano mais letal na série histórica
O ano de 2024 foi marcado por tragédias aéreas como a queda de um avião da Voepass, em agosto, que vitimou 62 pessoas em Vinhedo (SP), e tornou o último ano como o mais letal da aviação brasileira em uma década. É o que apontam dados estatísticos divulgados pelo painel do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer) do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) nesta sexta-feira (10).
Segundo matéria da Folha de São Paulo, os dados do Cenipa detalham que, no ano passado, 163 pessoas morreram em acidentes com aviões, helicópteros e outras aeronaves no país. O número é superior às 104 mortes de 2016, até então, o ano mais letal na série histórica comparada. Foram 175 acidentes aéreos durante todo o ano de 2024 —sendo que 44 com mortes—, o maior na década, com três óbitos a mais que os registrados em 2015.
Este recorde no número de letalidades foi atingido nos últimos dias do ano passado, quando em 22 de dezembro, a queda de um turbohélice em uma área urbana de Gramado, na Serra Gaúcha, matou dez pessoas. Segundo a Infraero, a aeronave levantou voo em meio à chuva no aeroporto de Canela (RS), e caiu minutos depois. O avião seguiria para Jundiaí, no interior de São Paulo.
Foi o acidente em Vinhedo, porém, que inflou as estatísticas de 2024, sendo o desastre mais letal do país desde 2007, quando o acidente com o voo 3504 da TAM nos arredores do aeroporto de Congonhas, na zona sul paulistana, deixou 199 mortos, e um dos dez piores já registrados no Brasil.
A aeronave de modelo ATR 72-500 era operado pela empresa Voepass. O voo seguia de Cascavel (PR) para Guarulhos (Grande São Paulo), desceu em queda livre, girando, até atingir a área o condomínio Recanto Florido, no bairro Capela.
Falha ou mau funcionamento
Com 457 relatos na década, falha ou mau funcionamento de aeronaves estão entre as principais causas de acidentes. Em 299 vezes houve perda de controle em voo. O estado de São Paulo lidera as estatísticas, com 287 acidentes —o levantamento não distingue casos com ou sem mortes.
Na conta de letalidades, 20 acidentes de helicópteros, sendo sete deles fatais, entram na equação, tendo provocado 15 mortes em 2024. Em um deles, quatro bombeiros, um médico e um enfermeiro morreram em 11 de outubro quando tentavam resgatar o corpo de um piloto vítima de queda de avião horas antes na região de Ouro Preto (MG).
Especialistas ouvidos pela reportagem defendem a segurança na aviação brasileira e dizem que a alta nos acidentes aéreos está diretamente relacionada ao crescimento das operações aéreas no país.
Um levantamento da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostra que 8 milhões de pessoas foram transportadas em voos comerciais no país em novembro de 2024, segundo o dado mais recente. O número é 8% maior às 7,4 milhões de pessoas embarcadas em aviões no mesmo mês de 2015, mas ainda ligeiramente inferior aos 8,1 milhões de viajantes em novembro de 2019, antes da pandemia.
“Os aviões estão voando mais, tanto que há aeroportos, como o de Congonhas, quase saturados”, diz Roberto Peterka, piloto aposentado da Força Aérea Brasileira e perito em investigações sobre acidentes aéreos.
Peterka afirma que, apesar da segurança da aviação brasileira estar no mesmo patamar dos principais países, é necessário um trabalho maior de prevenção em segurança junto a empresas, pilotos e escolas de pilotagem.
Henrique Hacklaender, piloto de avião comercial e presidente do SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas), afirma acreditar que a maior quantidade de aeronaves no céu, possibilita um cenario de segurança ainda maior para a aviação brasileira, se comprado com anos anteriores, mesmo com a estatística recorde de acidentes.
Ele, porém, reclama de fadiga em tripulações por causa de “escalas extremamente otimizadas” pelas empresas aéreas. “A aviação ainda é um ambiente seguro, mas é claro que se voa cada vez mais perto dos limites”, diz.
A Anac começou a discutir no ano passado propostas de alterações em requisitos relativos ao gerenciamento do risco de fadiga de tripulantes nas operações da aviação comercial —um estudo norueguês estimou que de 70% a 80% dos acidentes aéreos são provocados por erro humano.
Atualmente, o processo está em discussão na área técnica da agência e depois deverá ser repassado para a diretoria para elaboração de um documento. “É uma briga grande entre sindicatos e empresas”, afirma Hacklaender. Procurada para falar sobre o documento, a Anac não respondeu até a publicação deste texto.
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