Publicado em 08/12/2015 às 09h24.

Temer rompe com Dilma e vitamina o impeachment

Levi Vasconcelos analisa carta enviada pelo vice-presidente à mandatária nacional

Levi Vasconcelos
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

 

Estará o vice-presidente Michel Temer assumindo de vez a oposição a Dilma? Parece que sim. Na carta que ele mandou a Dilma, tida como um desabafo, soa a rompimento. E por tabela, botando azeite na questão do impeachment. Melhor, habilitando-se para assumir o governo.

Diz Temer que Dilma nunca confiou nele. E os dois tinham razão, ela de não confiar e ele de dizer isso. Desde o início do ano, quando o governo sangrava em uma desarticulação política esbagaçada, Temer já conversava com interlocutores falando expressões como ‘no meu governo…’, deixando claro que estava pronto, ou no mínimo querendo, sentar na cadeira presidencial. Mas publicamente fazia juras de amor a Dilma.

Caminho aberto – Temer também se posicionou ostensivamente contra a ideia da cassação de Dilma via Justiça Eleitoral. Elementar, ele iria junto, já que, em tais casos, cassa-se a chapa, não apenas o cabeça.

Pelo que se diz em Brasília, o tucanato, que faz qualquer negócio para rifar o PT do poder, tinha o receio de Temer tomar gosto pelo poder e em 2018 pretender postular a reeleição. A ideia foi descartada. E o caminho abriu-se. Noutras palavras, Temer faz agora às claras o que fazia por debaixo do pano.

Vacina – Na carta, Temer dá um show de estratégia. Queixa-se que passou os quatro primeiros anos como um vice decorativo, nunca foi consultado em questões econômicas e até mesmo alijado em solenidades oficiais, como a recepção ao vice dos EUA, Joe Biden, com quem fez amizade.
No marketing político o nome disso é ‘vacina’. Vacina contra quê, perguntaria você. Elementar por dois motivos.

1 – Se Dilma foi beneficiária eleitoralmente do esquemão da Lava Jato, como dizem os tucanos, ele também foi, mas tenta construir uma blindagem política ao afirmar que de nada participava.

2 – O impeachment em si não é golpe, mas no caso fica parecendo. Questão de oportunismo: se as queixas eram tantas há tanto tempo, por que externá-las agora? O desabafo é para tentar convencer que não aguenta mais. Embora para consumar o impeachment a oposição precise de dois terços da Câmara, ou 342 deputados, o que não é pouco, o Natal 2015 de Dilma não será bom. Está mais para infeliz.

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