Governo teme nova ‘onda’ de manifestações no país
Grupos que lideraram atos pró-impeachment convocam para este domingo protestos; Planalto receia virar alvo, avaliação é de que Congresso ajudou a aumentar tensão política
As manifestações de rua previstas para este domingo (4), em todo o país, preocupam o Palácio do Planalto. O receio é de que os protestos sirvam para puxar uma perigosa onda de mobilização pela saída do presidente Michel Temer (PMDB), como aconteceu com Dilma Rousseff (PT), deposta em agosto por um processo de impeachment. Na avaliação do governo, o Congresso contribuiu, nos últimos dias, para aumentar a tensão política, ao aprovar um pacote que desfigurou as medidas contra a corrupção.
Sem conseguir reduzir sua impopularidade e sofrendo um revés atrás do outro na economia, Temer procura escapar de eventos em locais abertos desde que assumiu o cargo, há seis meses, mas ontem, após ser criticado, compareceu ao velório de jogadores da Chapecoense e jornalistas na Arena Condá, em Santa Catarina. A “voz das ruas” também foi a justificativa usada pelo presidente, há uma semana, ao anunciar que jamais sancionaria uma proposta de anistia a caixa 2, caso a iniciativa fosse aprovada pela Câmara. Foi surpreendido, porém, com críticas de tucanos, para quem a fala expôs a fragilidade do governo.
O comportamento do PSDB na crise tem causado estranheza a Temer e até ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Na quarta-feira (30), por exemplo, o presidente soube que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) participou da articulação para tentar votar, a toque de caixa, o pacote aprovado pela Câmara, no qual foi embutido o crime de abuso de autoridade contra juízes, procuradores e promotores.
A manobra foi conduzida pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mas acabou se transformando em um fiasco. Informações que chegaram ao Planalto – muitas delas vindas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) – dão conta de que Renan, hoje réu em ação penal por peculato, será o principal alvo das manifestações deste domingo, ao lado de bandeiras pedindo o fim da corrupção.
Interlocutores de Temer disseram ao Estado, porém, que a desastrada operação do presidente do Senado provocou ainda mais repúdio da população à classe política, respingando no Planalto. O governo esperava esfriar os protestos ao anunciar posição contrária ao caixa 2, e sair das cordas com uma “agenda positiva”, mas, diante de tantos problemas, a semana serviu para elevar a temperatura da crise. De quebra, trouxe más notícias na economia, com a divulgação da sétima queda consecutiva no desempenho trimestral do Produto Interno Bruto (PIB).
Fritura- Em conversas reservadas, auxiliares de Temer também identificaram um movimento do PSDB para “fritar” Meirelles, cobrando resultados mais rápidos na economia, que enfrenta a mais profunda recessão dos últimos anos. Não é à toa que, com tanta pressão, Temer confidenciou a amigos que ampliará o espaço do PSDB no governo, na reforma da equipe planejada para 2017. “Nós conversamos com o presidente e dissemos que o que mais nos preocupa é o desemprego. Mas não tem nada dessa história de enfraquecer Meirelles”, afirmou o senador José Aníbal (PSDB-SP).
Pesquisas em poder do Planalto indicam que o desemprego, a falta de dinheiro e a revolta com os malfeitos na política são os “gatilhos” que jogam combustível nas manifestações de rua e podem impulsionar o “Fora, Temer”.
Sob ameaça das delações de executivos da empreiteira Odebrecht – que fecharam acordo com a força-tarefa da Operação Lava Jato –, o governo avalia que o atual cenário de instabilidade deixa o país à beira de uma crise institucional.
Há também apreensão com novos atos de vandalismo. Na terça-feira (29), por exemplo, a Esplanada dos Ministérios se transformou em uma praça de guerra, com depredação de prédios públicos e até carros queimados, durante protesto contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita os gastos públicos, aprovada naquele dia pelo Senado, em primeiro turno de votação.
“O uso do direito de manifestação não autoriza o abuso de outros direitos”, afirmou o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen. “Os cidadãos de bem, que querem se manifestar pacificamente, não podem ser impedidos por pessoas que têm como única causa a violência.” O general disse que haverá reforço de segurança neste domingo em toda a Esplanada.
Marca- O desafio de Temer, agora, é impedir que a turbulência política contamine ainda mais a economia. Nem mesmo a demissão de Geddel Vieira Lima da Secretaria de Governo abafou a crise. Geddel deixou o cargo no dia 25, depois de o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero acusá-lo de interferir indevidamente para mudar decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que embargou a construção do prédio La Vue, nos arredores de área tombada, em Salvador.
O articulador político baiano foi o sexto ministro a cair, em seis meses de um governo em busca de uma marca administrativa.
Mais notícias
-
Política
22h00 de 29 de abril de 2024
Eduardo Bolsonaro entrega medalha de ‘imbrochável’ para primeiro-ministro
A moeda foi entregue durante a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) Hungria, um dos principais eventos conservadores da Hungria
-
Política
21h00 de 29 de abril de 2024
Após jantar de Lula com STF, Girão cobra Senado sobre independência entre poderes
"Fica aquela pergunta: onde é que está a independência entre os Poderes?", questionou o senador Eduardo Girão (Novo-CE)
-
Política
20h50 de 29 de abril de 2024
Presidente da CMS participa da posse de presidente do TRE
O vereador Carlos Muniz (PSDB) destacou a importância de estreitar as relações da Casa com outras esferas dos poderes públicos
-
Política
20h00 de 29 de abril de 2024
Ex-chanceler representará Lula em viagem à China
Após viagem a Rússia, Alemanha e França, Celso Amorim vai à China no final de maio
-
Política
19h48 de 29 de abril de 2024
Ministra defende retomada do PL das Fake News que foi engavetado por Arthur Lira
Ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação defende necessidade de regulamentação das redes sociais
-
Política
19h24 de 29 de abril de 2024
Prazo para tirar título eleitoral termina em 8 de maio
Para tirar primeiro título é preciso comparecer ao cartório eleitoral
-
Política
18h26 de 29 de abril de 2024
Depois da Rússia, chanceler informal de Lula irá à China, afirma coluna
Entre os dias 20 e 29 de maio, Celso Amorim terá reuniões oficiais em Pequim e Xangai
-
Política
18h21 de 29 de abril de 2024
Nervos se afloram na Câmara ao debaterem paralisação de rodoviários nesta segunda (29)
A confusão foi protagonizada por Cláudio Tinoco e Tiago Ferreira, ao discordarem sobre como os rodoviários estão tratando a questão
-
Política
17h50 de 29 de abril de 2024
Tribunal multa em R$ 17 mil prefeito que usou carro oficial para carnaval na Bahia
Alexandre de Siqueira Braga (PSD) teria sido preso pela Polícia Federal, em fevereiro, após utilizar veículos oficiais em benefício pessoal
-
Política
17h43 de 29 de abril de 2024
Em Brasília, presidente da FECBAHIA defende a desoneração da folha de pagamento
Para Thiancle Araújo, a desoneração da folha de pagamento é uma conquista fundamental, pois significa mais recursos disponíveis para investimentos na educação, pavimentação e saúde