Ex-gerente do Ibama dava ‘cobertura’ ao maior desmatador da Amazônia
Esquema movimentou pelo menos R$ 1,9 bilhão entre os anos de 2012 e 2015
O grupo acusado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e pelo Ministério Público Federal (MPF) por ações de desmatamento de extensões quilométricas na Amazônia agiu durante muito tempo com ampla facilidade pois, além de tecnologia de ponta, recebia informação privilegiada de um integrante do próprio Ibama, o ex-gerente da autarquia em Sinop (MT), Waldivino Gomes Silva.
As informações foram divulgadas no site da Procuradoria da República em Mato Grosso, que denunciou Waldivino e outros envolvidos no esquema de desmatamento descoberto pela Operação Rios Voadores, missão integrada da Polícia Federal, da Procuradoria e do Ibama.
Segundo a Procuradoria, o ex-gerente alertava o grupo de Antônio José Junqueira Vilela Filho, o ‘AJ Vilela’ ou ‘Jotinha’, sobre as operações de fiscalização ambiental que seriam realizadas pelo Ibama. Se os desmatadores tivessem bens apreendidos, Waldivino liberava esse patrimônio ‘por meio de fraudes’, denunciou o Ministério Público Federal.
A denúncia por desmatamento e corrupção envolve Waldivino, ‘AJ Vilela’ – apontado como ‘mandante e financiador do esquema’-, dois executores dos crimes, além da mulher do ex-gerente do Ibama, Obalúcia Alves de Sousa.
Segundo a Procuradoria, Obalúcia ‘recebia os recursos obtidos com o desmatamento e atuava para dificultar o rastreamento desse dinheiro’.
Ao todo, o Ministério Público Federal ingressou com uma série de oito ações judiciais contra o grupo. Na região de Sinop, ainda segundo a Procuradoria, o grupo desmatou três quilômetros quadrados de floresta. Em Altamira (PA), a devastação provocada por ‘AJ Vilela’ e seus liderados chegou a 330 quilômetros quadrados de mata nativa.
Comprovantes – A participação de Waldivino Silva e da mulher foi descoberta pela força-tarefa da Operação Rios Voadores durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão em uma empresa de máquinas em Sinop. No local foi apreendido comprovante de depósito bancário em nome de Obalúcia, que tem empresa cadastrada na Receita Federal cujo endereço de correio eletrônico está em nome do marido.
Por meio de interceptações telefônicas a equipe de investigação comprovou que o grupo de ‘AJ Vilela’ recebia informação privilegiada sobre as fiscalizações, ‘e atuava de acordo com esses alertas’. “Certamente, esse tipo de informação só poderia vir de alguém do próprio órgão ambiental que possuísse cargo de chefia”, destaca a denúncia do Ministério Público Federal.
Fraudes – O ex-gerente do Ibama também ajudava o grupo criminoso cometendo ilegalidades na condução de procedimentos administrativos do órgão ambiental, assinala a denúncia.
Tratores, correntões e combustível apreendidos em ações de fiscalização, por exemplo, foram devolvidos ao grupo de ‘AJ Vilela’ com base em decisão de Waldivino não inserida no procedimento administrativo e não comunicada ao núcleo de instrução processual da autarquia, o que levou a Procuradoria a denunciá-lo formalmente também por sonegação de documento.
Somadas às ações ajuizadas após a Operação Rios Voadores, de junho deste ano, o Ministério Público Federal encaminhou à Justiça Federal em Altamira cinco denúncias criminais, duas ações civis públicas ambientais – uma delas com bloqueio de bens já decretado no valor de R$ 420 milhões – e uma ação civil pública por improbidade administrativa.
Segundo a Procuradoria e o Ibama, o grupo é responsável pelo desmate, entre 2012 e 2015, de 330 quilômetros quadrados de florestas em Altamira. A área é equivalente ao território de municípios como Fortaleza, Belo Horizonte ou Recife. O esquema movimentou pelo menos R$ 1,9 bilhão.
Com um total de 24 acusados, as ações tratam de crimes de submissão de trabalhadores a condições semelhantes às de escravos, frustração de direitos trabalhistas, falsidade ideológica, invasão e desmate ilegal de terras públicas, provocação de incêndios, impedimento da regeneração de florestas, corrupção ativa e passiva, sonegação de documentos, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro, além de improbidade administrativa e responsabilização por danos ambientais.
Os acusados estão sujeitos a penas de até 238 anos de prisão, multas, pagamento de R$ 503 milhões em prejuízos ambientais, recuperação da área ilegalmente desmatada, demolição de edificações construídas em áreas irregulares, e proibição, por até dez anos, de acessar linhas de financiamento ou benefícios fiscais oferecidos pelo poder público.
A reportagem tentou contato com os defensores do ex-gerente do Ibama em Sinop e de ‘AJ Vilela’, mas eles não foram localizados. O espaço está aberto para suas manifestações.
Mais notícias
-
Brasil
21h00 de 28 de março de 2024
Casos de síndrome respiratória aguda grave seguem em alta no país
Os dados estão no boletim InfoGripe da Fiocruz
-
Brasil
20h40 de 28 de março de 2024
Insegurança nas ruas à noite cresce e alcança 2 de cada 3 brasileiros, diz Datafolha
O Datafolha ouviu 2.002 pessoas com mais de 16 anos em todo o país nos dias 19 e 20 de março
-
Brasil
20h00 de 28 de março de 2024
MEC notifica universidades que têm cursos de medicina sem autorização
Instituições deverão suspender a oferta de vagas imediatamente
-
Brasil
19h31 de 28 de março de 2024
Representantes da ABIH-BA vão à Brasília em defesa ao Perse
Presidente da entidade convoca todo o setor para se unir em defesa do Programa Emergencial de Recuperação do Setor de Eventos
-
Brasil
14h51 de 28 de março de 2024
Receita Federal apreende 1,3 tonelada de cocaína no Rio
Carga foi avaliada em R$ 330 milhões e ia para a Bélgica
-
Brasil
13h40 de 28 de março de 2024
PF busca suspeito de criar perfil falso de Lewandowski em rede social
Operação Inverídico acontece em Osasco
-
Brasil
12h31 de 28 de março de 2024
Pesquisa aponta que 2 a cada 3 brasileiros se dizem inseguros à noite nas ruas
Segundo o Datafolha, aumenta a proporção de quem afirma se sentir 'muito inseguras' em suas cidades, principalmente nas regiões metropolitanas
-
Brasil
09h54 de 28 de março de 2024
PF busca suspeito de criar perfil falso de Lewandowski em rede social
Operação Inverídico é realizada em Osasco (SP), nesta quinta-feira (28)
-
Brasil
07h55 de 28 de março de 2024
Caixa começa a oferecer financiamentos com FGTS Futuro em abril
O banco confirmou que iniciará as operações dessa modalidade de crédito nas duas próximas semanas
-
Brasil
22h20 de 27 de março de 2024
Casamentos entre pessoas do mesmo sexo batem recorde em 2022
Registros sobem 19,8% em relação a 2021 e representam 1,1% do total