Novos Baianos encerram programação de reinauguração da Concha Acústica
A festa de reabertura do espaço reuniu mais de 25 atrações musicais e de diversas linguagens artísticas em três dias de celebração
Quando a cantora baiana Maria Bethânia soltou a voz, na noite de sexta-feira (13), na Concha Acústica do Teatro Castro Alves (TCA), foi dada a largada do festival “Eu sou a Concha”, uma maratona de 25 atracões musicais e de outras linguagens artísticas que se revezaram no palco durante três dias comemorando a reinauguração do espaço.
Totalmente recuperada, ampliada e modernizada pelo governo baiano, num investimento de R$ 80 milhões e aporte de mais R$ 10 milhões do Ministério da Cultura, a Concha permaneceu fechada desde 2013, quando começaram as obras de requalificação do equipamento que se estenderam por dois anos e três meses.
Segundo o diretor do TCA, Moacyr Gramacho, a requalificação da Concha valoriza as produções e o próprio público, oferecendo mais conforto, segurança e acessibilidade para todos. Gramacho ressalta que, mesmo com todas as intervenções realizadas, o projeto preservou a ”alma e o espírito da Concha”. Exemplo: foram conservadas a arquibancada e a estrutura do palco (chamada de “diamante”), originais dos anos 1950 e tombadas nacionalmente como arquitetura moderna. ”Mas o entorno mudou muito, cresceu bastante, pois um dos maiores investimentos que fizemos foi em tecnologia”, diz Gramacho.
Apesar de reformada e modernizada, abrindo espaço para a tecnologia, características originais, como o formato de semiarena ao ar livre, foram mantidas. Com capacidade de lotação de 5 mil lugares, as arquibancadas foram recuperadas, oferecendo mais conforto ao público. A Concha ganhou camarotes e camarins e uma nova cobertura, denominada de passarela técnica, por seu formato plano e de fácil acesso.
O projeto desenvolvido pelo escritório paulista Estúdio América, vencedor do concurso público nacional realizado em 2009/2010, buscou atuar com foco na preservação dos valores arquitetônicos originais do TCA, complexo tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (Iphan).
Todo o projeto contemplou dois tempos — o antigo e o novo —, respaldando o espaço como um importante patrimônio nacional que, apesar de estar próximo ao cinquentenário de existência (a ser celebrado em 2017), preserva o aspecto contemporâneo de uma arquitetura arrojada que se destacada nacional e internacionalmente, merecedora de menção na Bienal do Teatro de São Paulo.
Novas intervenções – A requalificação do complexo do TCA ainda não se encerrou. As etapas seguintes vão contemplar todo o prédio já existente composto por Sala Principal, Sala do Coro, espaços administrativos, salas de ensaio, restaurante. O próximo foco de intervenção será a Sala do Coro e seus acessos, proporcionando mais versatilidade cênica.
Estão previstas intervenções na acústica e técnica da Sala Principal e dos espaços anexos (foyer, jardim suspenso, restaurante e bilheteria). O projeto prevê ainda construção e consolidação do Centro de Referência em Engenharia do Espetáculo (CREE), laboratório cenográfico, biblioteca especializada, sala para cursos e palestras, adequação e ampliação das instalações de serralheria, carpintaria, canteiro, costura e adereços e acervo de figurino. Uma Sala de Cinema, com 150 lugares, deve completar as intervenções no complexo.
A história da Concha Acústica não pode ser desvinculada da do Teatro Castro Alves, patrimônio tombado pelo Iphan em 2014, o que significou uma enorme conquista para o povo baiano, e reforça a importância do complexo TCA não apenas para a Bahia, mas para o país.
Mesmo tendo sido inaugurada pela primeira vez em 1967, a Concha Acústica teve sua história iniciada em julho de 1958, quando o grande anfiteatro em forma de semiarena passou a servir de palco a diversos eventos culturais de Salvador, como festivais de música estudantil, shows de artistas da música popular brasileira, transmissão de programas de TV ao vivo, projetos culturais populares, entre outras atividades que movimentavam a Concha, mantendo a efervescência cultural de Salvador.
Enquanto a Concha explodia em atividades, a Sala Principal do TCA, totalmente destruída pelo fogo cinco dias antes da inauguração do complexo, amargava um longo período de reconstrução, que durou quase dez anos – de 1958 a 1967 -, ano em que foi inaugurado o “Complexo Teatro Castro Alves”, numa solenidade presidida pelo então governador Lomanto Júnior, na presença do presidente da República da época, Humberto Castelo Branco.
No final da década de 1960 e nos anos 1970, a Bahia vivia uma explosão cultural sem dimensões com a introdução de movimentos como a Tropicália e a Bossa Nova. A música se destacava com o surgimento de artistas que revolucionaram os cenários local e nacional a exemplo de João Gilberto, Raul Seixas, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Tom Zé, Novos Baianos, entre tantos outros.
Espaço democrático – Foi a época dos grandes festivais de música. A partir de 1967, os eventos musicais tomaram conta da Concha, que abrigava shows que abalaram seu palco e marcaram sua história. Na década de 1970, a Concha se consolidou como o grande espaço cultural alternativo de Salvador, com shows que marcaram a história da Música Popular Brasileira (MPB). Além de ser um espaço garantido da MPB, a Concha foi palco de apresentações de músicos internacionais e de espetáculos de teatro, ópera, concertos sinfônicos e até circo.
É quase impossível identificar um artista da época que não tenha realizado um show na Concha do TCA, espaço que abrigou projetos como o “Pixinguinha”, “Seis e Meia”, “Sua Nota é um Show” e tantos outros que popularizaram os espetáculos musicais e as apresentações de outras linguagens artísticas, possibilitando o acesso de um público desacostumado a frequentar eventos culturais, especialmente por questões financeiras.
A Concha também foi o espaço cativo de jovens que não se contentavam em ouvir e apreciar os espetáculos, mas queriam fazer parte deles. A interação que a Concha permite do artista com a plateia caiu no gosto da juventude que que lotava o espaço para reverenciar seus ídolos.
Incontáveis artistas marcaram sua carreira na Concha Acústica de Salvador, como João Gilberto, o inventor da Bossa Nova, que fez o show de reinauguração da Concha, em 1988. Os Novos Baianos, Luís Gonzaga, a família Caymmi, os roqueiros Rita Lee, Lulu Santos, Titãs e Raul Seixas. Os criadores da Tropicália, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Tom Zé. O irreverente Ney Matogrosso, o Rei do Forró Dominguinhos; Wanderléa, a Namoradinha da Jovem Guarda; Carlinhos Brown e muitos outros.
Foram tantos que a listagem é quase impossível. Até o Rei Roberto Carlos deixou sua marca no palco da Concha. Mas a recordista é a cantora Margareth Menezes, que contabiliza 40 apresentações. Ela voltou ao palco da Concha, na sexta-feira (13), num encontro com Maria Bethânia.
A Concha Acústica do TCA sempre foi espaço cativo dos artistas populares, mas, democrático como é, não deixou de receber apresentações da música erudita, como a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), sob a regência do maestro John Neschling, o Núcleo de Orquestras Juvenis da Bahia (Neojiba), sob regência de Ricardo Castro, e a Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba), com diversos regentes convidados.
Para os artistas brasileiros, especialmente os baianos, se apresentar na Concha sempre foi uma “questão de honra”. Mas o lugar também serviu de palco para a apresentação de atrações internacionais, a exemplo do cantor Manu Chao, o Circo Nacional da China e o grupo japonês Kodo, com seus tambores gigantes.
Reaberta ao público em 13 de maio, dia em que foi assinada a Lei Áurea que aboliu a escravidão no Brasil, a Concha Acústica do TCA tem festa de reinauguração até este domingo (15). Para encerrar a programação, o show “Acabou Chorare”, que marca o retorno dos Novos Baianos, cujos integrantes – Paulinho Boca de Cantor, Moraes Moreira, Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Dadi e Luiz Galvão – não se apresentavam juntos há 17 anos. A formação original do grupo se reúne para encerrar o festival “Eu Sou a Concha”.
O show “Acabou Chorare” é inspirado no disco mais famosos dos Novos Baianos, de 1972, considerado pela crítica especializada como um dos melhores álbuns de todos os tempos produzidos no Brasil.
O reencontro do grupo levou a uma grande procura de ingressos para o show que se esgotaram em menos de duas horas. Os Novos Baianos prometem reviver grandes sucessos de sua carreira, como O Mistério do Planeta e A Menina Dança. O festival “Eu Sou a Concha” tem transmissão exclusiva da TVE Bahia e TV Brasil.
Além do show do famoso grupo, a programação, que se inicia às 19h, prevê abertura com espetáculos do Balé Teatro Castro Alves (BTCA) e da Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba).
Festival gastronômico – Neste último dia de festa para comemorar a reabertura da Concha Acústica, acontece das 11h às 17h, na nova Esplanada do Teatro Castro Alves (TCA) – área de 2.600 m² localizada no nível mais alto do estacionamento construído no complexo cultural –, evento gastronômico, com presença de food trucks, uma unidade do projeto Biblioteca Móvel, da Fundação Pedro Calmon (FPC), e ainda uma apresentação da Orquestra Sinfônica da Bahia.
A atividade, aberta ao público, marca a estreia desse novo espaço como mais uma área para a realização de eventos no TCA e acolhe parte do público que não conseguiu comprar ingressos para os shows de reabertura da nova Concha Acústica, além dos que garantiram suas entradas, mas planejam chegar ao local mais cedo.
Para completar a programação, às 16h30, a Orquestra Sinfônica da Bahia realiza um concerto especial no evento. Promovido pelo governo da Bahia, o festival “Eu sou a Concha” conta com o patrocínio da Coelba, Banco do Brasil e Água de Coco Obrigado.
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