Evo Morales reconhece primeira derrota nas urnas em dez anos
Em votação apertada, no domingo (21), eleitores bolivianos rejeitaram proposta de reforma constitucional que permitiria ao presidente disputar um quarto mandato
O presidente da Bolívia, Evo Morales, reconheceu nesta quarta-feira (24) a primeira derrota nas urnas em dez anos de governo e prometeu respeitar os resultados do referendo realizado há três dias.
No domingo (21), os eleitores bolivianos foram às urnas para votar na reforma constitucional proposta pelo governo, que permitiria a Evo Morales disputar um quarto mandato consecutivo em 2019. A maioria votou contra.
A votação foi apertada e o Tribunal Supremo Eleitoral demorou três dias em concluir a contagem. Com 99,8% dos votos apurados, a vitória da oposição foi confirmada por uma estreita margem: 51,3% dos eleitores votaram “Não”, contra os 48,7% que optaram pelo “Sim”.
Nesta quarta, Evo Morales criticou o que chamou de campanha suja da oposição, mas não questionou os resultados. O presidente lembrou que, mesmo derrotado, tem um índice de popularidade alto (50%) e quatro anos de governo, para continuar implementando suas politicas. O terceiro – e atual – mandato termina em 2020.
Primeiro presidente indígena da Bolívia, Evo chegou ao poder em 2006, com a promessa de uma revolução socialista, para acabar com a pobreza e a discriminação. Mal assumiu, o ex-líder sindical dos cultivadores de coca estatizou os recursos naturais e investiu em infraestrutura e educação.
Em uma década, ele eliminou o analfabetismo e viu a economia crescer em média 5% ao ano – um desempenho elogiado pelo Fundo Monetário Internacional, que ele tanto critica.
Com o argumento de que seria preciso mais tempo para consolidar o processo revolucionário, o governo propôs reformar a Constituição. Mas a oposição reagiu, argumentando que a falta de alternância política é sinônimo de autoritarismo.
Contribuíram para a derrota de Evo Morales, a morte de seis pessoas em um protesto e o aparecimento de denúncias, nas redes sociais, de que ele teria favorecido uma ex-namorada, com a concessão de contratos governamentais.
Evo – que tem 56 anos e é solteiro – reconheceu ter tido um filho com a empresária Gabriela Zapata em 2007, e que a criança morreu. Mas ele negou as acusações de que teria outorgado contratos governamentais à empresa chinesa para a qual ela trabalha, a fim de beneficiá-la. Segundo Evo, as denúncias não comprovadas são parte de uma campanha suja da direita para destruir sua imagem.
“Perdemos a batalha, mas não a guerra”, disse o presidente, ao prometer continuar com seu programa de governo até 2020. Evo não quis responder às perguntas sobre quem vai ser o candidato de seu partido, Movimento ao Socialismo, nas eleições presidenciais de 2019. “É muito cedo para falar disso”, respondeu o presidente.
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